20 Março 2024
"É bem verdade que certamente havia também muitos fiéis ortodoxos, entre os milhares de pessoas que ontem, de São Petersburgo a Moscou, de Kazan a Novosibirsk, de Irkutsk a Magadan, foram votar precisamente ao meio-dia, para dar assim – como, em vista das eleições, tinha sugerido a viúva de Aleksej Navalny, que morreu há poucas semanas numa prisão siberiana – um sinal de dissenso ao chefe do Kremlin, que nega as liberdades políticas; e também para tentar mostrar ao mundo que nem todos os russos são cegos e surdos às medidas antidemocráticas adotadas por Putin para vencer esmagadoramente nas urnas", escreve Luigi Sandri, jornalista italiano, em artigo publicado por L'Adige, 18-03-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Embora não tenha sido candidato nas eleições realizadas na Rússia de sexta-feira até ontem, Kirill, o Patriarca de Moscou, também saiu vitorioso das urnas que, pela quinta vez, confirmaram Vladimir Vladimirovic Putin como presidente da imensa Federação Russa.
De fato, as hierarquias da Igreja Ortodoxa do país, à qual, segundo o patriarcado, aderem cem milhões de fiéis, apoiaram fortemente a reconfirmação do chefe de Estado em saída, tanto pela sua política de cuidadosa atenção às necessidades, até econômicas, da religião hoje prevalecente na Rússia, como pela "sinfonia" perfeita, no plano ideológico, que caracteriza as relações, institucionais e pessoais, entre o patriarca de todas as Rússias e o chefe do Kremlin.
Portanto, a reconfirmação de Putin garante também a Kirill – nascido em 1946, patriarca de Moscou desde 2009 – a continuação das fortíssimas relações entre os dois que, cada um do seu lado, apoiam a legitimidade política e moral da "Operação Militar Especial" contra a Ucrânia.
Que o Chefe da Igreja sinta profundamente a vocação “messiânica” da Rússia para salvaguardar os princípios cristãos no mundo significa, para o presidente, uma formidável “assistência” que induz muitas pessoas ortodoxas a apagar qualquer hesitação e, portanto, a partilhar a justeza da “bênção” patriarcal para aqueles que lutam com armas contra a Ucrânia, em uma espécie de conflito metafísico que veria Moscou do lado do Bem e Kiev do lado do Mal. É bem verdade que certamente havia também muitos fiéis ortodoxos, entre os milhares de pessoas que ontem, de São Petersburgo a Moscou, de Kazan a Novosibirsk, de Irkutsk a Magadan, foram votar precisamente ao meio-dia, para dar assim – como, em vista das eleições, tinha sugerido a viúva de Aleksej Navalny, que morreu há poucas semanas numa prisão siberiana – um sinal de dissenso ao chefe do Kremlin, que nega as liberdades políticas; e também para tentar mostrar ao mundo que nem todos os russos são cegos e surdos às medidas antidemocráticas adotadas por Putin para vencer esmagadoramente nas urnas.
Foi, obviamente, um gesto simbólico para quebrar a unanimidade veiculada pelas emissoras de TV oficiais. Mas, ao que parece, por enquanto são muito raros os ortodoxos que ousam criticar publicamente a aventura da guerra contra Kiev. Com poucas exceções, neste momento o apoio moral e substancial da Igreja Ortodoxa russa à política do Kremlin parece inquebrantável e dominante.
Entretanto, como será o quinto mandato presidencial de Putin? Como terminará o confronto – se isso ocorrer – entre Moscou e Kiev? Será sempre acompanhado pela bênção do patriarca? Nunca veremos a revolta de uma parte significativa dos mais de quatrocentos bispos do patriarcado russo contra a política totalmente pró-Putin de Kirill? O futuro dirá.
Por enquanto sabemos que, na próxima Páscoa, em Moscou, o presidente estará rezando na Catedral de Cristo Salvador, ajoelhado diante do patriarca.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Rússia. Kirill também vence as eleições. Artigo de Luigi Sandri - Instituto Humanitas Unisinos - IHU