“Na América Latina está crescendo o ateísmo por causa da desigualdade”, constata Francisco De Roux, padre jesuíta

Francisco De Roux. | Foto: British Province of Carmelites/Flickr CC

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09 Junho 2021

 

O padre jesuíta Francisco de Roux, presidente da Comissão da Verdade na Colômbia, participou na primeira reunião de Diálogo sobre plataforma-rede de Direitos Humanos, Paz e Democracia, convocada pelo Centro de Programas e Redes de Ação Pastoral (CEPRAP) do Conselho Episcopal Latino-americano (Celam) e Cáritas da América Latina e Caribe.

“Quero dizer-lhes que na América Latina está crescendo o ateísmo, não militante, mas sim o ateísmo de uma decepção completa de nossa religião por causa da desigualdade profunda: quatro em cada dez latino-americanos, hoje, estão excluídos da mesa”, alertou o padre.

A reportagem é publicada por Prensa Celam, 07-06-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.

De tal forma que “se não estamos na luta para que a mesa seja para todos, para que possamos rezar o Pai Nosso, dai-nos hoje a todos e todo nosso pão de cada dia, se o povo não nos vê nesta causa, por favor, não falemos de Deus, do Nosso Senhor Jesus Cristo”.

Posto que “ninguém vai entender de que estamos falando. Não o façamos, porque confundimos o povo. Se não estamos ao lado dos pobres, dos excluídos, dos negros, dos indígenas, das mulheres, melhor fazer silêncio”.

Ainda, na América Latina “temos muitos bons exemplos de catequistas, padres, bispos e arcebispos que entregaram a vida para que todos estejamos participando da mesma mesa. Eles foram nossas grandes testemunhas da fé”.

 

Políticos oportunistas

O padre de Roux também falou sobre as crescentes polarizações no continente: “O México e a América Central estão passando por isso em muitos momentos; Venezuela e Brasil estão experimentando; a Colômbia viveu de forma brutal e difícil, com 9 milhões de mortos no conflito armado, que de várias formas ainda continua no assassinato de lideranças sociais”.

Portanto, “em quase todos os nossos países temos um trauma social naturalizado; nasceu porque a violência cresceu por toda parte, nos bairros marginalizados das grandes cidades, no deslocamento de camponeses, nas ações das máfias, na extorsão, na corrupção, no mercado do narcotráfico”.

O jesuíta explicou que “o trauma aparece quando chegam políticos oportunistas que tomam a dor que existe nas pessoas, culpam todos os seus adversários na luta pelo poder”.

“Dizem que ‘por culpa de alguns há muita violência e este país está assim, e com eles não podemos avançar!’, negam a possibilidade de construir um ‘nós coletivo’ na América Latina, porque há alguns que são culpáveis ‘e devem ser excluídos, devem ser eliminados!’”, lamentou.

 

Chamado à reconciliação

Em todo este contexto, é quando “faz sentido o chamado à Reconciliação”, muito forte na proposta de renovação do Celam e fundamental na situação atual dos países da América Latina.

“É a necessidade de nos ouvirmos, de nos acolhermos como seres humanos, de compreendermos as vítimas, mas também de compreendermos que os perpetradores são seres humanos e que temos de compreender o drama e o trauma social em que estamos envolvidos”, acrescentou.

Por isso insistia na necessidade da reconciliação: “Nunca esqueçamos que Jesus nos convida no Evangelho a suspender o culto. Isso é algo muito profundo: se seus irmãos não estão reconciliados, se o que você vive é uma situação de animosidade e ódio por tudo o que nos aconteceu, suspenda o culto e faça com que seus irmãos se reconciliem primeiro”.

Tudo isso acontece para desarmar corações e ideologias, de fato erradicar aquela concepção de guerra justa que “tanto estraga no catolicismo e que não faz nenhum sentido; e lutemos por uma paz justa, que é precisamente o caminho em que, neste momento, vocês estão avançando no Celam”.

 

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