25 Mai 2022
Trechos da entrevista com o Presidente da Conferência dos Bispos Poloneses, D. Stanisław Gądecki, ao jornalista Marcin Przeciszewski (KAI).
A entrevista é de Marcin Przeciszewski, publicada por ekai, 24-05-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Ao relembrar momentos importantes e simbólicos da visita dos bispos poloneses à Ucrânia, a Bucha e Irpin, lugares de dores e lacerações indescritíveis, o jornalista pergunta: Quais foram seus sentimentos durante essas visitas?
Os russos pararam a 15 km das fronteiras da capital ucraniana e apenas um milagre salvou Kiev da derrota. Em Irpin - enquanto passávamos para Bucha - os prédios que estavam na primeira fila em relação à estrada foram especialmente atingidos pelo bombardeio dos tanques. A extensão dos danos foi semelhante ao que vi no Iraque e na Síria. (...) Quando chegámos à Bucha e rezámos no local onde estavam enterrados os mortos, os das listas de proscrição, agora reexumadas, tive a triste impressão de que a civilização humana não estivesse fazendo progressos em questões importantes. Nas últimas décadas tivemos tantas declarações e ilusões de que com o atual nível de civilização tais crimes não seriam mais possíveis, mas matar pessoas provou ser tão possível quanto antes.
Outro encontro importante dos bispos em Kiev é com o arcebispo Paul Gallagher, secretário para as Relações com os Estados. Sobre qual assunto se falou com o enviado do Santo Padre?
Sobre a abordagem do Vaticano em relação à Rússia, que deveria mudar, ser mais madura, já que a abordagem atual, antiga, parece muito ingênua e utópica. Claro que o objetivo é nobre, ou seja, estabelecer contatos e diálogos, e isso decorre do fato de que a Rússia é grande e merece respeito. Mas isso não é acompanhado por uma reflexão suficientemente séria por parte do Vaticano.
Para a Rússia, o Vaticano é uma entidade importante, mas ao mesmo tempo pode ser humilhada, como o próprio Putin já demonstrou várias vezes, que - por exemplo - chegou intencionalmente várias horas atrasado para um encontro com o Papa. A Santa Sé deveria entender que nas suas relações com a Rússia - para usar um eufemismo - deveria ser mais atenta, porque pela experiência dos países da Europa Central e Oriental parece que mentir seja uma segunda natureza para a diplomacia russa.
Por outro lado, parece que os países da Europa Central e Oriental sejam subestimados pela diplomacia vaticana. Já vimos isso bem no passado. Por décadas foram tratados com desprezo. O Card. Stefan Wyszyński tentou mudar isso, mas não creio que tenha conseguido. Foram mais a Providência, seu esforço e coerência, e não os esforços da diplomacia da Santa Sé que salvaram a Igreja na Polônia. Somente o pontificado de João Paulo II trouxe uma mudança radical, mas agora parece que estamos voltando à velha linha.
E como avaliar a atual atividade da diplomacia vaticana?
Deve-se lembrar que a Santa Sé é sempre neutra em sua atividade diplomática e procura manter a imparcialidade em sua abordagem às partes em conflito. A diplomacia do Vaticano - percebendo que os cristãos muitas vezes lutam em ambos os lados - não aponta para um agressor, mas tenta fazer todo o possível para chegar a uma conclusão pacífica por meio de esforços diplomáticos.
Mas hoje, em uma situação de guerra - como aponta o arcebispo Svyatoslav Shevchuk - o mais importante é que a Santa Sé apoie a Ucrânia em todos os níveis e não se deixe guiar por pensamentos utópicos extraídos da teologia da libertação.
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O Vaticano deveria aprender com algumas experiências das Igrejas da Europa Central e Oriental que conhecem bem como a Rússia se comporta, defende presidente da Conferência do Episcopado da Polônia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU