05 Março 2021
O Papa Francisco indicou o cardeal Joseph W. Tobin, de Newark, Nova Jersey, para a influente Congregação para os Bispos (1), preenchendo o espaço deixado pelo cardeal Donald Wuerl, arcebispo emérito de Washington D.C., aposentado em novembro das suas funções vaticanas.
A reportagem é de Colleen Dulle, publicada por America, 04-03-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
O cardeal Tobin se junta ao cardeal Blase Cupich como os únicos estadunidenses nesta Congregação. Os dois terão um papel-chave na escolha de bispos para os Estados Unidos, em particular, como geralmente ocorre, os membros desta congregação têm um papel significativo quando a pasta vai escolher os bispos de seus países.
Embora o processo de seleção de bispos seja notoriamente secreto – os nomeados a bispos frequentemente não sabem que são candidatos até que sejam os escolhidos – o relatório do Vaticano sobre a carreira do ex-cardeal Theodore McCarrick, quando publicado em novembro de 2020, lançou algumas luzes sobre o processo.
Dois livros de Thomas J. Reese, s.j. “Archbishop: Inside the Power Structure of the American Catholic Church” (Ed. Harper Collins, 1989. “Arcebispo: Dentro da estrutura de poder da Igreja Católica Americana”, em tradução livre) e “O Vaticano por Dentro: as políticas e a organização da Igreja Católica” (EDUSC, 1999), explica o processo em detalhes.
De acordo com o padre Reese, quando uma diocese necessita de um bispo, a Congregação para os Bispos pede ao núncio papal, ou embaixador, naquele país para reunir informações sobre possíveis candidatos e as necessidades da diocese. O núncio investiga os candidatos e esboça um relatório, chamado ponenza, sobre três deles, e o envia para a congregação.
Então, a congregação se reúne para decidir qual das recomendações do núncio serão repassadas ao papa ou solicitam ao núncio para procurar outros candidatos. Eles devem trazer também suas próprias recomendações. Até este ponto, os bispos da congregação que geralmente deferem são aqueles que estão mais próximos às necessidades da diocese. No caso das dioceses dos EUA, seriam procurados os cardeais Cupich e Tobin.
Claro, o Papa nem sempre escolhe um dos três candidatos apresentados pela congregação. No caso do ex-cardeal McCarrick, o Papa João Paulo II foi pressionado por seus conselheiros para não o indicar para a Arquidiocese de Washington D.C., mas o papa insistiu, um detalhe que foi revelado pelo Relatório McCarrick.
O Papa Francisco geralmente nomeia bispos que têm, como ele diz, “cheiro de ovelha” – isto é, aqueles que têm um bom relacionamento com as pessoas em suas dioceses. Ele prefere bispos que têm uma reputação de humildade e muitas vezes escolhe membros de ordens religiosas que fizeram votos de pobreza, como o cardeal franciscano Sean O’Malley, de Boston, e o cardeal salesiano Óscar Maradiaga, de Tegucigalpa, em Honduras, para cargos importantes.
O cardeal Tobin, um redentorista, se encaixa nessas preferências, então sua nomeação não deve ser uma surpresa. Ele foi eleito superior geral dos Redentoristas, cargo que ocupou de 1997 a 2009, e já trabalhou na Cúria Romana, servindo como secretário da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica do Vaticano de 2010 a 2012. Ele então se tornou arcebispo de Indianápolis, onde tinha a reputação de ser acessível e compassivo.
O Papa Francisco o nomeou cardeal e arcebispo de Newark em 2017, uma nomeação rápida e inesperada para um homem que havia se tornado bispo há apenas cinco anos e que estaria liderando uma diocese que normalmente não era chefiada por um cardeal. O Papa Francisco tornou-se conhecido por esses tipos de nomeações surpresa, ignorando dioceses maiores e escolhendo cardeais de uma variedade maior de países do que os papas anteriores.
A rápida ascensão do cardeal Tobin na hierarquia durante o papado de Francisco também é um sinal do bom relacionamento deste com o cardeal. Os dois se conhecem desde pelo menos 2005, quando participaram do mesmo grupo de discussão no sínodo dos bispos daquele ano em Roma. Durante seu tempo em Newark, o cardeal Tobin foi conhecido como um “bispo do Papa Francisco” – alguém que geralmente segue o exemplo do papa ao priorizar as questões de justiça social e o diálogo sobre os pontos de conflito da guerra cultural.
Mais recentemente, ele se distanciou da declaração controversa do presidente dos bispos dos Estados Unidos, o arcebispo José H. Gomez, sobre a posse do presidente Joe Biden, que foi vista por alguns no Vaticano como abertamente combativa com o segundo presidente católico da nação. Ele emitiu uma declaração mais conciliatória e disse ao Catholic News Service que não conseguia entender “pessoas que usam palavras muito duras e querem cortar toda a comunicação com o presidente por causa de [sua posição sobre o aborto]”.
Em setembro, na véspera da eleição, ele disse ao National Catholic Reporter: “Acho que uma pessoa de boa consciência pode votar em Biden. Eu, francamente, na minha própria maneira de pensar, tenho mais dificuldade com a outra opção”.
O cardeal Cupich, o outro americano da Congregação para os Bispos, foi o crítico mais veemente da declaração do arcebispo Gomez sobre a posse de Biden.
Os cardeais Cupich e Tobin emergiram como figuras-chave na minoria cada vez mais ruidosa de bispos americanos que lutam contra o que foi descrito como uma abordagem de "guerreiro da cultura" da política por alguns bispos dos EUA. O Papa Francisco, ao selecioná-los como seus principais conselheiros para a escolha dos bispos americanos, demonstra seu desejo de desviar os bispos dos EUA de uma abordagem de confronto para uma pastoral.
Resta saber se esta nomeação ajudará a transformar a conferência dos bispos ou apenas aprofundará as divisões que já existem dentro dela.
1. Juntamente com cardeal Joseph W. Tobin também foi nomeado pelo Papa Francisco, para a mesma Congregação, o cardeal Sérgio da Rocha, arcebispo de Salvador - BA.
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Cardeal Tobin ajudará o Papa Francisco a escolher bispos. O que isso significa para a Igreja dos EUA? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU