20 Abril 2018
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo João 10,11-18 que corresponde ao Quarto Domingo da Páscoa ciclo B, do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Não se podem desenhar programas ou técnicas que conduzam automaticamente até Deus. Não há métodos para encontrar-se com Ele de forma segura. Cada um terá de seguir o seu próprio caminho, pois cada um tem a sua forma de abrir-se ao mistério de Deus. No entanto, nem tudo favorece em igual medida o despertar da fé.
Há pessoas que nunca falam de Deus com ninguém. É um tema tabu; Deus pertence ao mundo do privado. Mas logo tampouco pensam Nele, nem o recordam na intimidade da sua consciência. Esta atitude, bastante frequente inclusive entre quem se diz crente, conduz quase sempre a uma fé cada vez mais débil. Quando algo nunca é lembrado termina morrendo por esquecimento e inanição.
Há, pelo contrário, pessoas que parecem interessar-se muito pelo religioso. Gostam de colocar questões sobre Deus, a criação, a Bíblia... Fazem perguntas e mais perguntas, mas não esperam a resposta. Não parece interessar-lhes. Naturalmente, todas as palavras são vãs se não há uma busca sincera de Deus no nosso interior. O importante não é falar de «coisas de religião», mas arranjar sítio para Deus na própria vida.
Outros gostam de discutir sobre religião. Não sabem falar de Deus se não é para defender a sua própria posição e atacar a contrária. De fato, bastantes discussões sobre temas religiosos não fazem senão favorecer a intolerância e o endurecimento de posições. No entanto, quem procura sinceramente Deus escuta a experiência de quem acredita Nele e inclusive de quem o abandonou. Tenho de encontrar o meu próprio caminho, mas interessa-me saber onde os outros encontram sentido, alento e esperança para enfrentar-se com a existência.
Em qualquer caso, o mais importante para nos orientarmos para Deus é invocá-lo no segredo do coração, a sós, na intimidade da própria consciência. É aí onde um se abre confiadamente ao mistério de Deus ou onde se decide viver só, de forma ateia, sem Deus. Alguém me dirá: «Mas como posso eu invocar a Deus se não creio Nele nem estou seguro de nada?». É possível. Essa invocação sincera no meio da escuridão e das dúvidas é, provavelmente, um dos caminhos mais puros e humildes para nos abrirmos ao Mistério e sermos sensíveis à presença de Deus no fundo do nosso ser.
O quarto evangelho recorda-nos que há ovelhas que «não são do redil» e vivem longe da comunidade crente. Mas Jesus diz: «Também a estas, as tenho que atrair, para que escutem a Minha voz». Quem procura, com verdade, Deus, escuta, mais tarde ou mais cedo, esta atração de Jesus no fundo do seu coração. Primeiro com reservas talvez, logo com mais fé e confiança, um dia com alegria profunda.
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