19 Novembro 2019
Diante da explosão social que está ocorrendo no Chile como consequência das desigualdades sociais e do contínuo ataque aos direitos humanos e ambientais sofridos pela sociedade chilena, resultado da política predatória do neoliberalismo mais selvagem, que continua em vigor no país pela não revogação da Constituição chilena imposta pela ditadura de Augusto Pinochet, com o assessoramento dos Estados Unidos, através da Escola de Chicago (Chicago Boys), o presidente chileno Sebastián Piñera cancela a COP25 na tentativa de esconder da atenção internacional a crise de pobreza e desigualdade sofrida por 90% dos chilenos. Muitas organizações da sociedade civil do Chile haviam manifestado seu desejo de que este evento internacional servisse como uma oportunidade para aumentar a pressão sobre o governo chileno contra as violações aos seus direitos.
A reportagem é de Irene de la Cuerda, publicada por El Salto, 17-11-2019. A tradução é do Cepat.
Nesse contexto, o presidente espanhol interino oferece Madri como sede da COP25. O cancelamento da cúpula foi um problema, dado que é a última cúpula antes da entrada em vigor dos acordos de Paris, que ocorrerá em dezembro de 2020 na cidade de Glasgow (COP26), no âmbito da Convenção-Quadro das Nações Unidas para a Mudança Climática (CQNUMC).
No entanto, muitas das principais questões permanecem bloqueados ou não resolvidas. A COP25 além de encerrar o conhecido como livro de regras, deveria fazer progressos claros na provisão de fundos suficientes e importantes melhorias em instrumentos como o Fundo Verde para o Clima e o Mecanismo de Varsóvia para perdas e danos, algumas ferramentas fundamentais para atenuar as piores consequências que a contínua queima de combustíveis fósseis já provocou e provocará.
Toda a comunidade científica vem alertando há muitos anos sobre a deterioração do ecossistema terrestre e oceânico, e também está nos dando as pautas do ponto de não retorno frente às mudanças climáticas. Relatórios recentes do IPBES (Plataforma Intergovernamental de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos) nos advertem que cerca de um milhão de espécies entre animais e plantas já estão à beira da extinção, como resultado da depredação humana.
O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) alerta, em seu último relatório publicado em agosto passado, que somente com a redução das emissões de gases do efeito estufa em todos os setores será possível manter o aquecimento global abaixo do ponto crítico de 1,5 grau. Segundo este relatório, as consequências de um aquecimento global de 1,5 grau ou mais terão efeitos catastróficos mais cedo do que esperamos, se as emissões continuarem aumentando.
A Península Ibérica é um dos ecossistemas mais vulneráveis dentro da área da bacia do Mediterrâneo, que é uma das mais ameaçadas pela crise climática na Europa, com escassez de água e perda de biodiversidade, bem como pelo aumento dos riscos para a segurança alimentar e saúde humana, de acordo com um estudo internacional desenvolvido com a participação de pesquisadores do Conselho Superior de Pesquisas Científicas (CSIC, sigla em espanhol) e publicado pela revista Nature Limate Change.
A emergência climática que vivemos é consequência de um modelo de produção e consumo desenfreado e inapropriado que coloca em risco nossa sobrevivência e tem um impacto devastador nas populações mais vulneráveis e pobres do mundo, ocasionando grandes áreas de sofrimento na África e na América Latina, provocando guerras e repressão pelo controle de recursos e grandes deslocamentos populacionais. Não responder com a suficiente rapidez e contundência à emergência climática significará a morte de milhões de pessoas e a extinção de espécies essenciais para a vida na Terra.
A partir da luta sindical, é imprescindível, para enfrentar a crise climática, exigir uma mudança no modelo produtivo, com divisão do trabalho, redução da jornada trabalhista com o mesmo salário, exigir o investimento necessário para a criação de empregos alternativos em setores sustentáveis, de maneira que seja alcançada uma transição na qual ninguém fique para trás, garantindo justiça social na perspectiva de diminuir e produzir bens socialmente necessários, consumir produtos de proximidade e trazer à tona a necessidade de exigir a distribuição de riqueza mediante a implantação de uma renda básica universal incondicional, como garantia da autonomia da classe trabalhadora.
A degradação planetária e a crescente desigualdade têm uma origem comum e se alimentam entre elas, assim, por exemplo, muitas grandes empresas e bancos obtêm enormes lucros através da especulação imobiliária, da gentrificação e da turistificação que expulsa as famílias de suas casas e moradores de seus bairros. As grandes multinacionais de energia que esgotam o planeta através do extrativismo e a utilização de combustíveis fósseis sem controle, estão sendo subsidiadas pelo Estado espanhol através dos bancos que subsidiam a extração de combustíveis fósseis.
Precisamos avançar na construção de modelos sociais mais democráticos que garantam a tomada de decisão coletiva, colocando o bem comum no centro, em vez dos lucros ilimitados e suicidas dos poderes econômicos.
Nesse sentido, a decisão de transferir a COP25 para Madri também é um declínio democrático, não levando em consideração o trabalho de meses de inúmeras redes, grupos e organizações em todo o mundo que não poderão participar da maneira que haviam desejado.
Pelo CGT, simpatizamo-nos com aqueles que mais sofrem, com as pessoas trabalhadoras e com as comunidades que estão na linha de frente da resistência em todos os continentes.
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COP25 e a emergência climática - Instituto Humanitas Unisinos - IHU