Índia. Bispos asiáticos choram pelo padre Stan Swamy: “a sofrida tragédia de um homem inocente perseguido por fazer o bem”

Foto: Reprodução | YouTube

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08 Julho 2021

 

“Com profunda dor e angústia, choramos a morte do mártir dos marginalizados, o padre Stan Swamy, s.j.. Seu último mês de reclusão em uma cama de hospital até seus últimos momentos é a tragédia de um homem inocente perseguido por fazer o bem. Seu confinamento em prisão preventiva freou seu movimento, porém com sua morte, seu legado se desatou, inspirando milhares de pessoas em toda a Índia e o mundo. Sua missão continuará e nunca sucumbirá ao mal”. Assim consta a mensagem enviada à Agencia Fides pelo cardeal Charles Maung Bo, arcebispo de Yangon (Mianmar) em sua qualidade de presidente da Federação de Conferências Episcopais da Ásia (FABC), na qual expressa sua condolência e solidariedade em nome de todos os bispos asiáticos pela morte do jesuíta indiano padre Stan Swamy.

A reportagem é publicada por Agencia Fides e Religión Digital, 07-07-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.

O cardeal Bo destacou na mensagem: “A Índia tem uma história gloriosa, é berço de muitas das religiões do mundo, porém também tem uma história ferida. Inclusive Mahatma Gandhi, o santo que vivia para os pobres, foi detido e encarcerado sob as leis de sedição pelos funcionários britânicos. O mesmo Gandhi é hoje um eixo da história da Índia. Consola-nos pensar que o padre Stan Swamy também seguiu o caminho não violento de Gandhi, com um grande amor pelos marginalizados. É o último santo dos pobres na Índia moderna”.

Segundo o cardeal, Stan Swamy entendeu e viveu seu sacerdócio “estendendo seu altar às ruas, às colinas desses odiosos rincões de injustiça, partilhando o pão da Boa Nova da dignidade humana e a justiça especialmente entre os indígenas (os adivasis)”. “Durante muito tempo – aponta o texto – tribais inocentes recorreram uma impiedosa via crúcis infligidos pela ganância empresarial e as leis injustas. Sua incansável luta por libertar essas comunidades marginalizadas o levou para o calvário, ao encarceramento, às privações e à morte final. Morreu como um verdadeiro discípulo de Cristo”.

 

Manifestantes pedem justiça
pelo padre Stan Swamy.
Foto: Religión Digital

 

“Sua morte – conclui o presidente da FABC – lança luz sobre a injustiça que está se tornando a norma no mundo: os tribais e os indígenas são prescindíveis para os interesses das empresas multinacionais e seus partidários políticos”. Na Ásia, desde o mar da China Meridional até as partes centrais da Índia, uma vasta extensão de terra de milhões de hectares estava habitada por tribos indígenas. Durante milhares de anos protegeram “o pulmão da Ásia”, agora o vírus ecológico da avareza empreendeu uma guerra contra estas terras e pessoas.

Da sua parte, em uma mensagem enviada à Agencia Fides, o padre Vinod Sushil Soreng, s.j., da província indiana de Ranchi, professor do seminário jesuíta de Chennai, Tamil Nadu, e amigo pessoal de Swamy comenta: “Stan esteve classificado como terrorista, antinacional, responsável de incitar a violência e de violar a lei e a ordem social; era acusado de ser cúmplice dos naxalitas. Envergonho-me da forma em que se negou a justiça repetidamente nos últimos meses.

Como escritor, pensador e erudito, costumava dizer que não deveria se calar quando se violassem os direitos de alguém, especialmente dos tribais e dos despossuídos. Foi um intrépido, audaz e incansável profeta do nosso tempo. Desafio as instituições e os sistemas formulando perguntas sérias e fundadas para garantir a salvaguarda dos direitos dos tribais e dalits.

Frequentemente dizia: se não era capaz de se solidarizar com os que sofrem ou com os que tem seus direitos básicos à vida negados, tua vida como religioso ou ser humano é apenas superficial.

Reconheçamos seu legado: sua vida inspirará gerações para trabalharem pela dignidade e justiça que se nega aos pobres, às minorias e aos povos indígenas de todo o mundo”.

 

 

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