20 Junho 2024
A reportagem é de RD/EFE, publicada por Religión Digital, 19-06-2024.
Edwin Alvarado, representante da Comunidade Boliviana de Sobreviventes, disse que o processo judicial "vai além de Luis María Roma", pois trata-se de "expor ao mundo a responsabilidade institucional da Companhia de Jesus" neste caso.
O porta-voz da Companhia de Jesus na Bolívia, Sergio Montes, reconheceu à EFE que a ordem não seguiu o protocolo de denúncia nem os procedimentos adequados para encontrar as vítimas dos supostos abusos do jesuíta espanhol Luis María Roma, falecido em 2019, cujo caso foi novamente aberto pelo Ministério Público boliviano.
"Conforme estabelecido neste protocolo, os passos não teriam sido cumpridos porque foi instalada a investigação prévia canônica (...) o modo como foi conduzido foi em alguns casos negligente, evidentemente indolente e provavelmente não agiram conforme o que correspondia", disse Montes.
O protocolo 'Ambientes Sãos e Seguros', de fevereiro de 2019, estabelecia que "quando se tem conhecimento de um provável caso de abuso sexual", a Companhia de Jesus deve "formular a denúncia" ao Ministério Público. Além disso, o religioso também reconheceu que provavelmente o modo como a ordem contatou as vítimas "não foi o adequado".
Em fevereiro de 2019, a EFE divulgou o caso de Roma com base na denúncia de um ex-membro da ordem que pediu anonimato e que baseou as acusações em trinta fotografias onde disse reconhecer o suposto agressor de vários menores entre 6 e 12 anos.
A partir disso, a ordem começou uma investigação interna contra o padre, que tinha 84 anos, ordenada pelo então provincial Oswaldo Chirveches, que designou uma comissão composta por pelo menos um jesuíta, um psicólogo e uma advogada.
Luis Roma faleceu em 06-08-2019 sem conhecer o resultado da investigação. A ordem declarou a "verossimilhança" da denúncia publicamente no meados de 2022.
O caso de Roma voltou a ganhar destaque a partir da investigação do jornal espanhol El País, em maio de 2023, quando revelou o diário pessoal do jesuíta espanhol Alfonso Pedrajas e seus supostos abusos contra dezenas de crianças e adolescentes quando dirigiu uma escola desde 1971, o que resultou em outras denúncias.
Chirveches, já ex-provincial, apresentou a denúncia contra Luis Roma quatro anos após a abertura da investigação interna, mas após alguns meses o Ministério Público fechou o caso devido à falta de declarações das vítimas.
Recentemente, o jornal El País publicou mais revelações da investigação interna sobre o padre no relatório 'Os Manuscritos de Charagua' e considerou que a ordem ocultou essa informação.
Montes disse que a instituição soube "vários meses atrás" que a investigação tinha sido encerrada e que naquela época a ordem "não" apresentou nenhum recurso legal de objeção àquela decisão judicial. Isso mudou devido à reportagem do jornal espanhol que inclui o depoimento de uma vítima, então a Companhia de Jesus pediu a reabertura do caso "para estabelecer as responsabilidades", disse Montes.
O porta-voz jesuíta defendeu o apelo que a ordem faz às vítimas para oferecer-lhes ajuda em "ações de justiça", embora tenha admitido que a Companhia de Jesus tem um "vínculo econômico" com os religiosos acusados, aos quais atribui um montante para "cobrir despesas" de sua defesa judicial.
O representante da Comunidade Boliviana de Sobreviventes, Edwin Alvarado, disse à EFE que é uma impostura e uma maneira de "lavar as responsabilidades" quando os jesuítas oferecem ajuda legal às vítimas e ao mesmo tempo pagam as despesas legais dos acusados.
Uma fonte ligada à investigação penal, que pediu anonimato, disse à EFE que "deveria ter sido acusado" Chirveches por encobrimento, mas que o Ministério Público rejeitou o caso devido à emissão de uma resolução pela Procuradoria-Geral e à falta de resultados.
A pessoa informante também questionou que Chirveches, que denunciou o caso de Luis Roma em 09-05-2023, entregou fotocópias das fotografias dos supostos abusos e do diário de Luis Roma e não os documentos originais. Após a denúncia de Chirveches, a Curia Provincial em La Paz foi revistada.
Por sua vez, Alvarado disse que o processo judicial "vai além de Luis María Roma", pois trata-se de "expor ao mundo a responsabilidade institucional da Companhia de Jesus" neste caso.
Além de Chirveches, a comunidade de sobreviventes apontou a responsabilidade do também ex-provincial espanhol Ignacio Suñoly e de outros padres, alguns já falecidos, que participaram da comissão de investigação do caso Roma e não denunciaram este fato à Justiça.
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Bolívia: jesuítas admitiram encobrimento no caso de supostos abusos do padre espanhol Luis María Roma - Instituto Humanitas Unisinos - IHU