14 Agosto 2024
O comentário é de José Antônio Pagola, teólogo espanhol, publicado por Religión Digital, 12-08-2024.
"Felizes os convidados para a Ceia do Senhor". É o que diz o sacerdote ao mostrar a toda a comunidade o pão eucarístico antes de iniciar sua distribuição. Que eco têm hoje estas palavras em quem as ouve?
Muitos, sem dúvida, sentem-se afortunados por poderem vir à comunhão para encontrar Cristo e alimentar n'Ele a sua vida e a sua fé. Muitos se levantam automaticamente para realizar mais uma vez um gesto rotineiro vazio de vida. Um número significativo de pessoas não se sente chamado a participar e não experimenta nenhuma insatisfação como resultado.
E, no entanto, receber a Comunhão pode ser para o cristão o gesto mais importante e central de toda a semana, se for vivido em toda a sua expressividade e dinamismo.
A preparação começa com o canto ou recitação da Oração do Senhor. Não nos preparamos para receber a Comunhão por conta própria. Recebemos a comunhão formando uma família que, acima das tensões e das diferenças, quer viver fraternalmente, invocando o mesmo Pai e encontrando-nos todos no mesmo Cristo.
Não se trata de rezar um "Pai Nosso" dentro da missa. Esta oração adquire uma profundidade especial neste momento. O gesto do sacerdote, com as mãos abertas e levantadas, é um convite a adotar uma atitude confiante de invocação. As petições ressoam de maneira diferente quando vamos à Comunhão: "Dá-nos pão" e alimenta a nossa vida nesta comunhão; "Venha o teu reino" e Cristo venha a esta comunidade; "perdoa-nos as nossas ofensas" e prepara-nos para receber o teu Filho...
A preparação continua com o abraço da paz, um gesto sugestivo e cheio de força, que nos convida a romper o isolamento, as distâncias e a falta de solidariedade egoísta. O rito, precedido por uma dupla oração pedindo paz, não é simplesmente um gesto de amizade. Expressa o compromisso de viver difundindo "a paz do Senhor", curando feridas, eliminando ódios, reacendendo o sentido da fraternidade, despertando a solidariedade.
A invocação "Senhor, não sou digno...", pronunciada com fé humilde e com o desejo de viver mais fielmente a Jesus, é o último gesto antes de nos aproximarmos cantando para receber o Senhor. A mão estendida e aberta expressa a atitude de quem, pobre e desamparado, se abre para receber o pão da vida.
O silêncio agradecido e confiante que nos torna conscientes da proximidade de Cristo e da sua presença viva em nós, a oração de toda a comunidade cristã e a última bênção põem fim à comunhão. Nossa fé não seria reafirmada se pudéssemos receber a comunhão mais profundamente?