Das chamas da crise chilena, surge o fantasma de um novo Pinochet

Foto: Guilherme Gandolfi | Fotos Públicas

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30 Outubro 2019

“Das chamas da crise chilena, surge o fantasma de um novo Pinochet.” Não é uma frase nem um pensamento nosso. São palavras de um idoso bispo chileno que, por telefone, resume assim o estado de espírito de muitos cidadãos, de uma parte do episcopado, de muitos políticos e, acima de tudo, da grande maioria do país.

A nota é publicada por Il Sismografo, 29-10-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

A crise já parece fora de controle, e, em particular, o presidente Sebastián Piñera, homem muito astuto para os negócios e não para a política, perdeu toda a credibilidade. Todas as suas aberturas, sábias, embora tardias, depois de muitos erros graves, são diretamente rejeitadas. Ele não é mais credível para a maioria do país.

Para uma parte da população, ele é responsável pela crise e, para outros, não é o homem certo para o momento. No Chile, nesses 10 dias, começou uma crise de liderança política, moral e estratégica, muito semelhante à que começou nos 180 dias antes do golpe militar de Augusto Pinochet, quando quem governava era o socialista Salvador Allende.

É o tipo de crise em que historicamente, de 1800 em diante, os militares chilenos sempre se infiltraram, em particular o robusto, profissional e aguerrido “Exército de Terra”, de formação prussiana, pouco inclinado à escuta das vozes da nação e convencido de que é portador de uma missão quase messiânica.

Há ainda mais, e vale a pena lembrar: os militares chilenos dos quatro “compartimentos” das Forças ArmadasExército, Aeronáutica, Marinha e Carabineiros – são 60.000 membros em serviço ativo, com 2.400 veículos de combate, 240 aeronaves de guerra e de reconhecimento, 70 navios e um orçamento anual que supera os 5,5 bilhões de dólares.

Em resumo, esse pequeno 0,3% da população nacional representa um poder sem contraste, muito poderoso, ao qual todos – até mesmo a política e os políticos – devem se adaptar. Assim se passaram esses 30 anos desde o dia do retorno à democracia, e isso impediu que a centro-esquerda e também a centro-direita mudassem o sistema constitucional, econômico, cultural, social e político herdado da ditadura de Pinochet.

Nesses anos, a democracia chilena foi, e também é nestas horas, vigiada pelos militares, por uma pequena elite de cinco mil oficiais e suboficiais que comandam uma enorme massa de chilenos de origem humilde e pouco alfabetizados, que, no serviço militar, encontraram um emprego e um salário.

Em 1973, os números eram diferentes, mas o mecanismo era o mesmo. Não foi difícil, diante da ingovernabilidade do país nos tempos de Allende, interromper a vida democrática com violência feroz e inédita, a mesma que os peruanos experimentaram durante a ocupação chilena da capital, Lima, entre 17 de janeiro de 1881 e 23 de outubro de 1883.

No Chile, nestas horas, muitos, inclusive entre os oponentes de Piñera, esperam que possam aumentar as suas capacidades políticas para negociar com sabedoria e clarividência uma saída pacífica e democrática para a crise.

Enquanto isso, a extrema direita perdeu o medo e pede “um homem forte e decidido como o general Pinochet”.

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