30 Outubro 2024
O Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, disse nesta terça-feira (29/10) que a decisão de proibir a atuação da agência das Nações Unidas para refugiados palestinos (UNRWA) em Israel "pode ter consequências devastadoras para os refugiados palestinos no Território Palestino Ocupado, o que é inaceitável".
A reportagem é publicada por DW, 29-10-2024.
"Em meio a toda essa agitação, a UNRWA, mais do que nunca, é indispensável. A UNRWA, mais do que nunca, é insubstituível", disse Guterres, em comunicado.
O Knesset – o parlamento israelense – aprovou na segunda-feira, com maioria esmagadora, duas leis que ameaçam o trabalho de ajuda da UNRWA na Faixa de Gaza, apesar das objeções dos Estados Unidos e dos alertas do Conselho de Segurança da ONU.
As leis têm o poder de proibir as operações da UNRWA em territórios israelenses e dissolver a organização, classificada por Israel como uma organização terrorista.
If implemented, the laws adopted today by the Knesset of Israel would likely prevent @UNRWA from continuing its essential work in the Occupied Palestinian Territory, with devastating consequences for Palestine refugees.
— António Guterres (@antonioguterres) October 29, 2024
I call on Israel to act consistently with its obligations…
A agência da ONU é a principal fornecedora de ajuda humanitária na Faixa de Gaza. A decisão do parlamento israelense pode ameaçar não só o seu trabalho, como gerar um efeito cascata em toda a ajuda ao enclave, dado o controle de travessias de fronteira por Israel.
O governo israelense acusa a UNRWA de estar envolvida no ataque terrorista de 7 de outubro, alegando que a organização de ajuda foi infiltrada pelo Hamas.
As alegações levaram vários países doadores — incluindo os Estados Unidos, a União Europeia e a Alemanha — a suspender as contribuições para a UNRWA.
A ONU iniciou uma investigação interna sobre as acusações. Em uma declaração publicada em 5 de agosto de 2024, disse que nove funcionários da UNRWA foram demitidos devido a um possível envolvimento nos ataques liderados pelo Hamas contra Israel em 7 de outubro de 2023. Denúncias contra dez outros funcionários não puderam ser comprovadas.
Nesta terça-feira (29/10), um dia após a decisão do parlamento israelense, dois ataques aéreos mataram mais de cem palestinos no norte da Faixa de Gaza, incluindo dezenas de mulheres e crianças, conforme informou o Ministério da Saúde de Gaza.
Um dos bombardeios destruiu um prédio residencial de cinco andares que abrigava famílias deslocadas pela guerra na área densamente povoada de Beit Lahiya.
Israel intensificou seus ataques aéreos e operações terrestres no norte de Gaza nas últimas três semanas, sob o argumento de eliminar militantes do Hamas que se reagruparam após mais de um ano de guerra.
De acordo com autoridades palestinas, as forças israelenses mataram mais de mil pessoas nesse cerco recente ao norte da Faixa.
The vote by the Israeli Parliament against @UNRWA is unprecedented. It opposes the @UN Charter and violates the State of Israel’s obligations under international law.
— UNRWA (@UNRWA) October 28, 2024
Failing to push back against these bills will weaken our common multilateral mechanism.
This should be a… https://t.co/kx5JJOVEGe
Em pouco mais de um ano de acirramento do conflito, mais de 40 mil palestinos foram mortos, a maioria civis. O conflito também obrigou quase toda a população palestina a se deslocar – há cerca de 2,3 milhões de pessoas vivendo em tendas improvisadas, sem acesso a itens e serviços básicos como água potável, comida e assistência médica.
O porta-voz do Departamento de Estado americano, Matthew Miller, afirmou que autoridades dos Estados Unidos entraram em contato com Israel para pedir explicações sobre o que aconteceu em Beit Lahiya nesta terça.
"Estamos profundamente preocupados com a perda de vidas civis neste incidente. Foi um incidente horrível com um resultado horrível", declarou.
Ele também condenou a decisão do parlamento israelense de banir a atuação da UNRWA e disse que pode haver "consequências" para a decisão sob a lei americana.
O governo do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, manifestou preocupação sobre o potencial das leis de agravar a crise humanitária em Gaza e prejudicar palestinos em Jerusalém Oriental e na Cisjordânia, cujo acesso é controlado por Israel.
A UNRWA fornece há décadas ajuda humanitária e serviços de saúde e educação a palestinos. Os projetos de lei aprovados nesta segunda impedem a continuidade desse trabalho. Há mais de 1,8 milhão de pessoas em Gaza em situação de insegurança alimentar aguda, de acordo com a agência.
“If these bills are implemented over the coming few weeks or few months, the risk is that our entire operation services to Palestine Refugees in the entirety of Occupied Palestinian Territory will collapse”@TamaraAlrifai to @AJEnglish regarding Israeli legislation restricting… pic.twitter.com/w4xfMzsLLV
— UNRWA (@UNRWA) October 29, 2024
O Programa Mundial de Alimentação (PMA) da ONU pediu ação imediata para evitar a fome na Faixa de Gaza, alertando que a crise humanitária pode piorar em breve devido às severas restrições aos fluxos de ajuda.
"A operação humanitária em Gaza, se for desfeita, é um desastre dentro de uma série de desastres e simplesmente não dá para pensar sobre isso", disse o porta-voz da UNRWA, John Fowler. Ele disse que outras agências da ONU e organizações internacionais que distribuem ajuda em Gaza dependem de sua logística e milhares de trabalhadores.
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António Guterres diz que UNRWA é "indispensável" em Gaza - Instituto Humanitas Unisinos - IHU