23 Agosto 2022
A entrevista com padre Francisco de Roux é de Cristiano Morsolin [1], publicada por Religión Digital, 22-08-2022.
Religión Digital oferece esta nova entrevista exclusiva com o presidente da Comissão de Esclarecimento da Verdade da CEV, Padre Francisco de Roux, realizada em 8 de agosto de 2022 no Hotel Tequendama em Bogotá.
O Cardeal Michael Czerny é um dos principais colaboradores do Papa Francisco; Com sua responsabilidade como Prefeito do Dicastério para o Serviço de Desenvolvimento Humano Integral, viajou a Bogotá há algumas semanas, por ocasião da mais recente assembleia extraordinária do Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM).
Alguns analistas consideram que a viagem do cardeal Michael Czerny (jesuíta canadense) representa uma clara posição do Vaticano a favor do jesuíta Pe. Francisco De Roux, sobre o qual declarou que "este relatório da CEV é o resultado de um processo muito inclusivo e, de fora, tenho a impressão de que correspondeu a um processo muito paciente. Eles tiveram tempo para ouvir as pessoas que sofreram. Isso é fundamental e essencial.”
O cardeal Michael Czerny é famoso na Itália por defender os direitos dos migrantes e por isso criticou o ministro italiano Matteo Salvini pelo projeto político racista da xenófoba Lega Nord.
Através da linguagem diplomática da Santa Sé, o Cardeal Michael Czerny se referiu à política do Presidente da República Duque, através da entrevista realizada por Miguel Estupiñan, El Espectador, no último domingo, 23 de julho de 2022.
P. De Roux, você conheceu o Cardeal Michael Czerny?
Almocei com o Cardeal Czerny, pessoa muito próxima do Papa Francisco, no Celam, falando diretamente com ele sobre vários assuntos. O Cardeal Czerny expressou-me pessoalmente o apoio do Papa Francisco, há total disposição de ajudar a construir a paz na Colômbia, de estar em contato comigo pessoalmente, como presidente da CEV, destacando a disposição de qualquer forma em que o Vaticano. Estas são palavras muito importantes, considerando que o Cardeal Czerny está ao lado do Papa. E discutimos a visita da Comissão da Verdade da CEV com o Papa, não especificamos a data, estamos pensando em como realizar o encontro.
Falei com o Cardeal Czerny do encontro com os bispos da Conferência Episcopal Colombiana (CEC), das responsabilidades no conflito. O Cardeal Czerny me ouviu com muita atenção.
“Temos que acabar de uma vez por todas com seis décadas de violência e conflito armado. Se pode. Cumpriremos o Acordo de Paz, seguiremos rigorosamente as recomendações do relatório da Comissão da Verdade e trabalharemos incansavelmente para levar paz e tranquilidade a todos os cantos da Colômbia. Este é o Governo da Vida, da Paz, e assim será lembrado”, disse o Presidente Petro.
”Proponho à humanidade trocar a dívida externa por gastos internos para salvar e recuperar nossas selvas, florestas e pântanos. Reduza a dívida externa e gastaremos o excedente para salvar vidas humanas”, acrescentou o novo Chefe de Estado.
P. Francisco De Roux, qual a sua opinião sobre o discurso de posse do novo Presidente da República, Dr. Gustavo Petro, no último domingo, 7 de agosto de 2022?
Fiquei muito satisfeito com o discurso do Presidente Petro em sua posse, que acompanhamos com vários comissários da CEV na Praça Bolívar.
Na encíclica Laudato Si, o Papa menciona que existem países de grande referência ecológica. Devemos nos tornar símbolos de proteção da casa comum e é claro que o Papa Francisco pensa na Colômbia, um país que deve ser responsável por cuidar do grande ecossistema, o maior depois do Brasil.
P. De Roux, qual é o seu comentário sobre a cartilha que o partido do Centro Democrático vai publicar com o título Que Verdade?
Fizemos todo o possível para não nos colocarmos no palco dos debates políticos, que é o que percebo, como Centro Democrático. Ao mesmo tempo, é a oposição legítima, que é uma coisa muito valiosa, tradicional neste momento ao governo que inicia o discurso.
Fizemos um esforço muito sério e estamos muito tranquilos com o que apresentamos, não só na conversa com as vítimas, mas também com multidões de responsáveis que reconheceram o que aconteceu e acreditam, ou seja, temos certeza de que o que O país proposto deve ser visto.
A proposta da Comunidade de Sant'Egidio de localizar a cidade de Roma como sede das conversações com o Exército de Libertação Nacional do ELN fracassou. O novo comissário de paz do governo colombiano é Danilo Rueda, anteriormente coordenador da Comissão Justiça e Paz, próximo ao padre Javier Giraldo (animador do Tribunal Permanente dos Povos TPP), expressão da teologia da libertação. Alguns analistas acreditam que o novo comissário de paz, Danilo Rueda, vai modificar a hegemonia religiosa do catolicismo em questões de paz, para reconhecer a contribuição de outras instituições religiosas, como luteranos e menonitas.
P. De Roux, qual é a sua posição sobre o diálogo com o Exército de Libertação Nacional do ELN?
Petro vai levar a paz e o diálogo muito a sério com o ELN, com os dissidentes das FARC e outros grupos para buscar a submissão à justiça. Um diálogo de paz com o ELN seria extraordinário, concordo plenamente. Estas são questões cruciais para a reconciliação do país.
P. De Roux, com a entrega do relatório da Comissão da Verdade em 28 de julho de 2022, como estão reagindo os 9 milhões de vítimas na Colômbia?
Há uma transformação admirável das vítimas quando se sentem ouvidas. O caminho é ir além da dor, da rejeição do Estado, da rejeição dos autores dos crimes e iniciar o diálogo, as denúncias e chegar ao pedido de dizer a verdade por parte dos autores. É importante lembrar as vítimas e reivindicar a dignidade das pessoas assassinadas e suas
famílias. Destacamos a autoridade moral das vítimas quando os responsáveis admitem sua culpa. Queremos justiça de transição.
As vítimas não querem vingança, pedem a não repetição, dizem-no com autoridade moral. Sublinho esta luta pela paz como uma posição política das vítimas. Lembro-me das reuniões em Havana, durante as negociações com os guerrilheiros das FARC. Como colombianos, podemos nos olhar nos olhos e apertar as mãos como um país.
A maior conquista é o evento da verdade. Vamos alcançar a dignidade com coragem e ousadia, superando o medo. De 1985 a 2008, 450.000 colombianos morreram por causa da guerra. 90.000 jovens, guerrilheiros, paramilitares e o exército, morreram. Devemos construir a partir da verdade e continuar na continuidade do sistema de justiça transicional.
Levamos a sério as recomendações com os dissidentes do ELN e das FARC. A transformação do sistema de segurança é importante para fortalecer uma verdadeira democracia a partir da igualdade das pessoas.
Destacamos o trabalho pedagógico pela paz, contra a impunidade, divulgando os relatórios da Comissão de Esclarecimento da Verdade da CEV.
Ramiro Bejarano em seu artigo para El Espectador em 19 de junho de 2022, "Proibido errar", escreveu que "Rodolfo Hernández acredita que Deus está do seu lado, porque em particular assegura que foi o núncio apostólico, o argentino Monsenhor Luis Mariano Montemayor, que propôs seu vice-presidente, uma mulher com profundas raízes católicas. Um diplomata estrangeiro intervindo no processo eleitoral e a chanceler Marta Lucía como se o assunto fosse estranho ao seu gabinete, tudo porque são aliados na sua fé religiosa” (3). P. De Roux, o que você acha disso?
Esta afirmação não corresponde à verdade.
Cristiano Morsolin, pesquisador e assistente social italiano radicado na América Latina desde 2001, autor de 10 livros em 5 idiomas, incluindo "Civilization Change" (Ed. Anthropos, 2018, com prefácio do Cardeal Turkson, Chanceler da Pontifícia Academia de Ciências Social da Santa Sé). Analisa as relações entre direitos humanos, movimentos sociais, políticas emancipatórias e a geopolítica do Papa Francisco. Foi recebido pelo Papa Francisco em audiência no Vaticano em outubro de 2017. Comentarista convidado de algumas agências internacionais, como SIR (Vaticano), VITA (Milão), CIPSI (Roma), Religión Digital (Madri), ALAI (Quito). Atualmente colabora com o Instituto de Paz IPAZDE da Universidade Santo Tomas de Bogotá.
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Colômbia. Francisco de Roux: “O cardeal Michael Czerny expressou pessoalmente o apoio do Papa Francisco a mim” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU
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