26 Fevereiro 2025
"Portanto: os ucranianos, os refugiados e os que ficaram para trás nas cidades bombardeadas e destruídas e, acima de tudo, os soldados nas trincheiras. É deles que devemos partir, a eles pertence totalmente este enésimo aniversário. A eles se devem explicações, nós, no Ocidente, devemos explicações", escreve Domenico Quirico, jornalista italiano, em artigo publicado por La Stampa, 24-02-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Como recapitular três anos de guerra? Não seria justo esperar que ela acabe, agora que todos têm certeza de que ela terminará, e até mesmo aqueles que a consideram uma conclusão inaceitável, uma derrota da justiça e do direito? Trump... é tudo mérito de Trump... é tudo culpa de Trump.... era preciso Trump... Trump traiu... Trump e as terras raras... Trump, o comerciante... Posso sentir o cheiro ruim que emana daqueles que já estão se preparando para voltar, como se nada tivesse acontecido, ao mundo de ontem. Para redirecionar os oleodutos. Para abastecer, depois dos arsenais agora garantidos pelos planos de “rearmamento de qualquer maneira”, o grande negócio da reconstrução, do fim das sanções, dos gordos mercados do luxo. E os mortos?
Relembrar uma guerra, honrar o aniversário, enquanto ainda se combate em um frenesi desesperado e extremo, significa assumir um compromisso, concluir um pacto especial com os fatos, implica uma promessa, uma disposição de avaliar tudo, registrar tudo, não esconder ou omitir nada. Até mesmo já classificar vencedores e perdedores com um rigor quase aristotélico. Será que sou capaz disso? Será que somos capazes disso? Quando a história, mais que uma tentativa de registrar e compreender, torna-se o hábito de reordenar fatos inconvenientes, ela já está em processo de esquecimento. Como todo mundo, exceto os mentirosos, os aproveitadores, os fanáticos, nesses três anos eu procurei o fio de Ariadne desse massacre, às vezes encontrando-o, às vezes não encontrando nada, apenas tragédia e inutilidade.
E essa desorientação era a única atitude honesta em relação àqueles que, em um campo e em outro, pregavam como tudo terminaria. Como muitos outros, deixei meus pensamentos vaguearem para me trazer de volta uma migalha pura de dor ou de esperança.
O tempo deveria ser parado. Sim. Às vezes é preciso tentar, mesmo que seja em vão. Exatamente: às vezes é preciso tentar justamente porque é em vão. Pelo fato de um evento ser desprovido de sentido, uma guerra inútil em que todos saem perdedores, é preciso lhe dar um. Como o futuro nos escapa, é preciso criá-lo.
Portanto: os ucranianos, os refugiados e os que ficaram para trás nas cidades bombardeadas e destruídas e, acima de tudo, os soldados nas trincheiras. É deles que devemos partir, a eles pertence totalmente este enésimo aniversário. A eles se devem explicações, nós, no Ocidente, devemos explicações. Por exemplo: por que o Ocidente, que até um mês atrás garantia a uma só voz que os acompanharia até a “paz justa”, agora está dividido; e a única parte que conta, os EUA versão Trump, troca sorrisos, promessas e dita condições sentado à mesa com o invasor?
Os líderes da UE irão a Kiev no dia do aniversário para instruir, confirmar e fazer as enésimas promessas que eles sabem que não podem cumprir. Uma peregrinação de nus e impotentes que estão ansiosos para se alinharem pela enésima vez com a cambalhota estadunidense e querem estar na primeira fila para que o chefe não os renegue. Coitados. Será que eles acham que podem dar conselhos a eles, àqueles que estão encarando a morte há três anos? Durante três anos, no abrigo dos salões de Bruxelas, em intervalos com penosas viagenzinhas para tirar uma foto ao lado do astro Zelensky para fins de propaganda interna, lhes garantiram a vitória, asseguraram que as armas que forneceram ou compraram no exterior poderiam esmagar o invasor russo, os incitaram: bravos, vocês precisam ser heroicos! É como se maus advogados tivessem se apoderado de sua causa justa. Os ucranianos sabem mais do que eles sobre os mistérios da guerra, a fragilidade da existência e o fim da história. Até mesmo a menor das crianças ucranianas possui uma soma de experiência maior do que aqueles que entre eles são os mais importantes.
Deveriam deixá-los falar, os senhores da Europa, da moralidade sem poder, dos bancos, das indústrias bélicas trabalhando em plena capacidade; depois, um a um, explicar como é estar em um abrigo ou em uma trincheira enquanto a terra treme sob as bombas. E que três anos assim são um tempo infinito, um poço do qual você nunca mais volta, especialmente se você perceber que não serviu para nada. O nome do Pétain ucraniano já está sendo mencionado, um antigo herói que assinará a paz com Putin. As coisas estão se movendo rapidamente. É estranho que ninguém especule, entre as possibilidades, uma revolta violenta em Kiev contra uma Vichy ucraniana. Afinal, com três anos de atraso, um governo “maleável” era o que Putin imaginava quando atacou. Como explicar, para os senhores em Bruxelas, para aqueles que sabem e dizem em cada discurso e tuíte, pelo que se estava lutando, explicar quando você descobre que está sendo abandonado por seus aliados, que há meses se batem porque não têm outra escolha. Em uma guerra como essa, chega-se ao ponto de ir para as trincheiras não pela reconquista impossível das terras roubadas, pela democracia, pela Europa! Ou porque se odeiam os russos. Luta-se por si mesmos, pelo que resta de suas famílias e porque não há outro lugar para onde ir, lutam por medo e porque foi isso que foram forçados a fazer.
Eles sabem como se pode ficar sozinhos se decidirem não capitular. O vencido é um apestado. Amanhã, também, eles serão educados com os senhores de Bruxelas. Eles os ouvirão gentis quando disserem que estão prontos para continuar, que a guerra não está perdida, e fingirão aceitar suas promessas, para não os desagradar. É isso. Têm pena deles. Pobres coitados, eles não sabem. Eles conservarão o heroísmo de serem dóceis para quando as ordens vierem de Riad, onde seu destino será decidido.
Somente porque entenderam que, infelizmente, no final, as ordens são dadas por aqueles que têm a Força, aqueles que podem exigir tudo, fazer e desfazer tudo, e não os faladores do Bem.
A guerra é maligna e, ao se prolongar, infelizmente apaga os rastros. Bucha, quem se lembra do massacre?
O “homem procurado” prepara a viagem a Washington ou as boas-vindas ao Kremlin para o outro líder da paz. O Tribunal de Haia encerrará o processo da Ucrânia por impotência manifesta, uma motivação que não está nos pactos teóricos de Roma, mas na realidade do mundo. Quem pedirá explicações a Putin sobre essa “vitória” inútil e sangrenta serão os russos mortos e suas famílias, também em vão. Nós, europeus, aliviados, nos dedicaremos, em êxtase, a ver os índices da bolsa subirem novamente.