26 Março 2024
"Será mesmo que chegamos num ponto sem volta? Ou existe a esperança de que uma política ambiental voltada para a maioria da população prevaleça (...)", escreve Lauri Bernardes, historiador, presidente estadual e secretário-geral nacional do Movimento Cultural Darcy Ribeiro (MCDR), em artigo publicado pela página do PDT12, 28-10-2019.
“Os Yanomami, que constituem hoje o maior povo prístino da face da terra, começam a extinguir-se, vitimados pelas doenças levadas pelos brancos, sob os olhos pasmados da opinião pública mundial. São 16 mil no Brasil e na Venezuela. Falam quatro variantes de uma língua própria, sem qualquer parentesco com outras línguas, vivendo dispersos em centenas de aldeias na mata, ameaçados por garimpeiros que, tendo descoberto ouro e outros metais em suas terras, reclamam dos governos dos dois países o direito de continuarem minerando através de processos primitivos, baseados no mercúrio, que polui as terras e envenenam as águas dos Yanomami.”
Esse trecho acima, transcrito do livro O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil, de Darcy Ribeiro, corresponde ao primeiro parágrafo da página 300, publicado pela Companhia de Bolso, na sua 7ª reimpressão em 2010.
Esse relato parece uma notícia da mídia dos dias de hoje mas deve ser um relato de mais de uma geração (25 anos) para trás, porque o autor, historiador, antropólogo, sociólogo e político brasileiro, faleceu em 1997.
Assim, como estou lendo esse livro a conta gotas e vira e mexe preciso recorrer ao dicionário para entender alguns termos ao qual o autor se refere nessa sua obra, me chamou a atenção a palavra prístino. Segundo o bom e velho dicionário “Aurélio”, no formato livro de papel, prístino quer dizer, simplificadamente, antigo. Em outras palavras, nesse contexto, podemos entender que se trata de assunto sobre um povo antigo, com um problema antigo ou mesmo de uma repetição de um “Filme antigo” [1].
“Nunca é demais lembrar que a remediação dos solos e das águas é complexa e pode custar caro, como por exemplo, as extensas áreas contaminadas por mercúrio pela atividade predatória, ilegal e criminosa, como vem ocorrendo na Amazônia e invadindo território Yanomami. Então, como devemos proceder diante dessa agressão ao meio ambiente? Espera-se que esses invasores da Amazônia que há tempos vêm desmatando, queimando, grilando, garimpando e contaminando seus solos e águas sejam devidamente identificados, responsabilizados e punidos de acordo com a lei.
Mesmo que a legislação permita a destruição do maquinário para extração do ouro em território Yanomami, sob a alegação de que a retirada dessas áreas invadidas seria “inviável do ponto de vista logístico”, será que uma vez identificados os responsáveis não caberia a eles a responsabilização pela retirada desses equipamentos? Não seria uma solução razoável a transferência para outras áreas mais distantes da região Amazônica desses equipamentos (motores e bombas), onde poderiam sofrer adaptações e reaproveitados na captação de água, como em regiões mais carentes desse recurso? O Semiárido Brasileiro, que se estende por nove estados da região Nordeste e também pelo norte de Minas Gerais, poderia ser uma dessas áreas de transferência. Outros equipamentos, como tratores e escavadeiras poderiam ser confiscados e utilizados na etapa de escavação para remediação das áreas contaminadas, por exemplo.” [2]
“Isto posto, recebi comentários de profissionais que conhecem a Amazônia sobre a dificuldade para remoção de equipamentos dessa região e da possibilidade de retorno ao garimpo predatório, com a não esperada utilização da mão de obra local na recuperação das áreas degradadas. Contra-argumentei dizendo que, como “intervenção cirúrgica”, a destruição dos equipamentos pode valer algum impacto mas que continuava achando um desperdício, na visão de uma pessoa que nunca colocou o pé na Amazônia e não conhece, de perto, a realidade do garimpo predatório do ouro. E como uma vontade pessoal foi manifestada de conhecer essa maltratada região do planeta, um amigo chegou até a recomendar “Aproveite para conhecer antes que acabe”.
Será mesmo que chegamos num ponto sem volta? Ou existe a esperança de que uma política ambiental voltada para a maioria da população prevaleça, pois o atual governo federal voltou a usar imagens de satélites para detectar os desmatamentos ilegais, como divulgou a grande mídia nos últimos dias.” [3]
Para encerrar, além do citado livro “O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil” de Darcy Ribeiro, rica fonte de referência com sua vasta bibliografia, para lembrar deixamos aqui esse registro: “O legado de Darcy Ribeiro também inclui o Parque Nacional do Xingu (hoje Parque Indígena do Xingu), o Museu do Índio, o Memorial da América Latina, a Universidade Nacional de Brasília (que, por ideia dele, tem um “beijódromo”), o Monumento a Zumbi dos Palmares e o Sambódromo do Rio de Janeiro (que, por ele, seria utilizado como escola nos períodos fora do Carnaval).” [4]
[1] “Filme antigo” artigo de 24/05/2021. Disponível aqui.
[2] “Mercúrio que mata” artigo de 15/02/2023. Disponível aqui.
[3] “Conhecer a Amazônia antes que acabe” artigo de 03/12/2023. Disponível aqui.
[4] “Darcy Ribeiro: 100 anos do visionário que lutou por indígenas, pela educação e fugiu de UTI para concluir livro” artigo de 25/10/2022. Disponível aqui.
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Yanomami: o legado e a luta pela sobrevivência - Instituto Humanitas Unisinos - IHU