10 Janeiro 2025
"Os elementos litúrgicos e celebrativos do Ano Jubilar são trabalhados na quinta reflexão (p. 149-187). Jerônimo Pereira da Silva, doutor em Liturgia salienta que as celebrações jubilares têm sempre um tríplice aspecto: litúrgico propriamente dito; jubilar, ligado à tradição própria dos Jubileus, que implicam, sobretudo celebrações penitenciais e peregrinações; e eclesial, que diz respeito a grupos específicos" escreve Eliseu Wisniewski, presbítero da Congregação da Missão (padres vicentinos) Província do Sul, mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), em resenha do livro Caminhos da Antropologia Teológica Integrada: homenagem a Alfonso García Rubio em seus 90 anos.
Na solenidade da Ascensão do Senhor do ano de 2024, o papa Francisco proclamou um novo Ano Jubilar. O pontífice anunciou oficialmente o Jubileu ordinário de 2025, com a leitura pública e a entrega da bula de proclamação do mesmo – Spes non confundit (“a esperança não engana”[Rm 5,5]) – na Basílica de São Pedro, no Vaticano. A bula, que consta de vinte e cinco números, sublinha a tradição de a cada vinte e cinco anos convocar-se um Jubileu ordinário, evidencia o tema central do que está para iniciar: a esperança. Este Ano Santo terá início na noite do Natal de 2024 e será encerrado no dia 6 de janeiro de 2026.
Inspirados na tradição bíblica, os cristãos católicos celebram há séculos os anos Jubilares, um tempo que bendiz a ação de Deus na história (aliança com seu povo) e propõe posturas ético-religiosas para a Igreja. O de 2025 é um tempo especial de graça durante o qual os homens e mulheres podem redescobrir o amor de Deus pela humanidade e seus reflexos nas relações com os irmãos.
Neste contexto se insere a obra Ano jubilar, “peregrinos da esperança”: uma visão espiritual, histórica, bíblica, pastoral e litúrgica (Paulinas, 2024, 192 p.), organizada por Reuberson Ferreira, Abimael Francisco do Nascimento, Jerônimo Pereira Silva e Ney de Souza. Segundo os organizadores esta publicação “busca ser um instrumental a serviço da celebração do Ano Jubilar. Ela é o coligido de cinco capítulos – ladrilhos de um mosaico – que apresentam uma visão ampla, difusa e profunda sobre a efeméride que a Igreja hoje é chamada a celebrar. Elementos de teologia sistemática, prática e bíblica são arrolados ao longo das seções que compõem este opúsculo. Seus autores são pesquisadores da ciência teológica, mas também homens envolvidos com a concretude pastoral da Igreja e cientes da imperiosa e urgente necessidade de bem formar o povo cristão” (p. 17).
No primeiro texto “Por uma espiritualidade do Ano Jubilar: esperançar e peregrinar” (p. 21-54), o doutor em Teologia Reuberson Ferreira propõe uma espiritualidade para o Ano Jubilar, assentada na lídima tradição bíblica, teológica e pastoral. Através da argumentação bíblica, histórica e teológica, o autor alinha elementos que, emoldurado o Ano Jubilar, convergem para uma vivência de uma espiritualidade cristã deste Jubileu, trazendo para isso, num primeiro momento a noção de espiritualidade do Jubileu que se depreende da tradição intertestamentária, teológica e histórica (p. 23-33). Na sequência, a partir do tema proposto por Francisco para este Jubileu, são apresentados elementos de uma espiritualidade de esperança (p. 33-44), e por fim, destacam-se atos/práticas religiosas que reforçam a mística que envolve o Ano Jubilar e alimenta uma espiritualidade para este tempo (p. 45-52).
Na segunda reflexão são apresentados os aspectos históricos do Jubileu (p. 55-83). Ney de Souza, pós-doutor em Teologia e doutor em História Eclesiástica expõe uma visão panorâmica da história dos anos jubilares, desenhando, para isso, a quase milenar história dos anos jubilares, destacando o contexto eclesial de cada um, desde os primeiros celebrados no século XIV (p. 56-61), no século XV (p. 61-64), no século XVI (p. 64-68), no século XVII (p. 68-70), no século XVIII (p. 70-73), no século XIX (p. 73-74), no século XX (p. 75-79), os do século XXI (p. 79-81) até o atual, convocado por Francisco (p. 80-81). Nestas páginas, o propósito do autor é o de oferecer um sintético percurso histórico sobre os Jubileus realizados ao longo dos séculos para melhor vivenciar o Jubileu anunciado pelo Papa Francisco.
Os elementos bíblicos do Jubileu são apresentados na terceira reflexão (p. 85-109). Abimael Francisco do Nascimento, doutor em Filosofia e mestre em Teologia. Considerando as particularidades do Código da Torá, expõem-se a acepção bíblica de “Jubileu” perpassando a Torá (p. 86-102) e o profeta Isaías, até chegar ao uso do termo por Jesus de Nazaré, mais especificamente no Evangelho de São Lucas, e sua implicação bíblico-teológica para o nosso tempo (p. 102-106). O autor ressalta que a fundamentação bíblica do Jubileu é demasiado ampla, mas está contemplada na prática do Jesus lucano. Com isso, compete aos discípulos viverem tal realidade, que consiste naquela conotação primeira de que a fé implica a ética. Mostra, ainda que, no preceito sabático, dia santificado e abençoado pelo Senhor, converte-se em festa litúrgica, com seu auge no Jubileu, como uma grande celebração do perdão e da reconciliação, tanto com os irmãos e irmãs quanto com a Terra. Isso, porque, segundo Nascimento a prática do Jubileu, tal como o Ano Sabático, não beneficia apenas a humanidade, mas a criação como um todo, abarcando, portanto, uma dimensão ecológica de cuidado com a Casa Comum (p. 107-108).
A dimensão pastoral do Ano Jubilar é assunto da quarta reflexão que traz como título O Ano Jubilar, o Papa Francisco e a Igreja: testemunhar a esperança (p. 111-147). Por meio da análise de documentos, falas e atos do Papa Francisco, Reuberson Ferreira, decanta qual é o significado que ele quer impingir a este primeiro Jubileu ordinário do século XXI e quais seriam as implicações teológicas da sua proposta, divisando, num primeiro momento os passos e o sentido da preparação para o Ano Jubilar (p. 113-122), pontuando o que de específico o Bispo de Roma deseja explicitar ao longo desta efeméride (p. 123-133) e, por fim, o autor apresenta algumas implicações eclesiológicas dessas proposições (p. 134-144). Ferreira defende que o sentido específico que o atual Bispo de Roma imprime a essa celebração é a convocação de todos a condividirem esforços para que o mundo marcado pelo desalento e pela dor, reviva em si a confiança na esperança. Ele sugere que esse processo seja marcado, no espírito dos Jubileus bíblicos, pela restauração da fraternidade pautada pela justiça e pela reparo de erros históricos. Advoga que a fé que sustenta a tantos seja vivida e testemunhada com intensidade, de modo a ajudar outros a encontrar centelhas de esperança (p. 144- 145).
Os elementos litúrgicos e celebrativos do Ano Jubilar são trabalhados na quinta reflexão (p. 149-187). Jerônimo Pereira da Silva, doutor em Liturgia salienta que as celebrações jubilares têm sempre um tríplice aspecto: litúrgico propriamente dito; jubilar, ligado à tradição própria dos Jubileus, que implicam, sobretudo celebrações penitenciais e peregrinações; e eclesial, que diz respeito a grupos específicos: Jubileus de padres, bispos, religiosos, jovens. O autor, levando em consideração esses três aspectos, apresenta a dimensão litúrgico-celebrativa do Jubileu tecendo comentários sobre: Os ritos de abertura e de conclusão do Ano Jubilar em Roma (p. 150-154); o rito “ordinário” de abertura da porta de uma Igreja (p. 154-155); o sentido simbólico da porta (p. 156-158). O referido autor apresenta uma breve história do rito extraordinário de abertura da porta (p. 158-162), bem como do rito de abertura e o de conclusão do Ano Jubilar nas Igrejas locais (p. 162-163), da Missa Estacional (p. 163-166); das Missas Estacionais de abertura e conclusão do Jubileu nas Igrejas particulares (p. 167-169), das Missas para o Jubileu (p. 169-172). São tecidas, ainda, considerações sobre o Ano Litúrgico e o Jubileu (p. 172-176), sobre a dimensão anamnética do Jubileu (p. 176-177), sobre as peregrinações (p. 177-178), sobre as liturgias estacionais (p. 179-180), sobre as celebrações penitenciais (p. 180-181), sobre a redescoberta do Ofício Divino (p. 182-183), sobre as têmporas e rogações (p. 183-184).
O doutor em Liturgia observa que “os atos de devoção e piedade durante o Ano Jubilar misturam-se e identificam-se de tal forma com os atos litúrgicos regulados pelos livros litúrgicos, que se tornam lugares teológicos, re-presencialização de um evento que se estendeu ao longo da história da Salvação, a qual se torna, toda ela, um Ano de Graça do Senhor” (p. 185).
Esta obra, portanto, chega à boa hora para o enriquecimento de nossa vivência jubilar permitindo-nos mergulhar profundamente neste tempo propício de graças e bênçãos especiais. São válidas as palavras do Secretário-geral da CNBB Dom Ricardo Hoepers que ao prefaciar este escrito (p. 11-13) profere: “Reconhecemos com grande apreço que os autores, ao se dedicarem a esta produção, lograram ressaltar os aspectos mais essenciais da mística jubilar, entrelaçando com maestria as dimensões espiritual, bíblica, histórica, litúrgica e pastoral, em uma extraordinária síntese dos fundamentos que nos convidam a vivenciar este tempo de graça e misericórdia oferecido pelo Jubileu. Indubitavelmente, as reflexões contidas nesta obra são também um farol de esperança, contribuindo para um aprofundamento da consciência do sentido genuíno de nossa pertença à Igreja. Quanto mais nos adentrarmos na mística do ano jubilar, com mais vigor celebraremos a grandiosa festa do mistério da Redenção, que, a cada vinte e cinco anos, a Igreja nos convida a rememorar: a salvação de Jesus Cristo em favor da humanidade” (p. 12).
Estamos certos de que, através deste valioso instrumento pastoral escrito por competentes autores poderemos entender e vivenciar melhor este Ano Jubilar. Certamente a leitura destas páginas levará não somente a refletir sobre a importância da redescoberta da esperança, mas será um incentivo para que se passe para a vida cotidiana de cada cristão batizado na sua responsabilidade de tornar crível o Evangelho. Como disse o Papa Francisco na bula de convocação deste Jubileu “a experiência viva do amor de Deus, que desperta no coração a esperança segura da salvação em Cristo” (n. 6), esperando contribuir para “reencontrar a confiança necessária tanto na Igreja como na sociedade, no relacionamento interpessoal, nas relações internacionais, na promoção da dignidade de cada pessoa e no respeito pela criação. Que o testemunho crente seja fermento de esperança genuína no mundo, anúncio de novos céus e nova terra, onde habite a justiça e a harmonia entre os povos, visando à realização da promessa do Senhor” (n. 25).
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Ano Jubilar: peregrinos da esperança. Artigo de Eliseu Wisniewski - Instituto Humanitas Unisinos - IHU