13 Setembro 2021
Guillaume Cuchet avalia as possibilidades da religião francesa dominante de sobreviver nas próximas décadas.
A reportagem é de Florent Georgesco, publicada por Le Monde, 10-09-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Os próximos anos serão marcados, na França, por um número excepcionalmente alto de mortes em tempos de paz. A chegarem ao fim da vida, são os famosos "baby-boomers" que se beneficiaram de um considerável aumento da expectativa de vida. Guillaume Cuchet escreve desta forma no início de seu último ensaio "Le catholicisme a encora de l'Avenir en France?" ("O catolicismo ainda tem futuro na França?", em tradução livre): "todos desaparecerão dentro de vinte ou trinta anos, não tendo escalonado as partidas".
A situação é tanto mais difícil quanto um "ator" deste trágico teatro está prestes a desaparecer: a religião e, sobretudo, o catolicismo, que foi por muito tempo o maior "fornecedor" de sentido e de consolo, um catolicismo que justamente aquela geração do "baby-boom "contribuiu para eliminar, substituindo-o por um imenso "abandono religioso". Que recursos lhes restam para enfrentar o desfecho fatal?, pergunta-se o historiador, autor de "Comment notre monde a cessé d'être chrétien?" ("Como nosso mundo deixou de ser cristão?", em tradução livre Ed. Seuil, 2018), cujo último livro pode ser lido como uma continuação.
De fato, para além das preocupações mortuárias com que se abre, o livro tenta escavar em profundidade um problema pouco enfrentado: saber o que subsiste e poderá subsistir de uma religião que está desaparecendo, pelo menos como norma moral e como conjunto de ritos sociais fortemente compartilhados.
Como coletânea de artigos parcialmente remanejados - poderiam ter sido mais, para evitar certas repetições -, "O catolicismo ainda tem futuro na França?" abre uma vasta e estimulante pesquisa em torno deste problema, movendo-se amplamente através dos campos de investigação que pode implicar.
Dos ritos que iriam substituir os do cristianismo, ilustrados pelo exemplo do "running", ascetismo inconsciente religioso, às disputas do catolicismo francês ou de seus dramas (abusos sexuais, evocados brevemente demais), passando pelas reavaliações doutrinárias que permitem à Igreja se adaptar ao seu tempo sem nunca o dizer, Guillaume Cuchet explora em todos os sentidos os fenômenos significativos para descobrir em que encostas estamos prestes a deslizar e as subidas possíveis.
Ele insiste em particular na "revolução silenciosa" representada por aqueles que a sociologia anglo-saxônica designa como "nones" ("sem religião") - os "desfiliados" de qualquer culto instituído.
Um estudo de 2018 considerava que eles representavam 64% entre franceses entre 16 e 29 anos. A "novidade radical" vem do fato de que a maioria deles não nasceu no catolicismo. Portanto, não se trata de pessoas que abandonaram sua religião, mas de pessoas que já são estranhas à religião como segunda ou mesmo terceira geração.
“A ruptura não é transmissível”: “um dia ou outro (...) vai se passar para outra coisa”, e isso, segundo o pensamento do autor, é o ponto crucial. Passando do "ressentimento" para com o catolicismo, próprio das pessoas que o abandonam, para uma forma de indiferença, a sociedade francesa se tornaria novamente disponível a todas as aventuras espirituais, incluindo o retorno a certas dimensões necessariamente mudadas da "cultura" católica.
Ou seja, um conjunto de saberes, de sociabilidade, de capacidade de distanciar-se com aquele imediatismo que, sublinha Guillaume Cuchet, não é oferecido pelas "místicas selvagens" baseados em "superstições" e "desenvolvimento pessoal" atualmente em voga. Enfim, um recurso do qual, diante da incerteza existencial e social, talvez não tenhamos consciência de que ainda precisamos. Na hora de nossa morte, e talvez até mesmo antes.
De 04 de junho a 10 de dezembro de 2021, o IHU realiza o XX Simpósio Internacional IHU. A (I)Relevância pública do cristianismo num mundo em transição, que tem como objetivo debater transdisciplinarmente desafios e possibilidades para o cristianismo em meio às grandes transformações que caracterizam a sociedade e a cultura atual, no contexto da confluência de diversas crises de um mundo em transição.
XX Simpósio Internacional IHU. A (I)Relevância pública do cristianismo num mundo em transição
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O catolicismo como último recurso - Instituto Humanitas Unisinos - IHU