29 Janeiro 2024
"A jovem - declara o escritor - continua a repetir as bem-aventuranças e o valor da gratidão enquanto vai ao encontro do carrasco. E numa carta aos pais escreve que morre feliz por ter vivido com dignidade e coragem essa história, afirmando também que estaria pronta para fazer de novo tudo o que fez."
A entrevista com Francesco Comina é de Eugenio Bonanata, publicada por L'Osservatore Romano, 15-01-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
“São histórias para contar especialmente aos jovens para que se tornem intérpretes de uma memória viva". Francesco Comina afirma isso sobre o seu livro La lama e la croce [A Lâmina e a Cruz], que conta a história de pessoas que morreram por se opor ao nazismo pelo impulso do Evangelho. "Trata-se de religiosos, leigos, jovens, mulheres que tiveram a coragem de dizer um firme não àquele sistema”.
Alguns se tornaram bastante conhecidos. Como o agricultor austríaco Franz Jägerstätter e o membro da Ação Católica alemã Josef Mayr-Nusser, ambos beatificados pela Igreja.
Mas há centenas ou talvez milhares de pessoas que ainda estão nas sombras: “Histórias ainda enterradas na memória do antirracismo na Alemanha", ressalta Comina, refletindo sobre o que deu origem a esse tipo de esquecimento. “É uma pergunta que, como intelectuais, nos fazemos”, explica. “Alguns eventos, como os do grupo de resistência Rosa Branca, tiveram a sorte de cruzar com intelectuais de primeiro plano do calibre de Romano Guardini e Thomas Mann. Outros, no entanto, não encontraram pessoas que se interessaram por eles e, portanto, há uma memória ainda em grande parte a ser resgatada, a estudar, interpretar e investigar.
Essa - repete - penso que seja a tarefa dos historiadores do nosso presente."
Comina seguiu os critérios da investigação. “Recolhi tudo de fontes alemãs, como brochuras e livretos: procurei entre documentos já publicados, mas sempre por círculos pequenos, nunca traduzidos para o italiano e, portanto, em grande parte desconhecidos". Assim emergiu mais claramente o carisma de alguns sacerdotes guilhotinados, como o padre pacifista Max Josef Mezger e o religioso palotino Franz Reinicie. De uma forma totalmente casual fiquei sabendo de Heinrich Dalla Rosa, padre antinazista nativo de Lana, na província de Bolzano, que também foi decapitado (na Áustria, em 1945). “Entrando numa igreja em Milão – explica Comina – vi uma placa comemorativa dessa figura e então fui me informar. Mas no Alto Adige não se sabe quase nada sobre sua história".
Os testemunhos são todos muito fortes. “O elemento comum é o fato de ter colocado em primeiro lugar a defesa da própria consciência e dos valores da fé”. Isso também é confirmado pela biografia de Eva-Maria Buch, uma berlinense de 21 anos que acabou na forca por sua atividade na organização rotulada pelos nazistas com o termo Rote Kapelle (orquestra vermelha). "A jovem - declara o escritor - continua a repetir as bem-aventuranças e o valor da gratidão enquanto vai ao encontro do carrasco. E numa carta aos pais escreve que morre feliz por ter vivido com dignidade e coragem essa história, afirmando também que estaria pronta para fazer de novo tudo o que fez."
Em vista do Dia da Memória, o livro relembra a importância de divulgar que na época sombria do nazismo, muitos sentiram a desconexão radical entre a realidade e as suas crenças. "Viveram totalmente para os outros, afirmando com força e coragem cívica ‘a minha vida tem valor, se tiver valor a vida dos outros’. E testemunharam que diante de leis consideradas injustas existe o direito de objeção – conclui Comina – viver o Evangelho como práxis de libertação do mal”.