17 Novembro 2023
“Muitas vezes vocês se sentiram à margem da vida eclesial. Mas sem vocês os modelos de evangelização seriam mais obsoletos": disse o Cardeal Zuppi ao se encontrar com os sacerdotes trabalhadores. 38 anos depois da CEI “suspender” esse caminho inovador. “Vocês nos ensinaram que na Igreja é possível ser tanto sacerdote quanto trabalhador, sem conjunções e sem forçar situações”.
A reportagem é de Enrico Lenzi, publicada por Avvenire, 16-11-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
As palavras do Cardeal Matteo Zuppi, Arcebispo de Bolonha e Presidente da Conferência Episcopal Italiana, surpreendem e comovem a plateia de sacerdotes que tiveram – ou ainda têm – a experiência de padre operário. E Zuppi acrescenta não só o “obrigado por vocês terem acreditado naquele modelo de serviço à Igreja e se dedicarem a ele com todo o seu ser", mas também o reconhecimento que “muitas vezes se sentiram à margem da vida eclesial. Do centro é mais difícil compreender as periferias”. Palavras fortes, que de alguma forma tentam consertar um “corte” que remonta a 38 anos atrás, quando a experiência do sacerdote no mundo do trabalho foi progressivamente abandonada.
A Igreja mudou nestas quase quatro décadas e também dessa consciência nasceu o seminário nacional realizado em meados de junho em Bolonha por iniciativa do Departamento nacional para os problemas sociais e o trabalho, liderado por Dom Bruno Bignami. Pode-se, portanto, entender a emoção dos cerca de cinquenta padres operários presentes, dos 120 que existem na Itália. São poucos os jovens, enquanto a grande maioria já abandonou há tempo o mundo do trabalho, mas só porque se aposentaram.
“Palavras importantes – comenta Dom Roberto Fiorini, nascido em 1937 e padre operário em Mântua - porque parece ter crescido a consciência de que a vinha do Senhor está em toda parte, até no mundo do trabalho”. Ele tem uma longa experiência em sua história na Acli de Mantua e depois no mundo da saúde como enfermeiro geral. “Foi uma escolha minha, que discuti com o meu bispo – conta ele – mas a responsabilidade final cabia a mim. Afinal caminhamos na esteira do Vaticano II. E Paulo VI também ressaltou em muitas ocasiões a importância de estar presentes no mundo do trabalho. Mas em muitas Igrejas locais e nacionais houve resistência e no final em 1985 a experiência dos padres operários foi declarada encerrada pela CEI", lembra Dom Fiorini.
No entanto, a experiência dos padres operários está prevista no decreto sobre o ministério e a vida dos sacerdotes “Presbyterorum ordinis”, fruto do Concílio Vaticano II, onde no ponto 8 afirma-se que todos os padres fazem parte da comunidade diocesana “quer exerçam o ministério paroquial, quer se dediquem à investigação científica ou ao ensino, quer se ocupem em trabalhos manuais compartilhando a sorte dos operários, onde isso pareça conveniente e a competente autoridade o aprove".
Mas depois uma progressiva difusão - os últimos dados disponíveis datam de 1989 e falam de 110 padres operários, concentrados principalmente no Veneto (25), Lombardia (22), Piemonte (17) e Lácio (13) – faltou a essa experiência a aprovação das autoridades competentes, que decretou o seu fim, não só na Itália. No entanto, vários continuaram o seu trabalho, sentindo-se, porém, como o próprio Cardeal Zuppi reconheceu, “à margem da vida eclesial”.
Nenhuma tentativa de passar uma borracha sobre o passado, obviamente, mas dentro da Igreja, mesmo com o pontificado de Francisco, aumentou a necessidade de se colocar em diálogo com e no mundo. Os padres operários provavelmente foram os precursores do atual convite a ser uma “Igreja em saída”. “Vocês não se resignaram a ver uma Igreja autorreferencial, enquanto perdia a capacidade de estar presente nos âmbitos de trabalho", disse ainda o presidente da CEI aos sacerdotes presentes no encontro de Bolonha.
"Penso que hoje chegou o momento de reiterar de todas as maneiras que a sua é uma experiência de Igreja. Sem vocês, os modelos de evangelização seriam mais obsoletos”. Um forte reconhecimento que não quer relegar essa experiência eclesial apenas ao passado ou aos pontos críticos que em alguns momentos pode ter evidenciado. Certamente um diálogo que recomeça. Depois de trinta e oito anos.