21 Junho 2024
A reportagem é publicada por Religión Digital, 20-06-2024.
O ex-núncio nos Estados Unidos e um dos maiores inimigos do Papa Francisco, o cardeal arcebispo Carlo Maria Viganò, foi acusado do crime de cisma pelo Dicastério para a Doutrina da Fé, como ele próprio revelou nesta quinta-feira. O agendamento do processo foi marcado para esta quinta-feira, às 17h30. Viganò não compareceu. Caso não o faça no dia 28 deste mês, será julgado à revelia.
Viganò explicou em uma rede social:
“Presumo que a sentença já esteja preparada, tendo em vista que se trata de um processo extrajudicial. Considero as acusações contra mim uma honra. Acredito que o próprio teor das acusações confirma as teses que tenho defendido”, disse.
Viganò descreveu o Concílio Vaticano II (1962-1965), conjunto de encontros que revolucionaram e modernizaram a Igreja, como “um câncer ideológico, teológico, moral e litúrgico” e chamou a “Igreja Bergogliana”, em referência ao sobrenome do atual papa, de “metástase”. Até o momento, a Santa Sé não se pronunciou sobre o assunto.
O arcebispo decidiu tornar público este processo contra ele no mesmo dia em que foi convocado pelo Dicastério para a Doutrina da Fé para notificá-lo no Vaticano das acusações, conforme consta do documento de convocação, datado de 11 de junho passado.
No ato, é informado da sua acusação pelo crime de cisma, ou seja, por “declarações públicas que resultam na negação dos elementos necessários para manter a comunhão com a Igreja Católica: a negação da legitimidade do Papa Francisco, o colapso de comunhão com ele e a rejeição do Concílio Vaticano II”.
𝗔𝗻𝗻𝗼𝘂𝗻𝗰𝗲𝗺𝗲𝗻𝘁 𝗿𝗲𝗴𝗮𝗿𝗱𝗶𝗻𝗴 𝘁𝗵𝗲 𝘀𝘁𝗮𝗿𝘁 𝗼𝗳 𝘁𝗵𝗲 𝗲𝘅𝘁𝗿𝗮𝗷𝘂𝗱𝗶𝗰𝗶𝗮𝗹 𝗰𝗿𝗶𝗺𝗶𝗻𝗮𝗹 𝘁𝗿𝗶𝗮𝗹 𝗳𝗼𝗿 𝘀𝗰𝗵𝗶𝘀𝗺 (art. 2 SST; can. 1364 CIC)
— Arcivescovo Carlo Maria Viganò (@CarloMVigano) June 20, 2024
The Dicastery for the Doctrine of the Faith has informed me, with a simple email, of the initiation of… pic.twitter.com/sVQmV2U4Af
Viganò, de 83 anos, é representante do setor mais conservador da Igreja Católica, nomeado arcebispo em 1992 por João Paulo II e depois, entre outros cargos, foi núncio apostólico (embaixador) na Nigéria até 1998 e nos Estados Unidos entre 2011 e 2016.
Nos últimos anos, não escondeu o seu confronto com o Papa Francisco e, em 2018, acusou-o abertamente de saber dos abusos sexuais do cardeal norte-americano Theodore McCarrick, que o pontífice mais tarde expulsaria do sacerdócio pelo seu comportamento, e até pediu a sua demissão.
Viganò descreveu Francisco como um “herege”, um “tirano”, questionou a sua eleição no conclave que o elegeu em 2013 e chegou ao ponto de descrevê-lo como um “servo de Satanás” após a publicação do documento Fiducia Supplicans, que permite a bênção de casais homossexuais.
Por outro lado, em novembro passado, Francisco deixou o cardeal americano Raymond Burke sem seu apartamento e reduziu seu salário, também muito crítico do seu magistério e expoente da ala mais ultraconservadora da Cúria Romana.
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Dicastério processa por cisma o ex-núncio Viganò, que não comparece à audiência - Instituto Humanitas Unisinos - IHU