“Depois de 12 anos deixo uma revista dirigida com o olhar de Francisco”. Entrevista com Antonio Spadaro

Antonio Spadaro e Papa Francisco (Foto: CNS | L'Osservatore Romano)

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19 Setembro 2023

Dirigiu a revista dos jesuíta La Civiltà Cattolica durante 12 anos, tantos quantos Bartolomeu Sorge, que considera um ponto de referência. Sob sua direção, a revista foi mais global e muito próxima ao Papa Francisco. O padre jesuíta Antonio Spadaro, figura de grandes relações, na apresentação de seu livro O Atlas de Francisco contou com a presença de Giorgia Meloni e do secretário de Estado do Vaticano, Pietro Parolin, assumirá agora o cargo de subsecretário do Dicastério para a Cultura e a Educação. As más línguas, com interesses dentro da Igreja não próximos do Papa, descrevem a mudança como um rebaixamento, mas ele ri e mal pode esperar para assumir a nova função.

A entrevista é de Salvatore Cannavò, publicada por Il Fatto Quotidiano, 16-09-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis a entrevista.

Como foram esses 12 anos?

Em primeiro lugar, duraram o tempo certo, uma missão igual àquela de Sorge parece-me indicativa. É a duração em que foi possível incidir, propor e realizar grandes inovações respeitando a tradição.

Qual foi a alma da revista?

Desde o primeiro momento senti que tinha nas mãos a mais antiga revista da cultura italiana, mas também uma revista militante, capaz de se inserir no debate cultural. Não como resíduo da história, mas capaz de incidir no presente.

Desde o início houve um forte vínculo com o Papa, ele também da Companhia de Jesus, que definiu a revista como “única em seu tipo”.

Com a eleição de Francisco em 2013, ficou claro que La Civiltà Cattolica ajudaria o Pontificado. Na minha primeira conversa com o Pontífice compreendi que, embora sempre tivesse me ocupado de cultura, tinha que redefinir minhas prioridades, ocupando-me de temas culturais com o olhar de Francisco. E apoiando a sua forte ideia para a Igreja.

A revista tinha um forte viés internacional.

Uma revista cultural não pode ter apenas a Itália como horizonte. Envolvemos 200 jesuítas de todo o mundo, publicamos nove edições que não são a tradução daquela italiana, mas têm um caráter específico, demos um forte impulso a uma revista de política internacional com um viés crítico que, por vezes, causou dores de cabeça aos vários embaixadores.

A paz é inerente à Igreja. Existe hoje um impulso maior?

A invocação de Francisco está em perfeita continuidade com a doutrina da Igreja, pensemos em João XXIII. Está em curso uma reformulação da ordem mundial e há plena consciência de que existem imperialismos que se confrontam. O Papa é um padre, não um político e a sua visão tende para a reconciliação e o diálogo. Não se pode pedir-lhe um apoio a conflitos ou guerras.

Hoje é a única autoridade moral de valor global e isso nem sempre é aceito.

Você está se referindo às polêmicas geradas pelo seu discurso sobre a “grande Rússia”?

Francisco é o único que fala com grande clareza contra todas as formas de imperialismo, seria ridículo imaginar que ele apoie qualquer um deles. Aquele discurso devia ser corretamente contextualizado, pegando o seu valor cultural e a paz como seu fulcro.

Que prioridades terá em sua nova função?

O ponto importante será compreender como a mensagem do Evangelho se encarna na cultura contemporânea em todas as suas expressões. Teremos que envolver o Dicastério para a Cultura e a Educação nas dinâmicas da realidade.

Essa parece uma forma mais “alta” de fazer política?

Claro, mas para entrar onde o diálogo acontece, participe nos fóruns de discussão que já existem, nas exposições de cinema, nas feiras do livro, nos debates sobre a política.

Os jesuítas parecem ter retornado, com Francisco, ao centro do Vaticano. Vocês são tratados de jeito especial?

Francisco é um jesuíta, mas não creio que tenha havido qualquer forma de privilégio. La Civiltà Cattolica sempre teve uma relação com o Papa, também com Paulo VI e até com Pio XII.

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