18 Dezembro 2020
Corte em Paris sentenciou dom Luigi Ventura por “assédio sexual” contra quatro jovens.
A reportagem é de Claire Lesegretain e Loup Besmond de Senneville, publicada por La Croix, 17-12-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
A Corte Correcional de Paris deu ao arcebispo Luigi Ventura, ex-núncio papal para a França, uma suspensão de oito meses por “assédio sexual” contra quatro jovens.
O clérigo italiano de 76 anos foi sentenciado “in absentia” em 16 de dezembro, condenado por apalpar as nádegas de Matthieu de la Souchère e três homens identificados como Benjamin Guy, Marc e Marius – todos pseudônimos.
“Esta é uma sentença pesada para esse tipo de crime”, disse Jade Dousselin, advogada de Guy.
No mês passado, os promotores solicitaram uma pena suspensa de dez meses.
Dousselin disse estar “muito grata” pelo tribunal ter concedido ao seu cliente “2 mil euros em danos e 2,5 mil euros em custas judiciais”.
De la Souchère, a única vítima que expôs seu nome, também receberá 2 mil euros por danos 1,5 mil em custas judiciais.
Outra vítima, que era seminarista na altura do assédio, foi premiada com 6 mil euros por danos e 5 mil euros em custas judiciais.
“O tribunal considerou que para essa pessoa, que era mais jovem na época dos incidentes, houve maiores repercussões em sua vida desde que foi demitido do seminário e ele foi profundamente afetado pelas ações”, disse Dousselin.
O arcebispo Ventura terá, portanto, de pagar mais de 23 mil euros em danos e reembolso de custas judiciais.
Dousselin admitiu que se tratava de “uma penalidade muito alta para este tipo de caso”.
Mas ela levantou a hipótese de que o tribunal, “sabendo que a suspensão de oito meses não teria impacto, queria uma compensação financeira significativa”.
O arcebispo italiano negou veementemente as acusações durante uma audiência com os investigadores em abril de 2019 e em uma audiência com os demandantes um mês depois.
A Santa Sé levantou a imunidade diplomática do núncio em julho de 2019 e em dezembro do mesmo ano o papa Francisco aceitou a renúncia do prelado “por razão da idade”.
“É uma decisão totalmente desproporcional”, acusou a advogada de Ventura, Solange Doumic.
“Supondo que os fatos relatados pelos demandantes foram considerados na medida em que os demandantes os deram, tal veredicto não está de acordo com a jurisprudência”, argumentou.
Embora Doumic espere apelar, ela disse que não tem certeza se seu cliente – que ela descreveu como “despedaçado” – deseja fazê-lo.
“Ele não aguenta mais”, disse o advogado.
“Ele foi extremamente afetado por este julgamento inédito e pela pressão da mídia que o acompanhou”, acrescentou ela.
O Vaticano não deu nenhuma indicação até agora sobre o que planeja fazer com o arcebispo condenado.
Até agora, apenas um outro núncio papal foi condenado em um tribunal civil.
Um tribunal italiano ordenou que o arcebispo Carlo Maria Viganò em 2018 indenizasse seu irmão deficiente a quem ele havia roubado em 1,8 milhão de euros.
Outro ex-núncio, o arcebispo polonês Jozef Wesolowski, foi preso por pedofilia pelo sistema de justiça civil do Vaticano em 2015. Mas ele morreu antes mesmo de ir a julgamento.
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Ex-núncio papal para a França condenado a oito meses por assédio sexual - Instituto Humanitas Unisinos - IHU