27 Fevereiro 2020
A segunda vez em um ano e meio do Papa em Bari é uma oportunidade de traçar os limites das prioridades da Igreja no Mediterrâneo, entre estes o "não" indireto ao plano de Donald Trump sobre o Oriente Médio e o pedido de intervenção da comunidade internacional na Síria. Diante de 58 bispos de dioceses na costa do Mare Nostrum, convocados pela Conferência Episcopal Italiana em uma espécie de G20 para estudar como "enfrentar – assim se pronunciou o cardeal Gualtiero Bassetti – o fenômeno migratório e não erguer barreiras", Francisco lembra "o conflito não resolvido entre israelenses e palestinos, com o perigo de soluções não justas e, portanto, precursoras de novas crises”.
A reportagem é de Paolo Rodari, publicada por Repubblica, 24-02-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
As recentes visitas ao Vaticano do vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, e do secretário de Estado, Mike Pompeo, não serviram para fazer mudar de ideia Bergoglio e os homens de diplomacia liderados pelo cardeal Pietro Parolin. Desde sempre para o Vaticano, a esperança é por uma Jerusalém com status especial, com judeus, cristãos e muçulmanos que vivam juntos em uma cidade de paz.
Mas a distância com Washington também é sobre a Síria. Uma das preocupações da Santa Sé é a falta de colaboração entre as grandes potências (EUA e Rússia em primeiro lugar) para gerenciar juntos a crise síria. Para Bergoglio, entre outras coisas, não é com a política das esferas de influência que a paz pode ser trazida de volta à Síria: “Na outra costa deste mar, em especial no noroeste da Síria – Francisco falou no último domingo – consuma-se uma imensa tragédia”. Por esse motivo, o "forte apelo aos atores envolvidos e à comunidade internacional, para que se silencie o barulho das armas e se ouçam as lágrimas dos pequenos e dos indefesos; para que se coloquem de lado os cálculos e os interesses para proteger a vida dos civis e das muitas crianças inocentes que pagam as consequências".
Francisco, quase sete anos após sua visita a Lampedusa no início do pontificado, chegou a Bari também para expressar sua proximidade com os migrantes. Ao fazer isso, ele não deixou de condenar aqueles que retratam de forma tendenciosa a migração como "uma invasão". "A retórica do choque de civilizações - disse ele - serve apenas para justificar a violência e alimentar o ódio". Enquanto de improviso, ele confidenciou: "Me assusta quando escuto alguns discursos de alguns líderes das novas formas de populismo: parece que estou ouvindo discursos que semeavam medo e ódio já na década de 1930".
Francisco não tem medo de estar do lado daqueles que "estão pedindo ajuda", mesmo que muitos "se fecham de sua própria riqueza e autonomia" sem notá-los. E ele condenou "a inadimplência ou, em qualquer caso, a fraqueza da política e do sectarismo", como "causas de radicalismos e terrorismo". Na Itália, mas não apenas, uma linha política está juntando prosélitos com a narrativa do choque de civilizações e da invasão de populações hostis. Não é assim que as coisas são para Francisco. "A comunidade internacional parou diante das intervenções militares, mas deveria construir instituições que garantam a igualdade de oportunidades e lugares onde os cidadãos tenham a possibilidade de se encarregar do bem comum".
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A advertência do Papa para a paz em Israel: "Não a planos injustos" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU