24 Setembro 2024
Guerras, tensões e desconfiança marcam a abertura da Assembleia Geral da ONU em Nova York e ressaltam o tamanho do desafio contra a crise climática.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 24-09-2024.
A cidade de Nova York é o centro das atenções globais nesta semana com a realização da Assembleia Geral da ONU, que abre hoje (24/9). Mas a sombra dos problemas fora da Big Apple nunca foi tão grande: o contexto político internacional é o mais delicado desde o final da Guerra Fria, com tensões geopolíticas e conflitos armados dificultando o enfrentamento de desafios globais comuns, como a crise climática.
O NY Times destacou o contraste do mundo de 2024 com o de apenas nove anos atrás. Em 2015, a Assembleia Geral da ONU foi um dos momentos decisivos rumo a um novo acordo internacional contra as mudanças climáticas, formalizado meses depois na COP21 em Paris. Agora, na véspera de mais uma conferência sobre o clima, a expectativa de avanços nas negociações para a COP29 de Baku é mínima.
O mal-estar das negociações climáticas reflete uma frustração crescente com o multilateralismo e o sistema-ONU, visto como incapaz de lidar com a nova realidade. Infelizmente, os próprios países parecem incapazes de se mover em torno de uma solução para reformar a governança global, como ficou nítido na já malfadada Cúpula do Futuro. O evento, que deveria marcar a retomada da agenda de reformas da ONU, terminou com um documento final tímido.
“Os desafios internacionais estão se movendo mais rápido do que nossa capacidade de resolvê-los. As crises estão interagindo e se alimentando uma das outras – por exemplo, à medida que as tecnologias digitais espalham desinformação climática, o que aprofunda a desconfiança e alimenta a polarização”, comentou o secretário-geral da ONU, António Guterres, na abertura da cúpula no último domingo (22).
No mesmo tom, a primeira-ministra de Barbados, Mia Motley, defendeu uma “reinicialização” da governança global como caminho para viabilizar respostas efetivas contra a crise climática. “A angústia em nossas instituições de governança, a desconfiança entre governantes e governados, continuará a fomentar a alienação social no exato momento em que precisamos reunir o maior número possível de pessoas para moldar um novo mundo”, disse Motley, citada pela Reuters.
Em face a esse cenário, um caminho potencial para reverter esse mal-estar é a participação pública dos cidadãos. Em artigo no Project Syndicate, a ex-diplomata francesa Laurence Tubiana, uma das principais arquitetas políticas do Acordo de Paris, e a secretária nacional de mudanças climáticas do Brasil, Ana Toni, abordaram como essa estratégia pode facilitar o engajamento das pessoas na discussão sobre o clima.
“Uma maneira de abordar essa lacuna é permitir a participação dos cidadãos na elaboração e na implementação de políticas climáticas pelos governos. Em vez de ter políticas impostas por tecnocratas de cima, os governos devem adotar abordagens que combinem métodos top-down e bottom-up, com o último reunindo pessoas comuns que têm a tarefa de moldar uma visão compartilhada do futuro”, argumentaram.
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Divisões da ONU se refletem em discussões sobre clima em NY - Instituto Humanitas Unisinos - IHU