06 Janeiro 2025
Historiadora Foa: mas é verdade que a Igreja não tem problemas com os judeus.
A entrevista é de Alessandra Arachi, publicada por Corriere della Sera, 05-01-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Anna Foa, você ouviu as palavras que o Papa Francisco proferiu ontem sobre o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu?
Tive oportunidade de ler.
E o que achou delas? Você é uma historiadora do judaísmo, mas também é judia? Seu pai Vittorio era, mas sua mãe não....
Eu me converti e sou judia para todos os efeitos.
Então, o que pensa sobre as palavras do papa?
O Papa Francisco errou desta vez ao proferi-las nesse contexto.
Em que sentido?
Ele não devia ter compartilhado suas observações com o reitor iraniano.
Pode explicar?
Foi o reitor que disse que o Irã não tem problemas com os judeus, mas com o primeiro-ministro do governo israelense. E o Papa Francisco teria respondido: nós também não temos problemas com os judeus, mas com Netanyahu.
Então?
Não é verdade que o Irã não tem problemas com os judeus. Nada mais falso poderia ser dito. Começando pelas declarações vindas de Teerã sobre a existência do Estado de Israel.... “Teerã não tem o direito de falar sobre Israel”.
Então, em sua opinião, o Papa Francisco errou?
O contexto certamente estava. Mas, contudo....
Contudo?
Estou absolutamente convencida de que o que o Papa diz é verdadeiro.
Ou seja?
A Igreja não tem problemas com os judeus, mas com Netanyahu.
O diálogo entre judeus e cristãos, no entanto, está agora em profunda crise. Ele tem sido muito questionado desde o atentado de 7 de outubro.
O atentado foi um divisor de águas. A atitude da Igreja em relação à questão do Oriente Médio afetou esse diálogo.
As frases sobre Gaza.
Se estiver ocorrendo genocídio em Gaza, um tribunal internacional determinará isso.
E agora?
Agora a maior parte do mundo judeu está do lado do governo de Israel.
Isso aconteceu na Itália ou em Israel?
Em ambos os países. Antes de 7 de outubro, em Israel, quase todos os dias havia manifestações contra o primeiro-ministro Netanyahu.
O Santo Padre disse que os ataques que o governo israelense continua a lançar contra os palestinos na Faixa de Gaza poderiam se configurar como um genocídio. O que você pensa?
Será um tribunal internacional que determinará isso.
Mas qual é a sua opinião sobre o assunto?
Mais do que minha opinião pessoal, considero importante relatar o que leio nos jornais israelenses. No jornal Haaretz, que em Israel é o equivalente ao New York Times.
E o que escreve o Haaretz?
Os comentaristas do jornal, quando escrevem sobre os ataques à Faixa de Gaza, não hesitam em falar de genocídio, mas também de apartheid.
Você disse que os judeus são a favor do governo israelense.
O 7 de outubro certamente aumentou o sentimento de insegurança da população
Mas?
Há muitos que não conseguem concordar com o que Netanyahu está fazendo. Ele está cruzando o limite. E não apenas nos ataques à Faixa de Gaza.
O que mais?
No fim de dezembro, ele mandou prender alguns parentes dos reféns de 7 de outubro.
Parentes dos reféns? Por quê?
Eles estavam distribuindo panfletos em frente ao prédio do governo para exigir a libertação de seus parentes.
A libertação dos reféns do Hamas era um dos objetivos de Netanyahu....
Era um dos objetivos. Há tempo o primeiro-ministro abandonou os familiares ao seu próprio destino.
Mas, no final, até que ponto essa aversão que até mesmo o Papa tem contra Netanyahu realmente influirá no relacionamento entre a Igreja e o povo judeu?
A Igreja não se tornou antissemita. Mas disso eu é que estou convencida...
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“Frases erradas do Papa naquele contexto, porque estava com um convidado iraniano. Teerã não pode falar de Israel”. Entrevista com Anna Foa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU