28 Fevereiro 2024
O mesmo país que quer liderar a transição energética global não definiu sequer prazos intermediários para reduzir uso e produção de petróleo, gás e carvão.
A informação é publicada por ClimaInfo, 26-02-2024.
O Brasil tem uma das matrizes elétricas mais limpas do mundo. Também se destaca no uso de biocombustíveis, como o etanol e o biodiesel. São boas credenciais para que o país assuma o protagonismo na transição energética global. Entretanto, esse mesmo país não sinalizou quando vai começar a reduzir a produção e o consumo de combustíveis fósseis. E no que depender do atual comando da Petrobras e de algumas alas do governo, a ideia é retirar petróleo do solo “até a última gota”.
No final de janeiro, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, assinou um acordo de cooperação com a Agência Internacional de Energia (IEA, sigla em inglês) para acelerar a transição energética no país e no mundo. Mas até agora não há uma data para abrir mão dos combustíveis fósseis, lembra a Folha.
“A nossa política hoje não é de transição energética. Ela ainda é, principalmente até 2030, de expansão desses combustíveis”, avaliou Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa.
Ela ressalta que o Novo PAC demonstra essa disparidade. A maior parte dos R$ 565,4 bilhões previstos no eixo de transição e segurança energética do programa é destinada a combustíveis sujos: 64% do total devem ir para a indústria de óleo e gás e apenas 12% para a geração de energia renovável.
No entanto, “transição energética” não sai das bocas de representantes do governo. Segundo a diretora de infraestrutura, transição energética e mudança climática do BNDES, Luciana Costa, o Brasil chega à transição energética com metade da infraestrutura que deveria ter, apesar das vantagens comparativas do país, relata o Estadão. O problema é que Luciana costuma associar “transição energética” à expansão dos combustíveis fósseis. Se essa é a “metade da infraestrutura” que falta, o Brasil e o clima do planeta estão perdidos.
Assim, iniciativas do governo trazem mais dúvidas do que certezas de que estamos a caminho de eliminar os combustíveis fósseis. É o caso do Plano Nacional de Transição Energética (Plante), cuja implementação foi tratada semana passada pelo Ministério de Minas e Energia (MME) e o BNDES. O Plante vai envolver propostas de leis e decretos sobre temas como mineração, energia e biocombustíveis para destravar investimentos, detalha o EnergiaHoje, e está dentro da Política Nacional de Transição Energética (PNTE). O problema é que essa política ainda está sendo elaborada. E sob liderança do MME, que defende mais exploração de petróleo e gás fóssil.
O BNDES também estuda com a Petrobras a estruturação de um fundo de CVC (corporate venture capital) para apoiar micro, pequenas e médias empresas de base tecnológica, informa a Folha. A ideia é identificar setores promissores para o investimento, considerando temas relacionados à transição energética e que estejam alinhados às estratégias de longo prazo das instituições.
Aí é que mora o perigo: sob a alcunha da transição energética, tanto o banco estatal de fomento como a petroleira insistem em mais investimentos em combustíveis fósseis. E uma coisa não casa com outra. Se for “até a última gota de petróleo”, não só o Brasil joga fora seu protagonismo em energia limpa, como reduz ainda mais as já difíceis chances de mantermos os 1,5ºC de aumento da temperatura sobre os níveis pré-industriais combinados no Acordo de Paris.
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Brasil não tem plano definido para eliminar os combustíveis fósseis - Instituto Humanitas Unisinos - IHU