23 Julho 2024
Quando o Vaticano lançou o último documento de trabalho do Sínodo sobre a Sinodalidade há duas semanas, também publicou os membros dos grupos de estudo previamente estabelecidos que abordam questões específicas levantadas durante o processo sinodal.
A reportagem é de Robert Shine, publicada por News Ways Ministry, 19-07-2024.
A reportagem inclui uma análise de alguns dos membros dos grupos de estudo, além de mais reações de organizações católicas de reforma.
Embora nenhum grupo de estudo seja explicitamente encarregado de discutir questões LGBTQ+, parece que o Grupo de Estudo 9, com o tema "Critérios teológicos e metodologias sinodais para discernimento compartilhado de questões doutrinais, pastorais e éticas polêmicas", é o lugar mais provável onde essas questões podem ser discutidas.
O único membro do Grupo de Estudo 9 com um registro LGBTQ+ publicamente identificável é o Pe. Maurizio Chiodi, teólogo moral no Instituto Teológico Pontifício João Paulo II, em Roma. Em uma entrevista de 2019, Chiodi chamou para “uma reflexão sobre as questões antropológicas e teológicas fundamentais envolvidas” em como a Igreja entende a homossexualidade. Ele reafirmou fortemente o magistério católico de que uma orientação homossexual não é pecaminosa e que deve ser provido cuidado pastoral. Chiodi também ofereceu apoio qualificado para relações entre pessoas do mesmo sexo:
“Dessa perspectiva, me parece difícil – na verdade impossível – dar respostas pré-fabricadas, como se de uma teoria antropológica se pudesse imediatamente deduzir todas as respostas práticas. Acredito que as relações de casais homossexuais apresentam lacunas e diferenças inegáveis que impedem que sejam equiparadas aos casais heterossexuais, cancelando sua diversidade. No entanto, a tarefa moral diz respeito às possibilidades reais, ou seja, ao bem possível, que leva em consideração a história real de um sujeito.
Por essa razão, eu não excluiria que, sob certas condições, uma relação de casal homossexual seja, para aquele indivíduo, a maneira mais frutífera de viver boas relações, levando em consideração seu significado simbólico, que é ao mesmo tempo pessoal, racional e social. Isso acontece, por exemplo, quando uma relação estável é a única maneira de evitar vagância sexual ou outras formas de relações eróticas humilhantes e degradantes ou quando é uma ajuda e um estímulo para caminhar na senda de boas relações.”
Chiodi também enfatizou que, embora as Escrituras, particularmente o Livro do Gênesis, possam informar como a homossexualidade é entendida, “para investigar concretamente essas ‘origens’, a contribuição das chamadas ‘ciências humanas’, em particular a psicologia, sociologia e medicina, é muito importante”.
O padre disse em outro ponto da entrevista que, embora evite “grupos de pressão”, ele acredita que “é bom oferecer a possibilidade de grupos, associações ou iniciativas, tanto para pessoas homossexuais quanto para suas famílias... essa atenção deve permanecer uma possibilidade, para aqueles que desejam, sem limitar o acesso de pessoas homossexuais às iniciativas pastorais ordinárias”.
Finalmente, Chiodi afirmou que parte da Igreja revisitar seus ensinamentos e práticas sobre a homossexualidade é uma missão evangélica. Perguntado se uma Igreja mais acolhedora poderia levar pessoas gays a reconsiderar “um caminho de fé”, o padre respondeu:
“Não só é possível, mas é necessário. Claro, isso deve evitar superficialidade e improvisação. É um caminho a ser seguido com sabedoria e discernimento, também fazendo uso de experiências pastorais já testadas. A graça do Evangelho e o caminho que ele apresenta, na raiz, não são diferentes para o mundo gay, em comparação com o chamado dirigido a todos, mesmo que cada um tenha suas formas específicas. No fim, porém, dentro da mesma comunidade, todos estamos comprometidos com o seguimento comum do Senhor.”
Além de Chiodi, outros membros do Grupo de Estudo 9 são considerados pessoas com ideias progressistas ou inclinados à reforma. O coordenador do grupo é Dom Carlos Gustavo Castillo Mattasoglio, arcebispo de Lima, Peru, nomeado pelo Papa Francisco e simpatizante da Teologia da Libertação, estimado pessoalmente por um dos fundadores desta teologia, o Pe. Gustavo Gutiérrez.
O padre jesuíta Carlo Casalone é um teólogo moral da Pontifícia Universidade Gregoriana, de Roma, que ajudou a reformar a Pontifícia Academia para a Vida para reorientá-la em torno do magistério social mais amplo do atual Papa. Casalone também coordena a Fundação Cardeal Carlo Maria Martini, que foi um prelado italiano bastante progressista, e o padre enfatizou a consciência como fundamental para a ética católica.
A irmã Josée Ngalula, RSA, teóloga da Universidade Católica do Congo, em Kinshasa, participou do congresso Spirit Unbounded, de reforma da Igreja, realizado em outubro passado em Roma, durante a 1ª Assembleia do Sínodo. Sua pesquisa se concentra na violência perpetrada pelas e dentro das instituições religiosas. Ela tem um compromisso particular com as vítimas de abuso na Igreja Católica.
Membros sem registros públicos claros sobre questões LGBTQ+ ou reforma da Igreja incluem Dom Filippo Iannone, presidente do Dicastério para Textos Legislativos; o padre Piero Coda, secretário-geral da Comissão Teológica Internacional, que endossou a complementaridade de gênero, mas como “homens e mulheres juntos, não apenas homens falando sobre mulheres”; e Stella Morra, teóloga na Pontifícia Universidade Gregoriana e consultora do Dicastério para a Doutrina da Fé.
Vários lideraças católicas simpatizantes com a comunidade LGBTQ+ estarão presentes nos oito grupos de estudo restantes. Eles incluem: o cardeal Joseph Tobin, de Newark, o cardeal Kevin Farrell, prefeito do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida; o padre jesuíta Antonio Spadaro, assessor do Papa; a irmã Nathalie Becquart, XMCJ, subsecretária do Secretariado Geral do Sínodo; a irmã Maria Cimperman, RSCJ, teóloga americana; o cardeal jesuíta Michael Czerny, prefeito do Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral; o cardeal Luis Antonio Tagle, pró-prefeito do Dicastério para a Evangelização; o cardeal brasileiro Leonardo Ulrich Steiner, OFM; o cardeal Mario Grech, secretário-geral do Secretariado Geral do Sínodo; e cardeal Oswald Gracias, de Bombaim.
Notavelmente, os membros do grupo sobre mulheres na Igreja não foram divulgados, pois essa questão foi reservada separadamente para o Dicastério para a Doutrina da Fé.
Cinco grupos de estudo adicionais especificamente sobre sinodalidade também foram anunciados. Novamente, embora as questões LGBTQ+ não estejam em seu escopo explicitamente, os membros simpatizantes da questão LGBTQ+ presente nestes grupos incluem os teólogos Rafael Luciani, da Boston College; Catherine Clifford, da St. Paul University, do Canadá; o padre Ormond Rush, da Australian Catholic University; e padre Philippe Bordeyne, reitor do Instituto Teológico Pontifício João Paulo II, em Roma.
Marianne Duddy-Burke, diretora executiva da DignityUSA, divulgou um comunicado dizendo que o Instrumentum Laboris está “confuso para muitos” porque “traz uma visão de esperança”, no entanto, “quando você olha mais de perto, percebe inúmeras restrições que podem minar essa visão”.
Ela continuou:
“O processo sinodal expôs a necessidade de mudanças verdadeiramente radicais em nossa igreja. Milhões de pessoas ao redor do mundo, incluindo pessoas LGBTQIA+ e nossas famílias e amigos, correram riscos para oferecer sua verdade e esperanças às autoridades eclesiásticas e aos delegados do Sínodo. Eles compartilharam sabedoria e frustração, amor e dor. Abordar tudo isso levará muito tempo e cuidado.”
FutureChurch, organização reformista católica, publicou um comunicado que descreveu o documento de trabalho como “esperança de progresso”, mas “também não podemos ignorar o fato de que a verdadeira sinodalidade não pode ser realizada se certos tópicos... forem excluídos do diálogo”. Anteriormente, a FutureChurch publicou um relatório intermediário do Sínodo que nomeava a divulgação LGBTQ+ como uma preocupação chave para seus membros. Agora, a organização observa sobre o documento de trabalho:
“O documento reflete o desejo do Papa Francisco de uma mudança cultural em direção a uma Igreja mais dialogal, aberta a uma diversidade de perspectivas e experiências, e onde o discernimento e a tomada de decisões são o trabalho comum de todo o Povo de Deus – leigos e ordenados igualmente... Deve ser dito: a verdadeira sinodalidade não será realizada se certos tópicos permanecerem fora dos limites...”
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Membros LGBTQ+ nomeados para Grupos de Estudo do Sínodo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU