23 Outubro 2020
Papa Francisco também disse que ele é a favor de uniões civis de casais do mesmo sexo no novo documentário intitulado “Francesco”.
A reportagem é de La Croix International, 22-10-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
“É uma grande monstruosidade. É mais sério que qualquer outra coisa”.
Assim é como o papa Francisco descreveu a pedofilia em um novo documentário apresentado em Roma, na quarta-feira, na qual ele revisa vários episódios-chave do seu pontificado.
“Francesco” é o trabalho do diretor Evgeny Afineevsky, que gravou o longa-metragem de duas horas durante o lockdown na Cidade Eterna.
As imagens são impressionantes e estão intercaladas com entrevistas com Francisco no seu idioma nativo, o espanhol.
Um dos dramas durante seu tempo no pontificado que é revisitado, é o caso de Fernando Karadima, um padre chileno culpado por abusar sexualmente de inúmeros adolescentes entre 1980 e 2006.
Quando Francisco foi ao Chile em 2018, ele recusou comentar sobre acusações feitas contra o bispo Juan Barros, que era próximo do padre Karadima nos anos 1980, que teria testemunhado os abusos.
O papa demandou provas da culpa do bispo, antes de dias depois reconhecer que cometeu um erro de julgamento.
Então, quando ofereceu pediu para todos os bispos chilenos demitirem-se em maio de 2018, Francisco finalmente aceitou a renúncia de dom Barros.
“Quando eu soube do escândalo, fiquei muito golpeado, muito chocado”, disse o Papa no novo documentário.
“Eu disse a mim mesmo: como alguém pôde fazer isso?”
Francisco então lamenta os numerosos casos de padres católicos em todo o mundo que foram abusados sexualmente.
“Obviamente, a porcentagem de padres que caíram nisso faz parte da corrupção global da pedofilia. É horrível. Horrível”, diz ele.
“Supõe-se que um padre levaria Jesus à criança. Mas, pelo contrário, esses atos destroem a criança”, admite o Papa.
Afineevsky engaja Francisco em outras questões que são fundamentais para a compreensão de seu pontificado, como migrantes e ecologia.
Apresentado em 21 de outubro no Festival de Cinema de Roma, “Francesco” retrata a jornada do Papa desde sua eleição em 2013 à Cátedra de Pedro. Mas também inclui algumas referências ao seu passado.
Afineevsky, que agora mora nos Estados Unidos, começou o documentário em 2018 visitando vários lugares ao redor do mundo que ele vê como símbolos da vida do papa Francisco ou de suas ações.
Isso inclui a cidade natal do papa na Argentina, Buenos Aires, bem como o Chile e a África Central.
Em particular, o cineasta relata a consciência de Francisco sobre vários assuntos que se tornaram recorrentes, como os migrantes, a ecologia ou a luta contra a pedofilia.
Ele entrevistou várias figuras-chave próximas ao Papa, como o cardeal filipino Luis Antonio Tagle, o rabino argentino Abraham Skorka e José Bergoglio, sobrinho do papa.
Afineevsky também conversou com Juan Carlos Cruz – vítima de pedofilia no Chile – e alguns refugiados Rohingya em Mianmar.
Em um ponto do documentário, o Papa aborda a questão do diálogo com outras religiões.
“Acredito que somos amigos”, diz ele. “Todos nós viemos de Abraão”.
Ele observa que o Islã está “ferido” pela ação de “grupos extremistas”. Ele então coloca isso em um contexto mais amplo.
“Mas nós, cristãos, também temos grupos fundamentalistas”, confessa.
Francisco insiste que isso é verdade, mesmo que esses fundamentalistas não sejam “guerrilheiros”.
Afineevsky, que é gay, fala com o papa sobre os vários encontros e conversas que este teve com pessoas homossexuais.
E a certa altura, Francisco interrompe o diretor no meio da frase e diz: “Os homossexuais têm o direito de fazer parte de uma família. Eles são filhos de Deus e têm direito a uma família”.
Em seguida, o Papa pronuncia as palavras que agora estão despertando a atenção da mídia.
“Devemos criar uma lei de união civil para que (os homossexuais) sejam legalmente protegidos”, exclama.
Na verdade, esta é uma posição que Francisco manteve por vários anos. Como cardeal-arcebispo de Buenos Aires, ele defendeu a legalização da união civil para casais do mesmo sexo como alternativa ao casamento, que ele também disse só pode ser entre um homem e uma mulher.
Outra questão delicada que “Francesco” aborda são os migrantes.
“Não é fácil lidar com o problema dos migrantes”, admite o papa.
“Antes de tudo, é preciso ter um coração para o acolhimento. É preciso acompanhar, promover e integrar”, explica.
“É um processo completo”.
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A pedofilia é “uma grande monstruosidade”, disse o papa no novo documentário - Instituto Humanitas Unisinos - IHU