Uma série de problemas para EUA e China. Artigo de Francesco Sisci

Foto: Settimana News

Mais Lidos

  • Esquizofrenia criativa: o clericalismo perigoso. Artigo de Marcos Aurélio Trindade

    LER MAIS
  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • O primeiro turno das eleições presidenciais resolveu a disputa interna da direita em favor de José Antonio Kast, que, com o apoio das facções radical e moderada (Johannes Kaiser e Evelyn Matthei), inicia com vantagem a corrida para La Moneda, onde enfrentará a candidata de esquerda, Jeannete Jara.

    Significados da curva à direita chilena. Entrevista com Tomás Leighton

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

07 Agosto 2019

“Os EUA podem ter cometido um erro em sua escolha de estratégia para lidar com a China no comércio.”

O artigo é do sinólogo italiano Francesco Sisci, professor da Universidade Renmin, em Pequim, na China. O artigo foi publicado por Settimana News, 05-08-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o artigo.

Para o governo de Pequim, a crise de Hong Kong está ganhando força e está chamando a atenção mundial com suas fortes imagens de jovens manifestantes desafiando policiais vestidos de preto. A greve geral do dia 5 de agosto foi, pelo menos em parte, um fracasso, mas à noite os manifestantes atacaram uma delegacia de polícia dando início a um incêndio. Muitos acreditam que a polícia pode intervir em breve para restaurar algum tipo de paz com consequências insondáveis.

Isso está ofuscando as negociações comerciais EUA-China, que há poucos dias manteve o mundo em suspense com suas enormes implicações. As negociações comerciais não foram bem-sucedidas, e não está claro se e quando haverá algum progresso. O renmimbi [moeda chinesa] subiu para 7 para cada dólar. Aparentemente, a China quer usar a desvalorização da sua moeda para compensar as novas tarifas. A Dow Jones reagiu em queda livre de 750 pontos, a maior queda em 2019.

Na verdade, como Edward Alden argumentou, os EUA podem ter cometido um erro em sua escolha de estratégia para lidar com a China no comércio.

Na verdade, existem três conjuntos de problemas entre os EUA e a China, além da questão da tecnologia da internet que paira sobre os três:

1. Comércio: acesso ao mercado, apoio estatal às indústrias, dumping, dívidas, transparência do mercado financeiro, roubo de DPI [direitos de propriedade intelectual];

2. Direitos humanos e transparência política: liberdade religiosa; direitos das minorias, incluindo muçulmanos e cristãos; mais opacidade política, liberdade para defensores dos direitos humanos, falta de democracia;

3. Estratégico-militar: questões de fronteira com vizinhos, desenvolvimento militar;

4. Ciberespaço: novos desafios de segurança, desenvolvimento tecnológico, 5G e futuro 6G, novas dimensões de negócios e segurança.

Esses problemas são específicos para os EUA e a China. Mas a China não tem só esse tipo de problemas com os EUA. Além disso, esses problemas estão interligados. Até meados de junho de 2018, a China subestimou a importância das negociações comerciais. No entanto, assim que os líderes chineses perceberam a sua importância, Pequim também começou a compreender que o comércio não era uma preocupação isolada, como ocorreu com as discussões comerciais com a Alemanha ou o Japão, mas tinha consequências extensas para as outras áreas listadas acima.

Além disso, há consequências mais graves para o comércio e a economia globais, afetando, assim, a China também. Se a China impedir um acordo, grande parte da atual ordem econômica e comercial cairá e entrará em colapso, já que o desacoplamento comercial da China com os EUA perturbaria todo o comércio global (que está centrado nas regras dos EUA) por causa do tamanho da China. Ou seja, a China se colocaria contra a maior parte do mundo, ou pelo menos contra grande parte do PIB global. Por causa do tamanho do desafio, isso seria muito ruim para a China, enquanto “China contra EUA” já seria muito ruim para Pequim.

A China também não espera ganhar muito mais tempo para se mover de um jeito ou de outro em questões comerciais e outras. As manifestações de Hong Kong têm uma dinâmica própria, e a narrativa, que está além do controle de qualquer governo, poderia obrigar o mundo em breve a escolher o seu lado entre a polícia local e os manifestantes, apropriando-se, assim, do que quer que seja que o governo dos EUA (que é diferente dos EUA em geral) queira conquistar com a China, e vice-versa para o governo chinês. Algo tem que ocorrer rapidamente; algum acordo mínimo sobre o comércio seria melhor, pelo menos jogaria um pouco de água no fogo.

Tudo é ruim para todos – para os EUA, mas especialmente para a China, que tem uma economia menor e está politicamente mais isolada do que os EUA. Talvez Pequim deveria começar a pensar fora da sua caixa tradicional e se concentrar em enfrentar todas essas questões de maneira criativa e em coordenação com o mundo.

Aqui há duas instituições que estão em uma posição mais neutra em relação a ambos os lados: a ONU ou a Santa Sé. A influência da ONU, infelizmente, tem diminuído ao longo dos últimos 30 anos. Enquanto isso, a Santa Sé está ganhando mais credibilidade em todo o mundo. É uma instituição religiosa, mas também é altamente reconhecida por sua autoridade. Ela poderia dar uma mão para encontrar algumas soluções para todos os problemas atuais.

Leia mais