28 Janeiro 2023
O sangue dos indígenas, o sangue dos Yanomami, corre nas veias da Irmã Mary Agnes Njeri Mwangi. É verdade que a Missionária da Consolata nasceu no Quênia, mas desde sua chegada ao Brasil em 2000, ela sempre permaneceu na Missão Catrimani, local de presença dos Missionários da Consolata em meio a uma das cidades mais atacadas do país no século passado no Brasil.
A reportagem é de Luis Miguel Modino, publicada por ADN Celam, 26-01-2023.
Uma missão que o religioso vê como “uma presença de consolação, uma presença de defesa da vida, de promoção da vida”. Segundo ela, "também tem sido uma presença de ser mulher entre mulheres", algo que se materializou no trabalho com mulheres, nos encontros em diferentes regiões do território Yanomami.
Irmã Mary Agnes, que foi auditora da Assembleia Sinodal do Sínodo para a Amazônia, conta que aprendeu “a ser uma mulher de esperança e de resiliência, a sempre recomeçar, porque a vida aqui é muito corrida, às vezes há surtos epidemiológicos, invasão de território”. Ela insiste que “aprendi a sempre começar de novo, quando a vida parece não existir, sempre há a mão de Deus que vem ao nosso encontro e recomeçamos. Aprendi muito nessa forma de estar sempre disposto a recomeçar, a construir, a fazer algo novo, a me aprimorar, a ter calma, perseverança e amor na convivência”.
Está em numa região que tem passado por momentos muito difíceis e onde o momento presente é vivido com preocupação. Na Missão Catrimani, muitos indígenas desconhecem o que está acontecendo em outras regiões do território. Ali não existem meios de comunicação, as pessoas não têm acesso para ver as imagens, apenas são informadas pelo que é dito na rádio transmissora, segundo a Missionária da Consolata.
A freira insiste que "falta realmente uma presença, uma presença em muitas regiões Yanomami, pessoas que possam estar com eles, conversar com eles, compartilhar com eles, é isso que falta, a presença de pessoas que estão inseridas, que Eles podem dialogar com as pessoas neste momento, para que possam ouvir seus problemas e acompanhá-los no dia a dia. Nesse momento, as pessoas estão vivendo essa situação de desamparo, de estarem sozinhas”.
Os Missionários da Consolata acompanham algumas comunidades, mas, como em muitas partes da Amazônia, é uma região de difícil acesso. Os maiores problemas, os que estão aparecendo na mídia, ocorrem em regiões distantes da missão Catrimani, onde não conseguem chegar. "E mesmo que pudéssemos chegar até eles, estaríamos cavando um buraco aqui para preencher outro buraco em outra realidade", diz ele. Irmã Mary Agnes clama por ajuda, “as pessoas vivem nesta ausência de pessoas que realmente podem dar a vida e estar com elas. Estar lá por um tempo não é só ir e vir, mas ficar na região como uma presença.”
É um tempo de sofrimento para o povo que a missionária diz viver como uma experiência em que “o Senhor está a encorajar a minha vocação e também esta opção dos Missionários da Consolata de estar perto do povo, dos missionários”. Ele insiste na importância de “estar sempre presente, próximo das pessoas e colaborar no que pudermos”.
Ele chama a Igreja a ter uma presença maior. Recorde-se a missão de Xirei, uma das regiões mais afetadas atualmente, onde até 2006 existia uma comunidade religiosa, comunidade esta que saiu por falta de gente que pudesse continuar. Uma experiência que começou nos anos 90, quando a situação era tão grave quanto agora.
A freira disse que "hoje está pior, mas agora não existe essa presença, sinto que o Senhor está me pedindo, e espero que seja verdade, que a Igreja procure outros religiosos e religiosas que possam atuar em outras frentes em a terra Yanomami, porque aqui é a única presença da Diocese. Sinto esse chamado do Senhor, primeiro a afirmação da minha opção, da nossa opção como Consolata, missionários e missionárias de continuar aqui, mas também esse chamado à Igreja no Brasil e no mundo para tentar abrir outras frentes nessas realidades”.
Diante de tanta dor e sofrimento, afirma que "continuaremos lutando e unindo forças com este novo governo que tenta se articular e ajudar e com outras organizações civis", insistindo que "como Igreja somos chamados a unir forças com gente boa" . Uma esperança não só para Irmã Mary Agnes, mas para todo um povo que luta pela vida tão duramente castigado.
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Irmã Mary Agnes Njeri Mwangi: com os Yanomami aprendi "a ser uma mulher de esperança e superação, a sempre recomeçar" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU