11 Março 2025
"Mesmo convalescente, Francisco é o papa do caminhar juntos. E segue com suas reformas e inovações: nada de segredos com a saúde do pontífice. E até mesmo o funeral, quando chegar o dia, será o primeiro sem pompas pontifícias", escreve Vitor Hugo Mendes, em artigo enviado ao Instituto Humanitas Unisinos — IHU, 08-03-2025.
Vitor Hugo Mendes é presbítero da Diocese de Lages. Doutor em Educação (UFRGS), doutor em Teologia (Salamanca/Espanha), pós-doutor em Pensamento Ibérico e Latino-americano e também em Educação. Atua como orientador de retiros, conferencista, assessor e consultor em temas de Teologia, Pastoral, Espiritualidade, Educação e Psicopedagogia. Especialista em Pastoral Urbana. Autor do livro, em dois volumes, Liberación, um balance histórico bajo el influjo de Aparecida y Laudato si’. El aporte latinoamericano de Francisco, 2021 (Appris/Amerindia), que versa sobre a Teologia Latino-americana e o Magistério do Papa Francisco.
Quem me conhece sabe disso, nunca fui tão “papista” como agora. Tenho boas razões para isso. A principal é que sou um padre secular convertido pelo testemunho do bispo de Roma. Gentes do fim do mundo (periferia) se atraem e se entendem. Onde vou, levo Francisco. Quem me ouve, escuta Francisco. Quem ofende Francisco, me ofende. Quem me ‘chinga’, respondo com Francisco. A alegria do Evangelho: chegou com Francisco. A reforma da Igreja: é Francisco. Cuidado com a casa comum, gritou Francisco. Sinodalidade na Igreja... Coisas de Francisco. Como não caminhar juntos com o Papa Francisco??? Peregrino pelo Brasil contando a novidade que é o pontificado do papa latino-americano que se chama Francisco. Como não se encantar com Francisco??? O de Roma, argentino, sul do mundo – tanto quanto o italiano, de Assis –, transluz, sine glosa, o Evangelho vivido. Laudato si’, mi’ Signore.
Depois de tantos dias internado, já é possível vislumbrar um outro lado da situação... mesmo enfermo, hospitalizado, odiado, perseguido, mal falado... O Papa Francisco não se entrega, não ficou sozinho e nem ficou isolado. Pelo contrário, tornou-se assunto diário na imprensa internacional. A solidariedade dos não católicos tem sido imensa. O pedido do papa, rezem por mim, foi prontamente atendido. A oração por Francisco tem sido convocatória, reúne multidões (ao menos no ocidente); cardeais da Cúria romana se alternam na oração diária pelo santo padre; conferências episcopais, mesmo aquelas não alinhadas a Bergoglio, rezam pela 'saúde' do papa... São muitos a dizer: ainda estou aqui e rezo pelo Papa Francisco. E já são muitos a combater os que batalham contra Francisco.
Mesmo estando no hospital, nos bastidores, o pontificado do papa latino-americano reposiciona os núcleos de poder (pré-conclave). Para o destempero de muitos e desespero de muitos mais, com uma presença cardinalícia tão diversificada e que representa os lugares mais longínquos e periféricos da casa comum, ninguém pode prever o que pode ocorrer no futuro (conclave). Coisas de Francisco!
No silêncio do hospital Gemelli – entre o leito hospitalar, fisioterapias e visitas à capela – e nas ruas, o bispo de Roma se fortalece na saúde do corpo e do espírito. Cresce na presença pública e nos seus ensinamentos. De alguma maneira, o fenômeno Francisco continua sendo uma novidade que satisfaz alguns e incomoda a outros. De toda maneira, o papa idoso, na sabedoria de abuelo, é presença, lucidez, discrição, fragilidade, tranquilidade, luta incansável no combate vida-morte-Vida. Sua recente mensagem de voz (06/03), quase sem voz, comoveu a todos: “Agradeço de todo coração as orações pela minha saúde feita na Praça, os acompanho daqui. Que Deus os abençoe e que a Virgem os proteja. Obrigado”.
É inegável o testemunho de fé e de trabalho do papa que nunca se deu o direito a fazer férias. “Enquanto descansa, puxa pedras”, como diz o ditado e o povão que nunca descansa. Assim sossega o Peregrino da Esperança.
Quem poderá esquecer, na época da pandemia (2020), a imagem daquele homem de branco caminhando sozinho pela praça de São Pedro vazia e isolada, e sua benção urbi et orbe (para a cidade e para o mundo)? Suplicou pela nossa humanidade: "Senhor, não nos abandone" diante de uma "tormenta inesperada e furiosa", e conclamou todos e todas a “remarem juntos”.
Mesmo convalescente, Francisco é o papa do caminhar juntos. E segue com suas reformas e inovações: nada de segredos com a saúde do pontífice. E até mesmo o funeral, quando chegar o dia, será o primeiro sem pompas pontifícias.
Tinha razão Dilma Rousseff, a primeira Chefe de Estado a ser recebida pelo Papa Francisco depois de sua ‘entronização’ (2013): “ele é várias coisas o primeiro... primeiro Francisco, primeiro jesuíta, primeiro latino-americano, primeiro argentino [...] ele é um papa muito normal”.
Francisco de Roma é mais um francisco de assis. A cada 800 anos ressurge outro; uma vida vivida em minúsculas e que para sempre será escrita em maiúsculas. Francisco é Francisco. Vida longa ao bispo de Roma!