Chifre da África, a armadilha para um terço dos refugiados do mundo. Entrevista com Filippo Ungaro

Foto: Ahmed Akacha | Pexels

Mais Lidos

  • O “non expedit” de Francisco: a prisão do “mito” e a vingança da história. Artigo de Thiago Gama

    LER MAIS
  • "A ideologia da vergonha e o clero do Brasil": uma conversa com William Castilho Pereira

    LER MAIS
  • A luta por território, principal bandeira dos povos indígenas na COP30, é a estratégia mais eficaz para a mitigação da crise ambiental, afirma o entrevistado

    COP30. Dois projetos em disputa: o da floresta que sustenta ou do capital que devora. Entrevista especial com Milton Felipe Pinheiro

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

09 Julho 2024

Guerras e mudanças climáticas, a dupla de assassinos causou 40 milhões de refugiados no Norte da África, Quênia e Sudão. Isso representa um terço dos mais de 120 milhões de refugiados globais, naquele que é, segundo o ACNUR, o 12º ano recorde consecutivo. E nessa fatia obscurecida da África, as ajudas de doadores internacionais são insuficientes para enfrentar uma emergência alimentar colossal que afeta principalmente mulheres e crianças.

A entrevista é de Paolo Lambruschi, publicada por Avvenire, 07-07-2024.

Para chamar a atenção ao drama em curso e arrecadar os fundos necessários para salvar milhões de vidas, o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), na linha de frente no Sudão e no Norte da África, lançou a campanha "Vamos voltar a sentir", pedindo a todos que façam doações para garantir ajudas essenciais para a sobrevivência, alimentos, abrigos de emergência, água potável e cuidados médicos para milhões de refugiados e deslocados.

Eis a entrevista.

Filippo Ungaro, porta-voz do ACNUR na Itália, quais são os países mais afetados por essa emergência humanitária?

A Etiópia, que abriga uma das maiores populações de refugiados e deslocados internos do mundo, acolhe quase um milhão de refugiados da Eritreia, do Sudão, da Somália e do Sudão do Sul, enquanto se estima que cerca de 3,5 milhões estejam deslocados por conflitos internos no Tigré, Amhara e Oromia.

Cerca de 20 milhões de pessoas são afetadas por insegurança alimentar aguda, estão vivendo uma das mais graves crises alimentares devido ao impacto da crise climática, dos desafios econômicos e dos conflitos internos. Houve cinco temporadas consecutivas de seca seguidas de enchentes e, apesar das aparências, as coisas estão ligadas porque, devido à falta de chuva, o solo endurece e não absorve mais água. Esse fenômeno gera pobreza e tensões para o acesso a recursos e conflitos.

E na Somália?

A situação é ainda mais complexa, caracterizada por insegurança e tensões políticas, além dos efeitos devastadores das mudanças climáticas. Mais de 6,5 milhões de pessoas estão em condições de grave insegurança alimentar, entre elas são particularmente afetados os quase 4 milhões de deslocados internos, que fogem de grupos armados não estatais responsáveis por ataques indiscriminados. A situação no Quênia também é dramática, onde 5,4 milhões de pessoas enfrentam altos níveis de insegurança alimentar e há mais de 770.000 refugiados e solicitantes de asilo, a maioria dos quais vive nos campos de Dadaab e Kakuma, abertos há 31 anos.

A principal crise humanitária do mundo está no Sudão. Qual é o cenário de guerra? Desde o início do conflito, em 15 de abril de 2023, 9,2 milhões de pessoas foram obrigadas a fugir.

Milhares de pessoas estão entrando nas fronteiras do país todos os dias, com o risco de desestabilizar a região. A maioria dos países vizinhos — Chade, Etiópia, República Centro-Africana e Sudão do Sul — manteve suas fronteiras abertas para recebê-los, mas precisam de mais apoio para continuar fazendo isso. No Sudão, mais de 20 milhões de pessoas, 42% da população, sofrem de grave insegurança alimentar.

No Darfur, as pessoas em fuga são principalmente mulheres e crianças, e as mães são obrigadas a escolher qual filho alimentar ou a aceitar formas graves de exploração, inclusive sexual. Longe do coração e dos nossos olhos. Por isso dizemos: vamos voltar a sentir.

Leia mais