24 Mai 2024
"Em suma, a harmonia entre os povos, e não a guerra, poderá ser a chave para o futuro", escreve Luigi Sandri, jornalista italiano, em artigo publicado por L'Adige, 20-05-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Profecia e realpolitik se cruzaram, mas não se uniram, no sábado, quando Francisco esteve na Arena de Verona para participar de um encontro que, nos passos de uma iniciativa que está em ato desde a década de 1980, queria lançar a partir de Verona um grito de paz para um mundo dilacerado, nos nossos dias, por terríveis guerras.
Entre as pessoas que, diante do Papa (ao lado dele estava o nosso padre Alex Zanotelli!), intervieram num anfiteatro lotado de gente, principalmente de jovens, estavam um judeu israelense e um palestino. Eles, vindos do Oriente Médio, não eram pacifistas idealistas distantes da realidade: de fato, o israelense Maoz Inon perdeu os pais, assassinados em 7 de outubro de 2023 no ataque do movimento islâmico Hamas contra Israel; e o irmão do palestino, Aziz Sarah, foi morto por soldados israelenses. Os dois reiteraram o desejo de viver em paz, em dois Estados que se respeitam, e a esperança de que o luto atroz que atingiu as suas famílias não seja motivo de ódio eterno, mas, sim, um impulso para atuar pela paz.
Eles se abraçaram e depois abraçaram o pontífice, enquanto da arena se levantava um aplauso interminável. A cena, idílica, mostrava, em pequena escala, qual poderia ser, um dia, em Jerusalém e arredores, a relação entre os seus dois povos. Mas, hoje, enquanto lá as armas continuam a atirar, a cena parece irreal, não atual, fantasiosa, inaplicável. No estado das coisas, afinal, não dá para ver quando o impressionante episódio de Verona poderá se traduzir amplificado – daqui a anos? décadas? séculos? – em Israel e nos Territórios palestinos.
Na Cisjordânia continua e se expande a presença de assentamentos judaicos, ilegais, segundo as Nações Unidas; a Faixa de Gaza continua a ser atacada por aviões e tanques israelenses, que até agora, desde 7 de outubro, provocaram mais de trinta e cinco mil vítimas, um terço das quais menores; o Hamas, onde consegue, continua a atacar Israel.
Em suma, cada encontro de pacifistas na arena de Verona é como uma voz que grita, mas encoberta pelo crepitar das armas. Mas essa voz atrai muitos jovens, e entre eles talvez possa estar quem daqui a alguns anos terá nas mãos o futuro do país. Vale lembrar, aliás, – se espera – que atuar pela paz é o primeiro dever de quem governa. Francisco disse ontem: “Hoje, festa de Pentecostes, rezemos ao Espírito Santo para que crie harmonia nos corações, harmonia nas famílias, harmonia na sociedade, harmonia no mundo inteiro; que o Espírito aumente a comunhão e a fraternidade entre os cristãos das diversas Confissões; doe aos governantes a coragem de realizar gestos de diálogo. Pensemos na Ucrânia (o meu pensamento dirige-se em particular à cidade de Kharkiv); pensemos na Terra Santa, na Palestina, em Israel; pensemos nos tantos lugares onde há guerras".
Em suma, a harmonia entre os povos, e não a guerra, poderá ser a chave para o futuro.
Um programa extremamente desafiador.
O encontro entre o israelense e o palestino podem ser vistos no vídeo acima, aos 1h24min12s
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A paz possível entre utopia e realidade. Artigo de Luigi Sandri (com vídeo) - Instituto Humanitas Unisinos - IHU