31 Março 2022
"A nova crítica pública de Gadecki, que molda uma visita ao Papa que ocorreu por motivos sinceramente muito mais importantes do que o Caminho Sinodal Alemão e sobre uma possível avaliação do mesmo, acaba indo na direção oposta àquele estilo de sinodalidade cordial entre católicos e entre os Igrejas locais que o Papa almeja".
A opinião é do teólogo e padre italiano Marcello Neri, professor da Universidade de Flensburg, na Alemanha, em artigo publicado em Settimana News, 29-03-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
O Papa Francisco recebeu o presidente da Conferência Episcopal Polonesa, D. S. Gadecki. No centro da conversa, conforme relatado em um comunicado de imprensa publicado no site da Conferência Episcopal, o empenho da Igreja polonesa diante da dramática crise humanitária provocada pela invasão russa da Ucrânia.
Na mesma nota lemos que D. Gadecki expressou ao papa sua preocupação e a dos bispos poloneses por alguns aspectos que dizem respeito à Igreja universal. Desses todos, sente-se a necessidade de enfatizar apenas o Caminho Sinodal da Igreja Católica Alemã. Não se sabe quais são as outras preocupações globais do episcopado polonês - mas seria interessante conhecê-las, inclusive para uma discussão entre as Igrejas.
Em seguida, falando como porta-voz do papa, Gadecki disse que Francisco "não compartilha" o processo sinodal em andamento na Alemanha - sem dizer com o que eventualmente o papa não concorda e o porquê. Estes também seriam elementos importantes se realmente se quer comunicar na Igreja e entre as Igrejas. Mas Gadecki parece não se importar com tudo isso, pelo contrário.
A carta que ele havia enviado há algum tempo ao presidente da Conferência Episcopal Alemã, Mons. Bätzing, pela qual em nome dos bispos poloneses ensinava aos bispos alemães sobre como e de que forma ser fiéis à doutrina da Igreja e ao ensinamento do Evangelho, foi recebida com óbvia e legítima irritação pelo lado alemão. Tanto pela forma, uma carta aberta que não busca nenhum verdadeiro diálogo, quanto pelo tom. É de poucos dias atrás a resposta, de forma confidencial, de Bätzing em nome da Conferência Episcopal Alemã.
A nova crítica pública de Gadecki, que molda uma visita ao Papa que ocorreu por motivos sinceramente muito mais importantes do que o Caminho Sinodal Alemão e sobre uma possível avaliação do mesmo, acaba indo na direção oposta àquele estilo de sinodalidade cordial entre católicos e entre os Igrejas locais que o Papa almeja.
Mas, ao nomear-se "porta-voz" do Papa, Gadecki, ele também obrigou o porta-voz oficial, Matteo Bruni, a intervir no assunto. Procurado por uma agência de notícias católica pedindo esclarecimentos sobre o encontro de Francisco e Gadecki, Bruni afirmou que o conteúdo da conversa é confidencial (para o papa, não parece para Gadecki) e que, de qualquer forma, a posição do papa sobre o Caminho Sinodal da Igreja Alemã é expresso em sua carta aos católicos na Alemanha de 2019. O que é expresso na carta ainda hoje representa a posição de Francisco, com todo o respeito a Gadecki - que conseguiu o feito notável de ser demitido como porta-voz não oficial do pontífice no espaço de apenas um dia e meio.
Essa estratégia de pedir uma audiência com o papa e depois sair relatando sua "grande preocupação" e "distanciamento" do Caminho Sinodal Alemão é um joguinho que se repete há tempo. Mas nunca antes a assessoria de imprensa do pontífice sentiu a necessidade de intervir para esclarecer as coisas: o zelo excessivo de Gadecki conseguiu fazer isso também – justamente quando nossa preocupação e atenção deveriam estar concentradas em outro lugar, onde é questão de vida ou morte.
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Gadecki, “porta-voz” do papa? Artigo de Marcello Neri - Instituto Humanitas Unisinos - IHU