E a montanha pariu... Artigo de Christine Pedotti

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03 Novembro 2023

"Como não ficar com raiva diante de tamanha estupidez e obscurantismo? Como não sentir vergonha ao ver esta Igreja que ousa mostrar tamanha arrogância e ao mesmo tempo pede para ser ouvida nos temas do acolhimento dos pobres e do combate às desigualdades, sem sequer perceber que as mulheres são os metecos da Igreja", escreve Christine Pedotti, fundadora do Comité de la jupe com a biblista Anne Soupa, intelectual feminista, católica de esquerda, escritora e jornalista. O artigo é publicado por Témoignage chretien, 02-11-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis o artigo.

É verdade que o Vaticano é uma colina e não uma montanha, mas dá no mesmo. O Sínodo “sobre a sinodalidade”, que ao longo do caminho foi chamado “para o futuro da Igreja”, acaba de concluir a sua primeira sessão. Dentro de um ano recomeçaremos a “conversar no Espírito” para propor caminhos para o futuro, caminhos que caberá ao Papa validar ou não nos meses sucessivos, visto que as conclusões finais não são de forma alguma vinculantes. Aliás, o “Espírito”, sempre invocado, poderia indicar outras direções ao Papa. Deixo aos teólogos dogmáticos a explicação desta espécie de quadratura do círculo, em que o Espírito sopra com mais autoridade numa única cabeça, aquela do Papa, do que naquela de algumas centenas de batizados, bispos, padres, religiosos e leigos.

Mas antes mesmo de esperar que a palavra do pontífice caia do céu, é preciso dizer que as primeiras conclusões deste primeiro ciclo do Sínodo são cautelosas a ponto da insignificância. Deixando de lado os silêncios mais do que eloquentes sobre a inclusão das pessoas LGBT, há uma frase de nada sobre as implicações teológicas e espirituais que poderia ter a revogação da obrigação do celibato para os padres e, cúmulo da hipocrisia, sobre as mulheres e o seu possível acesso ao diaconato, há esta simples proposta: "Continuar a investigação teológica e pastoral sobre o acesso das mulheres ao diaconato". Essas poucas palavras já atraíram o maior número de “não”, em nome da Tradição. Esse ídolo erguido no pedestal da sua letra maiúscula esconde sobretudo a frieza e a preguiça intelectual daqueles não querem ver nada, não querem ouvir nada, não querem mudar nada e para os quais, afinal, as mulheres são, para toda a eternidade, as assistentes da masculinidade.

Como não ficar com raiva diante de tamanha estupidez e obscurantismo? Como não sentir vergonha ao ver esta Igreja que ousa mostrar tamanha arrogância e ao mesmo tempo pede para ser ouvida nos temas do acolhimento dos pobres e do combate às desigualdades, sem sequer perceber que as mulheres são os metecos da Igreja, cidadãs de segunda classe sem direitos... Mas, para não ofender o futuro e a esperança, aguardemos o próximo ano.

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