11 Março 2025
Ascensão de católico ultraconservador foi absorvida pelo debate político com influenciadores e lideranças da direita dizendo que ataques a ele são ação anticristã de esquerdistas; governistas espalharam que Frei Gilson quer fazer fiéis cultuarem Bolsonaro em vez de Cristo
A reportagem é de Vinícius Valfré, publicada pelo Estadão, 10-03-2025.
Um religioso da ala ultraconservadora da Igreja Católica considerado um popstar, com milhões de seguidores nas redes sociais, foi tragado para a polarização do debate político nacional. Gilson da Silva Pupo Azevedo, o frei Gilson, entrou em evidência depois de reunir mais de 1 milhão de fiéis em uma live na madrugada de quarta-feira, 5, início do período da Quaresma para os católicos.
Com a ascensão do religioso e a proliferação de recortes de trechos de suas pregações, movimentos políticos conservadores se associaram ao frade de 38 anos que é membro da congregação Carmelitas Mensageiros do Espírito Santo. Ele lidera o grupo de evangelização musical Som do Monte e é próximo da Canção Nova, uma rede conservadora do catolicismo no Brasil. No YouTube, tem 6,4 milhões de seguidores. No Instagram, mais 7,3 milhões.
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), primeiro, publicou uma foto de frei Gilson em seu perfil oficial no X (antigo Twitter) neste domingo, 9, sem nenhum comentário. A iniciativa foi vista como endosso do político denunciado por tentar um golpe de Estado armado e foi seguida por centenas de comentários alegando perseguição política ao padre pela esquerda. Mais tarde, Bolsonaro escreveu que o católico “se apresenta como um fenômeno em oração, juntando milhões pela palavra do Criador” e por isso “vem sendo atacado pela esquerda”.
Evangélico, o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), um dos parlamentares com maior alcance nas redes sociais, também saiu em defesa de frei Gilson neste domingo e publicou vídeo prestando solidariedade aos católicos.
“Começaram diversos ataques. Para quem é cristão, isso é algo natural, ser atacado por seguir a Cristo. Óbvio que por ele ser católico e eu ser evangélico temos nossas divergências teológicas. Mas conheci pessoalmente, é uma pessoa extraordinária”, disse o deputado. “Quão deteriorada tem que ser a alma de uma pessoa que está reclamando porque tem pessoas rezando às 4 da manhã.”
A militância digital do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de fato, entrou em campanha contra o ultraconservador católico. O grupo “Militância Raiz”, do Telegram, que reúne influenciadores governistas e petistas que atuam para defender o governo e atacar adversários com informações falsas ou distorcidas, publicou, no sábado, 8, que os objetivos de frei Gilson são meramente bolsonaristas.
A campanha foi disseminada como um “alerta total”. O religioso, na versão da militância governista, seria uma figura usada pelo canal Brasil Paralelo, conhecido por defender Bolsonaro e por revisionismo da História, para “tomar a Igreja Católica”. Fenômeno de audiência, Gilson deu uma entrevista ao canal em outubro que atraiu meio milhão de pessoas.
“Vocês já ouviram falar nesse tal frei Gilson? Ele é a aposta da Brasil Paralelo, produtora bolsonarista, pra TOMAR A IGREJA CATÓLICA, deixar de cultuar a Cristo e passar a cultuar o Bolsonaro”, diz a publicação no grupo “Militância Raiz”.
“Aos familiares e amigos bolsonaristas, nem adianta avisar, mas aos familiares de boa-fé, precisamos alertar para se manterem longe desse sujeito. Posso contar com vocês para divulgar por todos os cantos? A extrema direita não vai tomar a Igreja Católica”, finaliza.
Essa estratégia, entretanto, desagrada outra ala lulista. Há quem defenda que comprar briga com o religioso é um erro crasso, sobretudo pela dificuldade do governo em falar com segmentos evangélicos e mais conservadores.
O deputado André Janones (Avante-MG) verbalizou a crítica neste domingo.
A íntegra da reportagem pode ser lida aqui.