15 Abril 2024
A reportagem é de Luis Miguel Modino, publicada por Religión Digital, 12-04-2024.
Tornou-se costume a análise da conjuntura social e eclesial no início dos trabalhos das assembleias da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, análise que visa ajudar a construir as Diretrizes da Ação Evangelizadora da CNBB, pauta principal da 61ª Assembleia Geral, a ser realizada em Aparecida, de 10 a 19 de abril de 2024. Analisar uma realidade tão vasta nunca foi fácil, menos ainda na complexidade atual de uma sociedade onde "todos os fenômenos estão interligados como uma grande teia".
Uma sociedade dividida, marcada pelo ódio na sociedade e na política, inclusive na Igreja, que vive uma mudança de época que exige "construir novas estruturas de análise social". Esse é o objetivo do Grupo de Análise de Conjuntura da CNBB - Padre Thierry Linard, que tem procurado produzir "uma radiografia do mundo, da América Latina e do Brasil", para que os bispos tenham uma compreensão mais profunda da realidade, segundo o bispo de Carolina e coordenador do grupo, Dom Francisco Lima Soares.
Estamos diante de uma realidade que exige "uma compreensão da reconfiguração histórica da visão de mundo", especialmente em uma situação em que "os cidadãos estão sujeitos a um bombardeio constante de informações e desinformações". No mundo atual, os desastres naturais são cada vez mais frequentes e, no Brasil, faltam políticas públicas para lidar com eles, enquanto as guerras têm um impacto negativo na situação econômica, o que exige "estratégias econômicas transformadoras". A previsão é de baixo crescimento econômico na América Latina e no mundo como um todo, e "as pessoas demonstram esperança negativa em relação ao futuro".
Na frente política, a América Latina, que desempenha um papel limitado no cenário mundial, está passando por uma profunda instabilidade, que está aumentando em vista das eleições que ocorrerão em vários países nos próximos meses. Isso é acompanhado por um enfraquecimento da democracia, sociedades divididas e uma crise de projetos, o que mostra a importância de construir espaços de resistência. No mundo atual, a polarização, que no Brasil encontrou terreno fértil até na Igreja, e o identitarismo ou sectarismo estão em alta, levando à criação de "uma política de exclusão e antagonismo, que impede o diálogo e a superação das diferenças", o que transformou adversários em inimigos.
De acordo com a análise da situação social, é necessário refletir sobre as redes sociais e as novas tecnologias e os desafios da liberdade, pois está cada vez mais claro que "o poder não está ligado à posse dos meios de produção, mas ao acesso à informação". A virtualização das relações está aumentando com o fenômeno da Inteligência Artificial. Destaca-se também no cenário atual a forte instrumentalização da religião como tendência na política, o uso político da intolerância religiosa e a oposição ao Papa Francisco, pois sua denúncia de uma economia que mata e dos processos de desumanização, sendo uma voz profética nesse contexto, continua presente.
Com relação ao contexto eclesial, o bispo de Petrópolis e presidente do Instituto Nacional de Pastoral (INAPAZ), responsável por realizar essa análise no atual quadriênio, destacou que "o novo momento que o Brasil está vivendo em todas as suas instâncias, inclusive a religiosa, ele chamou de ethos religioso atual, marcado por uma individualização e pluralização muito fortes". Nessa conjuntura eclesial, "nenhum dos modelos pastorais que circulam hoje no Brasil é capaz de responder total e unicamente", afirmou o bispo, que vê a necessidade de se trabalhar com os três modelos pastorais, ao mesmo tempo em que se descobre um novo caminho. Segundo ele, "esse caminho significa uma Igreja mais missionária, uma Igreja em pequenas comunidades e uma Igreja marcada pela iniciação à vida cristã".
De acordo com Dom Leomar Brustolin, arcebispo de Santa Maria e coordenador da equipe de elaboração das diretrizes, essa análise da situação social e eclesial tornou-se um importante instrumento para a construção das Diretrizes da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil, que devem ser concluídas até 2025, levando em conta os novos desafios que estão surgindo e as conclusões do Sínodo sobre a Sinodalidade. Nelas, é utilizada a imagem da tenda, "porque precisamos ampliar o espaço" diante das novas realidades, dando o exemplo da Inteligência Artificial e seu impacto em nossas vidas e na evangelização, questionando como transmitir a fé aos jovens e às crianças.
Quanto ao Instrumentum Laboris das novas Diretrizes, destacou três aspectos fundamentais: a escuta dos sinais dos tempos, trabalho a ser realizado pela Assembleia em 45 comunidades para o discernimento seguindo o método da conversação no Espírito; a conversão pastoral, sem medo de sair de uma pastoral de manutenção para uma pastoral essencialmente missionária; e a proposta de caminhos para a missão, uma transversalidade urgente no texto das Diretrizes. Tudo isso com uma linguagem mais propositiva, um texto mais ágil, mais imediato, mais simples, que ajuda as comunidades a entenderem os objetivos da CNBB.
O arcebispo de Santa Maria, buscando acolher as Diretrizes, defendeu a implantação de uma metodologia de avaliação dos processos, insistindo na sua aplicabilidade no trabalho pastoral, levando em conta a realidade, marcada pela violência, a questão crônica da pobreza, a polarização, que tem entrado nas comunidades.
Tudo isso em consonância com o processo sinodal, e em uma realidade religiosa marcada pelo acento individualista presente na fé cristã, com pessoas mais narcisistas, egoístas, e pelo enfraquecimento do aspecto comunitário da fé, insistindo que "não é possível ser cristão sem uma comunidade de fé".
Para isso, ele pediu o reconhecimento de todos os tipos de comunidades, não a uniformidade, e uma revisão da iniciação cristã, das questões relacionadas à espiritualidade e à liturgia, da questão da solidariedade, da caridade, da ecologia, um tema urgente que precisa ser trabalhado, e da questão da missão, afastando-se da autorreferencialidade e da "pastoral paroquial secretarial".
Dom Brustolin destacou os temas da sinodalidade nas Diretrizes: jovens, mulheres, pessoas com deficiência e idosos. Destacou também a importância do Sínodo para a Amazônia como um importante despertar, sublinhando que "a Querida Amazônia tem sido um tema constante para a CNBB", visto que "a Amazônia sempre foi uma prioridade para a Igreja no Brasil, justamente pelos desafios que enfrenta para sobreviver a essa realidade, ameaçada de várias formas, mas também pela presença da Igreja servidora na região". Ressaltou a importância da missão na Amazônia, a realidade das igrejas irmãs, que facilita o conhecimento da riqueza da Amazônia e de sua Igreja no Sul e Sudeste do Brasil, uma "Igreja exuberante, capaz de fortalecer igrejas mais cansadas ou mais acostumadas a uma tradição cultural sem uma dimensão missionária tão forte".
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A análise da situação social e eclesial no Brasil ajuda a elaborar Diretrizes para a Ação Evangelizadora - Instituto Humanitas Unisinos - IHU