13 Agosto 2019
"Alguns radicais de Hong Kong podem querer contrariar a estratégia do desgaste das manifestações, aumentando as apostas e tentando provocar Pequim para uma intervenção sangrenta que faça explodir as tensões. O sit-in com o bloqueio do aeroporto de Hong Kong vai nessa direção", escreve Francesco Sisci, sinólogo italiano, professor da Universidade Renmin, em Pequim, em artigo publicado por Settimana News, 12-08-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O sit-in no aeroporto de Hong Kong e os confrontos cada vez mais violentos nas ruas da cidade evidenciam um confronto direto entre duas estratégias, dos radicais e das autoridades, com fortes repercussões sobre Pequim.
Aparentemente, a estratégia das autoridades locais, apoiadas por Pequim, era a do desgaste do movimento. Retirar-se taticamente no ponto mais espinhoso, suspender sine die o controverso decreto que autorizava a extradição para a China.
Portanto, a ideia era conter os protestos e controlá-los longamente, até que as escolas fossem reabertas em setembro, e as pessoas normais que vão trabalhar ou fazer compras sintam em seus bolsos o peso do caos. Tal estratégia havia sido bem-sucedida contra o movimento dos guarda-chuvas de 2014. Na época, os jovens pediam o sufrágio universal.
Na época, assim como em 1989, não havia interesse em isolar a China no âmbito internacional, e a cautela e força de Pequim, a mistura de ameaças e ofertas, também eram apreciadas pelo mundo.
Desta vez, porém, pode ser diferente, porque os EUA têm uma dura disputa internacional com a China, e Hong Kong pode ser um fusível para exasperar uma tensão mais geral.
Com efeito, para além das acusações fáceis, em Pequim parecem saber que o governo dos EUA não pôs as mãos em Hong Kong e que os estrangeiros que apoiam o protesto fazem isso individualmente.
Portanto, alguns radicais de Hong Kong podem querer contrariar a estratégia do desgaste, aumentando as apostas e tentando provocar Pequim para uma intervenção sangrenta que faça explodir as tensões. O sit-in com o bloqueio do aeroporto de Hong Kong vai nessa direção.
É difícil que a terceira bolsa de valores mais importante do mundo possa tolerar longamente o seu funcionamento sem um aeroporto. Nessas condições, além disso, Hong Kong poderia entrar em colapso com consequências inimagináveis para a China e as finanças globais.
Aqui vemos em ação a velha teoria revolucionária leninista: o pior é melhor, porque abre para a revolução. Depois, se a revolução escancara as portas para a ditadura dos generais ou dos neobolcheviques, isso não importa.
Por isso, Pequim, Washington e os países da região poderiam querer uma acomodação, e os radicais, por sua vez, podem pressionar por um acerto de contas em breve.
Depois, há nisso também o jogo de Pequim. O presidente Xi Jinping está cercado de inimigos prontos para declarar que ele está errando de todos os modos: ele estará errado se ceder às exigências dos manifestantes, e estará errado se os reprimir com a força.
Ao contrário de Deng em 1989, na época de Tiananmen, Xi não tem o apoio de uma velha guarda com as mãos nos gânglios do partido, nem tem o apoio estadunidense, que na época queria manter a China ainda alinhada a si em uma função antissoviética. Visto que a URSS ainda não havia entrado em colapso. Além disso, há cerca de 20 anos, Pequim perdeu a noção daquilo que realmente está acontecendo no mundo e está muito desorientada. Em tais condições, Xi está muito isolado, e é fácil que ele cometa erros. É isso que esperam os seus inimigos, que talvez planejam se livrar dele.
Os jovens radicais de Hong Kong talvez não entendam esses jogos, talvez não se importem com isso, talvez achem que os dominam e talvez sejam dominados por eles.
Seria preciso que todos dessem um passo atrás, que abrissem novos canais internacionais de diálogo franco para remover a iniciativa das mãos dos manifestantes, talvez ingênuos ou cínicos demais. Mas isso está no mundo da razão. A evolução da política real, por sua vez, muitas vezes escapa à razão e precipita no caos.
Os próximos dias serão cruciais para ver se pelo menos é possível dar um passo atrás e ganhar algumas semanas de fôlego para não cair no abismo.
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As apostas de Hong Kong. Artigo de Francesco Sisci - Instituto Humanitas Unisinos - IHU