15 Janeiro 2024
Walter Klingenbeck é um jovem de Munique. Um jovem como tantos outros, com sonhos e medos.
E acima de tudo, o desejo de um futuro de paz. Mas sua vida termina em um dia de verão em 1943, aos 19 anos. Sua cabeça rola da guilhotina. Motivo: agiu contra o nazismo. Eram os tempos da “Rosa Branca”, movimento de resistência estudantil contra o Führer: os ativistas acabaram como Klingenbeck. Walter agia de forma independente: “Ele tinha apenas 18 anos quando teve a audácia de dizer que ‘Hitler não deveria ter uma boca tão grande’”.
A reportagem é de Domenico Agasso, publicada por La Stampa, 13-01-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Francesco Comina conta isso no livro La lama e la croce. Storie di cattolici che si opposero a Hitler (A Lâmina e a Cruz. Histórias de católicos que se opuseram a Hitler, em tradução livre, Libreria Editrice Vaticana, a ser lançado na segunda-feira). O livro, resultado de pesquisa de arquivo e diálogos com os herdeiros desses mártires na Itália, Áustria e Alemanha, conta histórias de crentes em Cristo que, na própria pele e de muitos outros, desafiaram a loucura assassina do Reich, recusando a adesão da maioria ou a submissão da maioria.
La lama e la croce. Storie di cattolici che si opposero a Hitler
A sua mensagem foi a resistência civil e o testemunho cristão. O viés da obra de Comina não é apologético. Em 176 páginas vibrantes, podem ser lidas histórias dramáticas, algumas já conhecidas, outras não, de heróis antinazistas que agiram em nome do Evangelho além da consciência. Klingenbeck, um entusiasmado jovem bávaro, é um deles. “Era um dos contatos da organização católica Jungschar da comunidade paroquial de São Ludovico. Ele talvez tenha sido o mais ativo, o mais corajoso, o mais culto".
Ele reúne ao seu redor um punhado de pares e inicia ações de resistência não violenta e se sensibilização antinazista. Esses jovens tenazes projetam um “drone”, uma aeronave telecomandada, para espalhar folhetos com o objetivo de despertar a consciência da população. O círculo Klingenbeck cria uma estação de rádio clandestina. Pinta nos muros de edifícios simbólicos ligados aos Aliados. Tenta com criatividade sacudir a opinião pública. Mas será parado. Walter é preso. E ele será o único do grupo cuja cabeça será cortada. O mesmo destino cabe a dois pais de família, para a Igreja beatos Franz Jägerstätter (o agricultor austríaco que ficou famoso pelo filme que Terrence Malick lhe dedicou, Uma vida oculta) é eliminado em 9 de agosto de 1943 após ser trancado na mesma prisão de Dietrich Bonhoeffer.
E depois Josef Mayr-Nusser, líder juvenil da Ação Católica do Alto Tirol (AC): “Se ninguém tiver a coragem de se opor a isso, o Nacional-Socialismo nunca terá fim”. Convocado pelo exército alemão, se recusa a jurar a Hitler e, portanto, é enviado para Dachau. Ele morre por privações na viagem para o campo de concentração, em 24 de fevereiro de 1945.
Comina traçou um fio condutor entre Mayr-Nusser e o batalhão Brixen, composto por jovens do Alto Ádige. Uma história incrível: cerca de 2 mil novos recrutas em fevereiro de 1945 em Bressanone não prestam o esperado juramento de sangue ao Führer. “Em toda a história do Terceiro Reich, não se encontra precedente desse tipo" observa o historiador Lorenzo Baratter. Punição para os rebeldes deixados em silêncio: enviado para a Silésia como "bucha de canhão". Detalhe, muitos daqueles jovens haviam sido educados por Mayr-Nusser na AC.
O autor fala de três mulheres. A Irmã Maria Angela Autsch, “culpada” por ter dito não ao nazismo na Áustria e por isso enviada para Auschwitz. No campo de concentração trabalha muito para ajudar outros prisioneiros do "mal absoluto e absurdo" nos galpões da morte. Eles a chamam de “o anjo de Auschwitz”. Cai sob um bombardeio em 23 de dezembro de 1944. Eva-Maria Buch e Maria Terwiel, ativas em Berlim nas redes de resistência ao Reich, são presas pela Gestapo. E guilhotinadas. Elas faziam parte da Rote Kapelle (Orquestra Vermelha): os nazistas também matam o marido de Maria, Helmut. Eva-Maria vai para forca lendo a página evangélica das Bem-aventuranças.
Depois, três padres. Max Josef Metzger é decapitado em 17 de abril de 1944: ele escreveu a Hitler pedindo-lhe para depor as armas. Franz Reinisch, estudante religioso também em Brunico e Bolzano: “Posso jurar fidelidade ao povo alemão, nunca a um homem como Hitler”. Sua cabeça rola em 21 de agosto de 1942. Dom Heinrich Dalla Rosa, de Bolzano, foi traído por alguns vizinhos: não nega a sua oposição à ditadura nacional-socialista e em 24 de janeiro de 1945 a sua existência termina brutalmente. “Essas testemunhas – escreve Comina – decidem seguir o caminho da justiça até colocar suas vidas em jogo. Agiram em nome de um Evangelho que continua a ser vivido mesmo nas dobras mais vergonhosas da História. Morreram por amor. Por amor demais".
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Contra Hitler em nome de Deus. Os mártires cristãos no Terceiro Reich - Instituto Humanitas Unisinos - IHU