16 Novembro 2018
Portanto estava certo em sua indignação o padre Lorenzo Viganò, que em abril de 2011 denunciou o irmão e arcebispo, Carlo Maria, o grande acusador do Papa Francisco, que menos de três meses atrás pediu a renúncia do Papa por supostas omissões no escândalo de pedofilia entre os prelados norte-americanos. Carlo Maria, declarou o padre Lorenzo, apelando à Justiça, havia se apropriado indevidamente de somas vultuosas que lhe pertenciam.
A reportagem é de Sara Brachetti, publicada por la Repubblica, 15-11-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
Anos de investigações extremamente complicadas, queixas que se assemelham a retaliações, muitos arquivos abertos e alguns fechados; acusações, contra-acusações, procedimentos e documentos que se avolumam, e uma saga familiar que talvez tenha chegado à palavra final. Porque quem fala agora, já não é mais apenas o citado estudioso bíblico que conhece o sânscrito e as origens da escrita, autor de tratados e estudos há mais de 80 anos.
Quem confirma as acusações é uma sentença que intima Carlo Maria a devolver a Lorenzo um milhão e 824 mil euros mais correções: de acordo com a estimativa do especialista técnico que a juíza do Tribunal Civil de Milão, Susanna Terni, decidiu atribuir na íntegra, embora de acordo com os advogados da acusação a quantia poderia ter chegado até ao dobro, se Carlo Maria tivesse fornecido prestações de contas completas.
Para além dos números, portanto, acaba sendo oficialmente desmentida a versão dos advogados de defesa segundo os quais monsenhor Carlo Maria Viganò não deve nada ao irmão que, conforme eles escrevem, sempre viveu além de suas possibilidades e desperdiçou o patrimônio herdado do pai, magnata do aço que morreu em 1961.
A decisão confirma a falta de fundamento da tese da fragilidade psicológica de Lorenzo, já arquivada em outro processo após o acidente vascular cerebral sofrido em 1996 que o incapacitou fisicamente, mas que não o tornou, no entanto, manipulável, como foi sugerido por Carlo Maria para redimensionar a queixa contra ele e convencer Bento XVI em 2011 a não transferi-lo para Washington, nomeando-o núncio apostólico e não cardeal. Preciso cuidar de Lorenzo aqui em Roma, ele declarou ao papa Ratzinger naquele verão, enquanto, de fato, Lorenzo vivia e estudava em Chicago, já em péssimas relações com o irmão que administrava seus bens em comum.
Venda de terrenos e imóveis, aluguéis de apartamentos e fundos, receitas, despesas e movimentações geridos pelo arcebispo Carlo Maria, autorizado pelo irmão com um mandato geral, em 1966, e uma procuração notarial, em 2000. "Eu confiava cegamente nele", reconheceu em 2011 o padre Lorenzo, até os "graves episódios" que o convenceram a pedir a divisão e descobrir aos poucos uma realidade feita de dinheiro transferido para a Suíça, casas vendidas por despeito, empréstimos de dinheiro contestados, fechaduras trocadas e divergências que não se podem desculpar como diferenças de caráter entre os irmãos.
Comportamentos que agora desorientam; ainda mais que se trata do fustigador de vícios no Vaticano e dos abusos sexuais nos EUA. "Eu não considero mais humanamente possível continuar a suportar as perseguições de pessoas que fingem vestir a pele de cordeiros dissimulando sua verdadeira natureza de lobos", disse Lorenzo, sete anos atrás, aludindo ao seu irmão Carlo Maria, que na carta do final de agosto em que atacava o Papa Francisco, na sua opinião culpado por ter permanecido inativo diante de "comportamentos gravemente imorais" do arcebispo Theodore McCarrick, acusa outros de serem lobos e "dilacerar as ovelhas do rebanho de Cristo" com o total encobrimento eclesiástico. "Com as pessoas que não têm boa vontade, com pessoas que só buscam o escândalo, que só buscam a divisão, que só buscam a destruição, mesmo dentro das famílias: silêncio," mencionou Bergoglio na homilia do domingo sucessivo, 2 de setembro. Hoje, há quem não considere nada casual aquela palavra "famílias", proferida no final.
Viganò, apoiado por vários bispos dos Estados Unidos, tem desenhado para si nas últimas semanas um papel de protagonista, chegando dois dias atrás a assinar uma mensagem a todos os participantes da Conferência episcopal dos Estados Unidos para pedir-lhes para opor resistência ao Papa.
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‘Restitua 2 milhões de euros para seu irmão’. Condenado o acusador do Papa Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU