03 Agosto 2018
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo João 6,24-35 que corresponde ao 18° Domingo do Tempo Comum, ciclo B, do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto. .
Por que continuar a interessar-nos por Jesus depois de vinte séculos? Que podemos esperar Dele? Que nos pode contribuir aos homens e mulheres do nosso tempo? Irá, acaso, resolver os problemas do mundo atual? O evangelho de João fala de um diálogo de grande interesse que Jesus mantém com uma multidão na margem do lago Galileu.
No dia anterior partilharam com Jesus uma refeição surpreendente e gratuita. Comeram pão até saciarem-se. Como o vão deixar partir? O que procuram é que Jesus repita o seu gesto e os volte a alimentar gratuitamente. Não pensam em outra coisa.
Jesus desconcerta-os com uma abordagem inesperada: «Esforçai-vos não para conseguir o alimento transitório, mas o permanente, o que dá a vida eterna». Mas como não nos preocuparmos pelo pão de cada dia? O pão é indispensável para viver. Necessitamos e devemos trabalhar para que nunca falte a ninguém. Jesus o sabe. O pão é o primeiro. Sem comer não podemos subsistir. Por isso se preocupa tanto com os famintos e mendigos, que não recebem dos ricos nem as migalhas que caem da sua mesa. Por isso amaldiçoa os latifundiários insensatos que armazenam o grão sem pensar nos pobres. Por isso ensina os seus seguidores a pedir cada dia ao Pai pão para todos os seus filhos.
Mas Jesus quer despertar neles uma fome diferente. Fala-lhes de um pão que não sacia só a fome de um dia, mas a fome e a sede de vida que há no ser humano. Não temos de esquecê-lo. Em nós há uma fome de justiça para todos, uma fome de liberdade, de paz, de verdade. Jesus apresenta-se como esse Pão que nos vem do Pai não para nos enchermos de comida, mas «para dar vida ao mundo».
Este Pão, vindo de Deus, «dá a vida eterna». Os alimentos que comemos cada dia nos mantêm vivos durante anos, mas chega um momento em que não podem defender-nos da morte. É inútil que sigamos comendo. Não nos podem dar vida para além da morte.
Jesus apresenta-se como «Pão de vida eterna». Cada um deve decidir como quer viver e como quer morrer. Mas a quem nos chamamos seguidores Seus temos de saber que acreditar em Cristo é alimentar em nós uma força imperecível, começar a viver algo que não acabará com a nossa morte. Simplesmente, seguir Jesus é entrar no mistério da morte, sustentados pela Sua força ressuscitadora.
Ao escutar suas palavras, aquelas pessoas de Cafarnaum gritavam-lhe desde o fundo do seu coração: «Senhor, dai-nos sempre desse pão». Desde a nossa fé vacilante, por vezes não nos atrevemos a pedir algo semelhante. Talvez só nos preocupe a comida de cada dia. E, às vezes, só a nossa.
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Pão de vida eterna - Instituto Humanitas Unisinos - IHU