Valores cristãos, valores seculares e por que eles precisarão um do outro na década de 2020. Artigo de Alec Ryrie

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13 Fevereiro 2022

 

A mais nova edição dos Cadernos Teologia Pública, número 158, contempla a fala do Prof. Dr. Alec Ryrie da Durham University Inglaterra. Sua exposição fez parte do XX Simpósio Internacional IHU – Cristianismo, Sociedade, Teologia. A (I)Relevância pública do cristianismo num mundo em transformação, realizado ao longo do segundo semestre de 2021, o qual teve como propósito debater transdisciplinarmente o sentido, os desafios e as possibilidades para o cristianismo, a Igreja, a teologia e fé cristã em meio às grandes transformações que caracterizam a sociedade e a cultura atual, no contexto da confluência de diversas crises de um mundo em transição, um mundo (pós)pandêmico.

 

Alec Ryrie é professor de História do Cristianismo na Universidade de Durham, presidente eleito da Sociedade de História Eclesiástica no período 2019-2020 e coeditor do Journal of Ecclesiastical History. Sua pesquisa atual é sobre a história inicial da dúvida, ceticismo e "ateísmo" antes que tais coisas se tornassem intelectualmente respeitáveis. Seu livro sobre o assunto, Seu livro sobre o assunto, Unbelievers: The Religious Quest to Abolish God, foi publicado em 2019 pela Harvard University Press.

 

 

Eis um extrato do artigo.

 

Permitam-me começar dizendo o quanto me sinto fora da minha zona de conforto hoje. Sou historiador da igreja e minha área é a da Reforma, os séculos 16 e 17; nesse momento, a minha pesquisa sobre os primeiros projetos missionários protestantes e o comércio de escravos estendeu-se ao século 18, o que é uma ousadia para mim. Mas eu também tenho alguns interesses na história mais ampla do cristianismo na cultura ocidental e, embora não seja realmente respeitável a um historiador admitir, possuo um interesse persistente sobre a atualidade também, em parte porque vivo nela. E o que quero fazer hoje é sugerir uma forma de pensar o nosso próprio tempo: a época em que crescemos e que temos vivido, e como ela tem se transformado diante dos nossos olhos.

Temos vivido em uma era firmemente secular, na qual a religião, como foi tradicionalmente entendida, esteve confinada a certos papéis bem-delineados e que tem se esforçado para encontrar sua voz em meio a eles. Mas esta época, é o que irei argumentar, baseia-se num conjunto de assunções e valores culturais compartilhados que vêm se desvendando, e tudo, na atualidade, está solto no ar. Neste cenário, devo dizer, a parte que está se a se desvendar, e isto é importante, é geográfica. Falo de um conjunto de valores que se formaram no que ainda chamamos de “o Ocidente”, isto é, a Europa ocidental e a América do Norte, as antigas capitais imperiais da cristandade. A região do mundo que chamo de lar.

 

Imagem: Capa dos Cadernos Teologia Pública, edição 158, de Alec Ryrie. 

 

O desvelamento destes valores está ligado ao decaimento do domínio desta região cultural; ou, pelo menos, é o que me parece. Em outras palavras, a história que irei lhes contar é uma história grandemente do Atlântico Norte. Tenho um grande interesse em ouvir como essas mesmas questões são a partir de uma perspectiva brasileira. Especialmente porque, assim como oferecer uma leitura da história recente, quero sugerir o que me parece a forma essencial daqui para frente neste novo mundo: uma forma daqui para frente que dependerá, penso eu, daquelas pessoas que conseguem ter um pé nas tradições religiosas e o outro nos valores do secularismo moderno.


Em 1947, a rede americana de rádio ABC passou a transmitir uma série com o modesto título “The Greatest Story Ever Told” [A maior história já contada]. Ela foi ao ar por quase dez anos, transmitida em mais de cinquenta países e resultou em um romance e, por fim, num filme épico repleto de estrelas. Este título provocante e irresistível foi uma alusão a um poema chamado “The Old, Old Story” [A velha, velha história], escrito por uma inglesa em 1866, texto musicado no ano seguinte e que se tornou um hino popular.

Em nenhum dos títulos houve a necessidade de esclarecer qual era a história, porque a história de Jesus Cristo ainda era, até meados do século 20, “a” história definidora da cultura americana e da Europa ocidental: uma história contada e recontada não porque era pouco conhecida, mas porque era tão profundamente conhecida. Crentes fervorosos eram uma minoria tanto na Europa quanto nos Estados Unidos nesse período, mas os fiéis nominais e os infiéis assertivos também reconheciam o poder da história. Ateus e céticos da época geralmente elogiavam Jesus como um mestre moral excepcional. Acreditassem ou não que ele era o Deus encarnado, Jesus Cristo era a figura moral mais potente da cultura.

 

Acesse aqui para obter a leitura integral do artigo.

 

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