03 Março 2021
Três em cada quatro bispos são favoráveis a dar indenizações às vítimas de abusos na Igreja.
A reportagem é publicada por Religión Digital, 02-03-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Pelo menos 10 mil crianças foram vítimas de padres pedófilos desde a década de 1950 na França, revelou na terça-feira uma investigação da Comissão Independente de Abuso Sexual na Igreja (Ciase) do país francês.
O número considera os 6.500 testemunhos já recolhidos pela Comissão, mas também as vítimas falecidas e aquelas que não desejam falar. Para refinar esse número, a Comissão solicitou ao Instituto Nacional de Saúde e Pesquisa Médica (Inserm) que investigasse o número de casos de abuso sexual na população em geral. Ao mesmo tempo, a Comissão viajou a um terço das dioceses para revisar os arquivos.
O trabalho foi longo, desde que esta Comissão foi criada pelo episcopado em 2018. O relatório final será entregue em outubro, com recomendações, em particular sobre a indenização às vítimas.
No que lhe concerne, a Conferência Episcopal Francesa procura avançar mais rapidamente e decidirá sobre uma possível indenização já em sua próxima assembleia, marcada para o final de março, sem esperar pelas conclusões do relatório.
Em novembro de 2019, três quartos dos bispos já votaram a favor de uma compensação previamente definida, mas sua implementação concreta ainda é delicada.
Desde então, as dioceses viram suas receitas diminuírem devido à crise da covid-19, que manteve os templos fechados e, consequentemente, a contribuição dos fiéis.
Além disso, muitos clérigos viram os católicos mostrarem sua insatisfação com o fato de que suas contribuições servem para pagar os danos causados por alguns clérigos.
Mesmo assim, algumas associações, mesmo dentro da igreja, acreditam que os números não refletem a realidade dos abusos cometidos impunemente há anos.
Paralelamente, a Igreja francesa continua publicando regularmente relatórios sobre pedofilia, o último no período de setembro de 2018 a setembro de 2020, dois anos, em que 320 vítimas de abusos foram registradas em 80 das 100 dioceses do país.
Desses casos, 67 foram levados pelos bispos à Procuradoria para eventos anteriores a 2000, e 43 para eventos posteriores a esse ano.
Dos 208 supostos agressores ainda vivos, 191 foram identificados pelas vítimas, 8 estão sendo processados pela Justiça, 5 presos ou com medidas de acompanhamento, como pulseiras eletrônicas, e 4 foram soltos após cumprirem a pena.
Nesse mesmo período, de acordo com o relatório, 57 clérigos foram provisoriamente suspensos e 13 condenados a penas canônicas, incluindo a expulsão do clero.
A ideia generalizada no seio da Conferência Episcopal Francesa, mostrada pelo seu presidente, Éric de Moulins-Beaufort, é que a maior parte dos abusos ocorreram nas décadas de 1970 e 1980, com muitas das vítimas que, agora, quebram o silêncio.
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França. Pelo menos dez mil menores sofreram abusos dentro da Igreja desde 1950 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU