07 Junho 2023
O artigo é de José Antonio Pagola, teólogo e padre espanhol, publicado por Religión Digital, 05-06-2023.
Empobreceríamos seriamente o conteúdo da Eucaristia se esquecêssemos que nela nós, os crentes, devemos encontrar o alimento que alimentará a nossa existência. É verdade que a Eucaristia é uma refeição partilhada por irmãos que se sentem unidos na mesma fé. Mas, embora esta comunhão fraterna seja muito importante, ainda assim é insuficiente se nos esquecermos da união com Cristo, que nos é dado como alimento.
Devemos dizer algo semelhante sobre a presença de Cristo na Eucaristia. Esta presença sacramental de Cristo no pão e no vinho foi sublinhada, e com razão, mas Cristo não está ali apenas para estar; está presente oferecendo-se como alimento que sustenta nossas vidas.
Se quisermos redescobrir o significado profundo da Eucaristia, devemos recuperar o simbolismo básico do pão e do vinho. Para sobreviver, o homem precisa comer e beber. E este simples fato, às vezes tão esquecido em sociedades satisfeitas com o bem-estar, revela que o ser humano não se baseia em si mesmo, mas vive misteriosamente recebendo a vida.
A sociedade contemporânea está perdendo a capacidade de descobrir o significado dos gestos básicos do ser humano. No entanto, são estes gestos simples e originais que nos devolvem à nossa verdadeira condição de criaturas, que recebem a vida como um dom de Deus.
Concretamente, o pão é o símbolo eloquente que condensa em si tudo o que o alimento significam para a pessoa. É por isso que o pão tem sido venerado em muitas culturas de forma quase sagrada. Mais de um ainda se lembrará de como nossas mães nos fizeram beijá-lo quando, por engano, um pedaço caiu no chão.
Mas, visto que nos chega da terra à mesa, o pão tem de ser trabalhado por quem semeia, aduba a terra, colhe e apanha as espigas, moe o trigo, cozinha a farinha. O vinho envolve um processo ainda mais complexo na sua produção.
Por isso, quando o pão e o vinho são apresentados no altar, diz-se que são “o fruto da terra e obra do homem”. Por um lado, eles são "frutos da terra" e nos lembram que o mundo e nós mesmos somos um dom que surgiu das mãos do Criador. Por outro lado, são o "fruto do trabalho", e significam o que os homens fazem e constroem com o nosso esforço conjunto.
Aquele pão e aquele vinho se tornarão “pão da vida” e “cálice da salvação” para os crentes. Ali nós, cristãos, encontramos aquele “verdadeiro alimento” e “verdadeira bebida” que Jesus nos fala. Alimentos e bebidas que alimentam nossa vida na terra, nos convidam a trabalhá-la e melhorá-la, e nos sustentam enquanto caminhamos para a vida eterna.
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A sociedade contemporânea está perdendo a capacidade de descobrir o significado dos gestos básicos. Artigo de José Antonio Pagola - Instituto Humanitas Unisinos - IHU