Entre as coisas contadas por Edith Bruck, a poetisa húngara que sobreviveu aos campos de concentração que recebeu a visita do Papa Francisco no sábado, há duas pessoas que, no campo de concentração de Bergen-Belsen, com a solenidade de um testamento lhe pediram: "Conte a todos, eles não vão acreditar, mas se você sobreviver conte, também por nós".
O comentário é de Tonio Dell'Olio, presidente da Pro Civitate Christiana, publicado por Mosaico di Pace, 22-02-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Foi lá que essa mulher miúda, magra e tímida aprendeu o poder da narrativa. A narrativa que penetra na própria memória para despertar a memória do outro. Contar como a habilidade de cravar com formão na consciência de quem escuta.
E foi justamente essa força que despertou também os passos de um Papa que em um Shabat de fevereiro decidiu visitar Edith.
Porque na voz e na caneta desta mulher está o valor do testemunho que sabe fazer-se voz: “Conte também por nós”.
E ela também escolheu por fazê-lo com a poesia que transforma as palavras em passo de dança sem anestesiar a dor e sem por isso torná-la mais humana. Ao contrário, aqueles versos abrem os lábios do passado e presenteiam questionamentos ao presente para se estender, cheios de esperança, para um futuro que seja novo.
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