Ucrânia. “Bandeira branca”. ‘A palavra negociar é uma palavra corajosa’, afirma o Papa Francisco

Foto: Reprodução | Twitter

Mais Lidos

  • O “non expedit” de Francisco: a prisão do “mito” e a vingança da história. Artigo de Thiago Gama

    LER MAIS
  • "A ideologia da vergonha e o clero do Brasil": uma conversa com William Castilho Pereira

    LER MAIS
  • A luta por território, principal bandeira dos povos indígenas na COP30, é a estratégia mais eficaz para a mitigação da crise ambiental, afirma o entrevistado

    COP30. Dois projetos em disputa: o da floresta que sustenta ou do capital que devora. Entrevista especial com Milton Felipe Pinheiro

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

11 Março 2024

O Papa Francisco sugere à Ucrâniaa coragem da bandeira branca”, ou seja, a negociação como saída da guerra da Rússia no país. Quanto ao Hamas e a Israel, “os irresponsáveis são estes dois que estão em guerra”.

A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi, publicada por La Repubblica, 09-03-2024.

Jorge Mario Bergoglio voltou a falar de guerra e paz numa entrevista publicada nos últimos dias mas divulgada no início de fevereiro pela Rádio e Televisão Suíça (RSI). O contexto é uma revista cultural que dedica cada episódio a uma cor: o Pontífice é entrevistado de branco, a cor da sua túnica, mas também da paz. Na Ucrânia, diz-lhe o entrevistador Lorenzo Buccella, há quem peça a coragem da rendição, da bandeira branca; para outros, isso legitimaria os mais fortes: o que você acha?

“É uma interpretação”, responde o Papa, “mas acredito que quem vê a situação, quem pensa no povo, quem tem a coragem de levantar a bandeira branca e de negociar é mais forte”.

O caminho da negociação diplomática

"E hoje podemos negociar com a ajuda das potências internacionais. A palavra negociar é uma palavra corajosa. Ao ver que está derrotado, que as coisas não vão bem, é preciso ter coragem de negociar. Você tem vergonha, mas com quantas mortes isso vai acabar? Negocie a tempo, procure algum país para atuar como mediador. Hoje, por exemplo, na guerra na Ucrânia, há muitos que querem atuar como mediadores. A Turquia se ofereceu para isso. E mais: não tenha vergonha de negociar antes que as coisas piorem".

O conceito não é novo no raciocínio do Papa, que sempre defendeu, despertando o descontentamento em Kiev, a via diplomática como única alternativa viável para a continuação da guerra. Mas a menção à “bandeira branca” levanta a ideia de uma rendição, negada pelo pelo próprio Vaticano.

“Negociação nunca é uma rendição”

O Papa, assinala o porta-voz da Santa Sé, Matteo Bruni, usa o termo bandeira branca e responde retomando a imagem proposta pelo entrevistador, para indicar com ela a cessação das hostilidades, a trégua alcançada com a coragem de negociação.

Noutra parte da entrevista, falando de outra situação de conflito, mas referindo-se a todas as situações de guerra, o Papa afirmou claramente: “a negociação nunca é uma rendição”. A esperança do Papa, prossegue o porta-voz vaticano, "continua a ser aquela que sempre se repetiu nos últimos anos", ou seja, “uma solução diplomática em busca de uma paz justa e duradoura”.

Hamas e Israel “irresponsáveis”

Na entrevista o Papa também critica o Hamas e Israel: "Todos os dias às sete da tarde ligo para a paróquia de Gaza. Lá vivem 600 pessoas e contam o que veem: é uma guerra”, diz. "E a guerra", especifica, "é feita por duas pessoas, não por uma. Os irresponsáveis são esses dois que fazem a guerra. Depois não há apenas a guerra militar, há a 'guerra de guerrilha', por assim dizer, do Hamas por exemplo, um movimento que não é um exército. É uma coisa ruim".

O próprio Francisco propôs negociar: “Estou aqui, ponto final”, diz Bergoglio. "Enviei uma carta aos judeus de Israel para refletir sobre esta situação. A negociação nunca é uma rendição. É a coragem de não levar o país ao suicídio. Os ucranianos, com a história que têm, coitados, os ucranianos do tempo de Stalin, quanto sofreram...".

 Leia mais