19 Agosto 2024
Ministro volta a falar em transição “sem extremismo ambiental ou ideológico”, mas radicaliza ao defender petróleo na foz do Amazonas e conclusão de Angra 3.
A informação é publicada por ClimaInfo, 19-08-2024.
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, até tenta dar nuances “verdes” a seus roteiros narrativos, mas não consegue esconder sua posição radical em defesa dos combustíveis fósseis. E num país com vento e sol à vontade, ainda é capaz de defender uma fonte de energia cara e perigosa como a nuclear.
Mais uma vez, Silveira disse que o Brasil precisa de uma transição energética “sem extremismo ambiental ou ideológico”, informa o Brasil 247. O que ele chama de “extremismo ambiental ou ideológico” é a vasta comprovação científica de que o Brasil e todos os países do mundo precisam abandonar urgentemente os combustíveis fósseis, principais causadores das mudanças climáticas, e investir pesadamente em fontes renováveis de energia. Mas para quem, em plena Cúpula da Amazônia, questionou o IPCC, não surpreende.
O ministro, ele sim, é radical em defender a exploração de petróleo no Brasil até a última gota. Não à toa se encontrou semana passada com o secretário-geral da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), Haithmam Al-Ghais, para falar do potencial petrolífero do país, relata a Folha. Lembremos que em plena COP28 Silveira não apenas antecipou que o país aderiria ao cartel como comemorou a decisão.
A defesa radical da exploração de petróleo até a última gota não respeita sequer as decisões técnicas do IBAMA. Nesse sentido, Silveira conseguiu colocar Magda Chambriard à frente da Petrobras e ganhou mais uma aliada para pressionar politicamente o órgão ambiental e o Ministério do Meio Ambiente (MMA), com aval do presidente Lula, pela liberação da licença para a estatal explorar combustíveis fósseis no bloco FZA-M-59, na foz do Amazonas.
A prova de que Silveira quer tornar política uma decisão técnica pode ser encontrada em uma fala sua, destacada pelo Valor, em evento da Carta Capital: “Não podemos deixar de conhecer nossas potencialidades da Margem Equatorial [eufemismo usado pelos defensores do petróleo para evitar o nome ‘foz do Amazonas’] respeitando, dentro da mais rigorosa determinação da nossa legislação ambiental, mas sem extremismo ambiental ou ideológico, com bom senso, sentando na mesa, discutindo caminhos”.
Se de fato respeitasse a legislação ambiental e sua tecnicidade, o ministro não teria sugerido à Advocacia Geral da União (AGU) abrir uma “mesa de conciliação” para “destravar” a licença para o FZA-M-59. A “conciliação” foi encerrada sem o resultado esperado por Silveira, Magda e companhia.
Mas o radicalismo de Silveira não se restringe aos combustíveis fósseis. Em audiência na Comissão de Minas e Energia da Câmara, o ministro defendeu a retomada das obras da usina termonuclear Angra 3, informam Valor, O Globo, CNN, Jovem Pan e Petronotícias. Também vale lembrar sua recente proposta de instalação de reatores nucleares em comunidades isoladas da Amazônia.
O BNDES está prestes a entregar um amplo estudo, iniciado no ano passado, sobre os prós e contras da conclusão da planta. Mas Silveira não esperou para “passar pano” para a energia cara e arriscada da usina: “Não vamos ficar com aquele mausoléu para servir de visitação pelo mundo, enxergando aquilo como um fracasso de gestão do governo. Aquilo vai ser um sucesso do governo brasileiro”, disse ele.
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A “transição energética” de Alexandre Silveira inclui mais combustíveis fósseis e energia nuclear - Instituto Humanitas Unisinos - IHU