07 Fevereiro 2025
País tem vantagens competitivas para desenvolver uma potente indústria verde até 2050, mostra um estudo do Net Zero Industrial Policy Lab, da Universidade Johns Hopkins.
A informação é publicada por ClimaInfo, 05-02-2025.
O Brasil tem [quase] tudo para ser um líder mundial rumo a uma economia verde. A abundância de recursos naturais e uma base industrial consolidada são suas principais vantagens. No entanto, para aproveitar esse potencial e assumir tal liderança, o país precisa eliminar já lacunas em políticas públicas que podem comprometer a trajetória rumo à descarbonização econômica.
É o que mostra um estudo do Net Zero Industrial Policy Lab (NZIPL), da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, detalhado pelo Valor. Segundo os pesquisadores, o Brasil é um dos quatro países do mundo com maior capacidade de liderar a transição energética em âmbito global, ao lado de China, EUA e Rússia.
Os cientistas do NZIPL aplicaram uma metodologia própria para analisar políticas industriais verdes em diferentes nações. O estudo avaliou o panorama tecnológico e político em sete setores críticos para a economia verde global projetada para 2050. E o Brasil tem uma posição privilegiada em todos eles.
O país pode desenvolver uma potente indústria verde até 2050 por ter vantagens competitivas em minerais estratégicos; baterias; veículos elétricos híbridos com biocombustíveis; combustíveis sustentáveis para aviação; produção de equipamentos para energia eólica; aço com baixo carbono; e fertilizantes verdes – as sete áreas críticas apontadas pelo NZIPL.
Uma vantagem em relação a outros países que também têm abundante riqueza de recursos naturais é a base industrial já construída. Mas os pesquisadores da Johns Hopkins liderados por Tim Sahay, especialista em políticas climáticas e diretor do NZIPL, alertam para lacunas importantes em políticas públicas.
O relatório destaca que, apesar de promissor, o plano do governo federal, chamado Nova Indústria Brasil (NIB), são necessários de mais clareza e foco nos investimentos para alcançar impacto significativo. Os R$ 468,38 bilhões a serem alocados correm o risco de serem pulverizados em muitas prioridades.
Para evitar dispersão e manter o Brasil rumo à liderança da economia verde e da transição energética global, os pesquisadores não propõem que setores tradicionais da indústria nacional sejam abandonados no processo. Mas sugerem o “microtargeting”, ou seja, priorizar os sete setores críticos listados no estudo.
Com o que viu no NIB, Sahay disse que há sinais encorajadores de que o governo está se movendo na direção certa. Um exemplo disso é a convocação de grupos de trabalho para mapear e fortalecer as cadeias de valor.
Mas o diretor do NZIPL observa que essas iniciativas já deveriam ter sido feitas antes. “Parece já estabelecer as bases para intervenções mais direcionadas. É algo bem-vindo, mas chega um pouco tarde”, explicou Sahay. Apesar disso, ele destaca que uma integração bem-sucedida dos setores estratégicos será fundamental para projetar o Brasil ao posto real de liderança em economia verde nas próximas duas décadas.
Quanto ao efeito Trump, Sahay avalia que nem mesmo o respaldo dos EUA aos combustíveis fósseis irá interromper a transformação global. Outro possível obstáculo – a descrença do presidente da Rússia, Vladimir Putin, com as fontes renováveis, algo pouco surpreendente em se tratando de um dos maiores produtores de combustíveis fósseis do mundo – apenas tende a atrasar os dois países que podem rivalizar com o Brasil e com a China.
“Isso torna a escolha do Brasil até mais direta. É estratégico construir uma posição na economia das décadas de 2030 e 2040 em vez de insistir em ativos encalhados na velha economia. O mundo está se movendo rápido e a nova economia verde não é uma utopia colaborativa. Haverá vencedores e perdedores. Com o grande potencial que possui no novo sistema energético, os líderes do Brasil, tanto políticos quanto industriais, têm uma oportunidade única nesta geração para aproveitar”, reforçou.