17 Janeiro 2023
As imagens falam. Em 10 de janeiro, a declaração de intenções sobre o uso ético da inteligência artificial – a “Rome Call for AI Ethics”, promovida pela Pontifícia Academia para a Vida – foi assinada por um representante do mundo judaico e um representante do mundo muçulmano.
A reportagem é de Fabrizio Mstrofini, publicada por Settimana News, 13-01-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
A cerimônia – na verdade uma verdadeira conferência, incluindo uma audiência com o Papa Francisco – contou com a presença dos primeiros signatários de 2020: o presidente da Microsoft, Brad Smith, o vice-presidente mundial da IBM, Dario Gil, e o economista-chefe Maximo Torero Cullen, da FAO.
As imagens falam: no cenário sugestivo da Casina Pio IV, quase no topo da colina do Vaticano, se reuniram expoentes religiosos muçulmanos, judeus, católicos e expoentes de primeiro plano da indústria tecnologicamente mais avançada do mundo atual. Frente a frente, na sala de conferências da Pontifícia Academia das Ciências, justamente ao lado do arquivo que contém as obras de Galileu Galilei.
Na realidade, não havia contraposição, mas sim convergência, para frisar uma única mensagem: a importância de uma tecnologia ao serviço de toda a humanidade. Para o bem-estar, para melhorar, não para controlar ou subjugar.
Uma iniciativa em sintonia com aquela exigência de fraternidade universal que não é apenas o anúncio utópico de Fratelli tutti, mas a realização concreta, um caminho possível para toda a humanidade. Na verdade, o único caminho possível hoje diante dos desafios inéditos do futuro.
O sheik Shaykh Abdallah Bin Bayyah, presidente do Fórum pela Paz de Abu Dhabi e presidente do UAE Council for Sharia Fatwa, afirmou claramente em seu discurso que "os mandamentos e as leis inspiradas pela religião, em sua promoção do bem-estar, devem garantir que o desenvolvimento tecnológico seja guiado por princípios éticos que tutelem a dignidade humana e, sobretudo, a vida como um todo”.
Na mesma linha, as sentenças do Rabino-Chefe Eliezer Simha Weisz, do Conselho do Grão Rabinato de Israel, sobre a importância de uma tecnologia norteada pela sabedoria humana, instrumento e não fim e, portanto, a ser usada a favor, sempre, do bem comum e sob o controle humano.
Para o mundo católico, o uso da ciência e da tecnologia em favor do bem comum é um dado adquirido em quase 150 anos de desenvolvimento da Doutrina Social. Porém, hoje, as possibilidades verdadeiramente inéditas que a ciência e a tecnologia disponibilizam produziram uma tomada de consciência mundial da importância de uma convergência entre "inteligências".
O mundo industrial mais avançado percebe que, sem uma visão humanista, o desenvolvimento científico e tecnológico não avança, aliás, empobrece a humanidade.
Mons. Paglia, presidente da Pontifícia Academia para a Vida, recordou, a propósito, a primeira conversa que teve, em 2019, com o presidente da Microsoft, Brad Smith, em Richmond, na sede principal da multinacional: “Veja, mons. Paglia, aqui construímos uma verdadeira cidade da ciência, com especialistas de alto nível e perfil, engenheiros, cientistas, cientistas da computação. No entanto – continuou Brad Smith – percebemos que esse empenho que realizamos no mundo digital precisa de uma visão ética. Precisa de um suporte do ponto de vista da reflexão humanística. Caso contrário, teremos uma tecnologia de altíssimo nível, mas sem alma”.
Eis a palavra-chave: alma, que hoje a Pontifícia Academia para a Vida traduz em visão humanista. E inspirou a "Rome Call for AI Ethics" de 2020 em Roma, no final da Assembleia da Pontifícia Academia para a Vida daquele ano, dedicada precisamente à inteligência artificial.
A ética, na inteligência artificial, na visão da “Rome Call”, deve promover uma antropologia digital, com três coordenadas fundamentais: ética, educação e direito.
Os primeiros signatários foram Microsoft, IBM, FAO e o governo italiano. Apesar da “parada” imposta pela pandemia, a Pontifícia Academia para a Vida tem trabalhado, por meio da Fundação “Renaissance”, para ampliar o público dos signatários.
Não é por acaso que a Fundação se chama "Renaissance". Aliás, para ser exatos: “RenAIssance”. Porque estamos em um "renascimento" científico que, por meio de tecnologias conectadas à inteligência artificial, pode conduzir toda a humanidade ao progresso compartilhado ou mergulhá-la em uma barbárie tecnológica feita de controle, hipervigilância, aumento da desigualdade.
É uma fronteira e, ao mesmo tempo, um ponto de virada para toda a humanidade. Só uma ampla visão ética, uma ampla visão humanista, uma aliança entre os saberes científicos, podem conduzir a um renascimento de bem-estar, saúde, progresso social e humano, cultural.
Nesse sentido, as religiões têm um papel fundamental a favor do ser humano, dos direitos humanos, da liberdade, da vida. Como disse o Papa Francisco: “Convido-vos a continuar com audácia e discernimento, em busca dos caminhos que conduzam a um envolvimento cada vez mais amplo de todos aqueles que têm no coração o bem da família humana. Invoco sobre vós a bênção de Deus: Deus abençoe a todos, para que o vosso caminho possa se desenvolver com serenidade e paz, em espírito de colaboração”.
Uma imagem assombrosa permanece impressa: expoentes religiosos, empresários, cientistas, todos juntos, um público multicultural convergente para um único objetivo: a humanidade, a casa comum.
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Não a uma tecnologia sem alma - Instituto Humanitas Unisinos - IHU