25 Agosto 2016
O que aconteceu nesta madrugada em Amatrice (Itália) voltará a ocorrer. Isso é o que afirma Raúl Madariaga, sismólogo e professor de geofísica na Escola Nacional de Paris, que conhece bem os problemas sísmicos da Itália. O especialista trabalha com os riscos sísmicos da região de Úmbria desde que, em 1979, aconteceu um terremoto parecido com o da última madrugada na cidade de Nórcia. Também pesquisou o de Áquila, que acabou com a vida de 309 pessoas em 2009. “Trata-se de uma zona que, a cada poucos anos, é afetada por um terremoto que assola a região de Úmbria”, explica Madariaga. Mas o sismólogo não culpa o terremoto em si pelas consequências, mas a má qualidade das construções nas velhas cidades. “Na realidade, os terremotos são muito superficiais. O que acontece é que os prédios são muito antigos, não estão bem conservados e foram construídos com materiais muito frágeis. Não estão preparados para resistir aos terremotos”, explica.
A reportagem é de Marya González Nieto, publicada por El País, 24-08-2016.
As cidades do centro da Itália, explica Madariaga (nascido em Santiago, do Chile, em 1944), estão construídas sobre uma série de falhas muito ativas e próximas da superfície. Estas falhas rompem-se regularmente e produzem abalos sísmicos, mas de magnitudes moderadas. “Em algumas ocasiões, os terremotos alcançam a magnitude 6, e são nesses casos que acontecem muitos danos às estruturas antigas, que estão mal conservadas”, conta. O terremoto de Amatrice foi de 6,2 pontos, mas Madariaga garante que se trata de um terremoto muito superficial, como todos os registrados na região, dentro da categoria que os sismólogos consideram normal.
“O terrível desses terremotos são as consequências, porque geralmente muitas pessoas morrem. Mas isso não acontece pela intensidade do terremoto, nem pela sua duração, mas porque, na região central da Itália, encontramos edifícios muito velhos e de muita má qualidade. São construções que nunca foram pensadas para resistir a terremotos”, conta. Madariaga afirma que, nas fotos do desastre, é possível ver perfeitamente que as casas contam com simples paredes de pedra, que caem com facilidade. Além disso, muitas das cidades estão construídas sobre grandes subterrâneos, que podem ser antigos armazéns, onde grãos eram guardados durante a antiga Roma. Ou grandes garagens modernas. “Esses subterrâneos são muito perigosos porque, ao afundarem, arrastam junto muitos edifícios”, explica.
Madariaga não consegue evitar comparações com o terremoto de 2009, em Áquila. “Os dois abalos sísmicos são muito parecidos”, assegura. Os dois ocorreram de madrugada, por volta das 3h da manhã, quando a maior parte da população estava dormindo em suas casas. Ambos registraram uma magnitude similar, superior a 6. E os dois ocorreram em locais separados por 60 quilômetros. Há apenas uma diferença principal, que é demográfica. Áquila é uma cidade de 70.000 habitantes, e Amatrice, de 700. A outra cidade afetada pelo terremoto desta madrugada é Accumoli, com 2.700 habitantes. Ambas estão na província de Perugia. E as construções eram parecidas nas duas cidades.
Madariaga reconhece que se trata de um problema muito difícil de ser solucionado. “Continuará havendo terremotos na região central da Itália e é impossível prevê-los”, afirma. A única coisa que as cidades antigas podem fazer é reforçar as casas com vigas de aço e escorar os edifícios. Mas isso tem um custo muito elevado e, no caso de Amatrice, o sismólogo lembra que é uma cidade localizada em uma região muito pobre da Itália. “O ideal seria derrubar os prédios antigos e construí-los novamente”, acrescenta Madariaga, embora reconheça que isso poderia ser mais um problema que uma solução. “Mas agora existe o conhecimento para fazer construções que resistem aos terremotos, mediante engenharia sísmica”, conta.
Madariaga recorda que, depois do terremoto de Áquila, houve mais terremotos que provam sua teoria, como o do Chile, o do Japão e o do Equador. Os dois primeiros foram muito mais fortes, em intensidade, que o do Equador, mas os edifícios resistiram, enquanto os do Equador, não. “Ali vimos que os edifícios podem resistir aos tremores, por mais fortes que sejam. Precisam apenas estar preparados”, conta. A chave está em fazer edifícios que resistam aos terremotos. “Mas o que fazemos com as cidades antigas?”, pergunta-se Madariaga.
Anna Scolobig, pesquisadora do Instituto Federal Suíço de Tecnologia e especialista em planificação e redução de riscos em desastres naturais, afirma que 23 milhões de pessoas na Itália vivem em zonas altamente sísmicas e reconhece que por volta de 60% dos edifícios não estão construídos de acordo com critérios antissísmicos. “Depois do terremoto de Áquila, entrou em vigor um novo código de construções na Itália, inspirado na legislação europeia”, explica. Esses novos códigos serão aplicados na reconstrução das cidades afetadas pelo último terremoto.
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“Um terremoto como o de Amatrice voltará a acontecer” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU