O Sínodo começa “de joelhos”

Papa Francisco no Sínodo 2024 | Foto: Vatican Media

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03 Outubro 2024

Oração, Maria e Espírito Santo. O Sínodo recomeça dos três. Como as referências listadas pelo Cardeal Mario Grech, que realmente não podem faltar para que a assembleia sinodal seja realmente tal. E, no que diz respeito à oração, como a intenção anunciada pelo Papa para o mês de outubro e difundida através da Rede Mundial de Oração do Papa - Obra Pontifícia: “Rezamos para que a Igreja continue a apoiar em todos os sentidos um estilo de vida sinodal, sob o signo da corresponsabilidade, promovendo a participação, a comunhão e a missão compartilhada entre sacerdotes, religiosos e leigos”.

A reportagem é de Mimmo Muolo, publicada por Avvenire, 01-10-2024. A tradução é de Luiza Rabolini.

De fato, portanto, o Sínodo já começou. O secretário geral do Sínodo falou ontem durante o primeiro dos dois retiros matinais envolvendo os participantes da segunda reunião sobre a sinodalidade. “O protagonista do Sínodo é o Espírito Santo”, disse ele citando uma expressão de Francisco de alguns anos atrás, e se ele não estiver presente “não haverá Sínodo”. É por isso que são importantes a oração e a capacidade de se despojar (o equivalente a tirar os sapatos, como Moisés fez diante da sarça ardente) das convicções pessoais, a fim de colocar-se à escuta da voz do Espírito. Sem oração, de fato, lembrou Grech, as mudanças na Igreja são, na realidade, “mudanças de grupo”. E sem o apoio de Nossa Senhora, a Igreja “seria o que infelizmente parece ser para muitos: nada mais do que uma organização”. Tudo muda, porém, se houver oração, espoliação e capacidade de se colocar à escuta. O secretário geral do Sínodo explicou: “Nós nos despojamos de ‘roupas’, abordagens e esquemas que talvez tinham significado ontem, mas que hoje se tornaram um fardo para a missão e colocam em risco a credibilidade da Igreja (...) Devemos estar dispostos a nos despojar, pois a escuta é uma ação radical de espoliação diante do outro e diante de Deus”.

Embora venhamos “de várias Igrejas locais, todas com suas próprias riquezas, todas com seus próprios desafios, todas comprometidas com a renovação e com a busca de novos caminhos e de uma nova linguagem para falar de Jesus aos homens e às mulheres de hoje”, nestes dias, observa o secretário geral do Sínodo, “estamos ‘sentados juntos’ para preservar os bens da Igreja por meio de uma herança indivisa a ser compartilhada com todos, sem excluir ninguém”. Aqui, então, a atitude de oração se torna fundamental.

Assim como o olhar para Maria.

“A Virgem em escuta acolhe com fé a Palavra de Deus; e isso foi para ela a premissa e o caminho para a maternidade divina”. Depois, citando a Marialis Cultus de Paulo VI e um documento dos bispos alemães de 1979, o Cardeal Grech também fez eco ao que o Papa Francisco disse há dois dias no avião de volta da Bélgica, durante a coletiva de imprensa com os jornalistas. A Mãe de Jesus, afirmam os bispos, “estabelece o verdadeiro ato constitutivo da Igreja; tudo o que veio depois, o ministério apostólico, os sacramentos, o envio em missão no mundo, pressupõe esse fundamento mariano”.

E a respeito da oração, neste mês de outubro dedicado a Maria, o convite é para rezar assiduamente o Rosário durante os trabalhos sinodais. Todos os participantes receberão “um rosário”, anunciou o cardeal, “para que esta oração possa nos acompanhar no caminho destes dias” através daquela “incessante ruminação da Palavra de Deus” que o próprio Rosário propõe. Os mistérios dessa oração, observou o cardeal Grech, perpassando pela vida de Jesus, ajudam a colocá-lo novamente no centro e “a gerá-lo para o mundo”. Com o Rosário “aprendemos, como Maria, a ser discípulos e discípulas do Senhor”. Portanto, concluiu Grech, “a Assembleia Sinodal que hoje inicia sua jornada seja um Pentecostes renovado, para que o Evangelho de Jesus possa continuar a enriquecer a vida de toda a humanidade e para que possamos ser uma Igreja sinodal e missionária”. A oração também se torna uma busca por Deus, como destacou o dominicano Timothy Radcliffe, assistente espiritual do Sínodo, em suas meditações por ocasião do retiro espiritual. Em um mundo “obscurecido pela violência” e no qual Deus “parece em grande parte ter desaparecido”, especialmente no Ocidente, devido a ateísmo, indiferença e ceticismo, o clérigo exortou a se colocar, como Maria Madalena, em busca do Senhor. “O mundo está cheio de choro”, acrescentou o religioso, citando o drama da guerra no Oriente Médio, Ucrânia, Sudão e Mianmar. Mas, apesar dessa “escuridão”, é preciso estar ciente da presença de Deus e prestar escuta ao “grito daqueles que choram”. Além disso, no Sínodo, devemos participar não como “representantes dos partidos da Igreja”, mas como “irmãos todos”, “alegres companheiros de busca”. Antes da recitação das Laudes, a Irmã Maria Ignazia Angelini, beneditina do mosteiro de Viboldone, falou sobre a sede de Deus. As culturas no mundo contemporâneo, acrescentou ela, “hesitam em se expor a essa sede, em integrá-la em seus sistemas simbólicos, lutam: são tão impregnadas pela lógica dos negócios, do poder, do mercado, do fitness. Ou por lógicas evasivas que perseguem sonhos de liberdade como autodeterminação”. Mas a verdadeira sede é pelo Deus vivo, por “morar no Evangelho”.

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